O
Tribunal do Huambo agendou para 30 de março a leitura da sentença do caso
envolvendo nove seguidores e do líder da seita angolana "A luz do
mundo", acusados do homicídio de nove polícias em abril de 2015.
A
informação foi prestada hoje à Lusa pelo advogado de defesa, David Mendes, após
a sessão final do julgamento, de leitura dos quesitos (matéria dada como
provada), que antecede a leitura da sentença.
Neste
processo, o Ministério Público (MP) do Huambo exige a condenação dos dez
homens, enquanto a defesa pediu a absolvição de todos por "insuficiência
de provas".
Durante
o julgamento, o líder da seita e principal visado neste julgamento, José Julino
Kalupeteka, também apelidado de "profeta" pelos seus seguidores e que
advogava o fim do mundo em 2015, recusou a autoria dos confrontos ou de atos de
violência.
"Num
processo como este, muito mediático e com muita interferência política, não
estou a ver a probabilidade de o tribunal absolver por exemplo o Kalupeteka.
Mas há pessoas que ficou muito claro que não tinham nada que ver com o que
aconteceu", disse o advogado David Mendes, em declarações à Lusa.
Kalupeteka,
de 46 anos e detido preventivamente desde abril, é o principal visado dos dez
acusados e está indiciado pela coautoria material de nove crimes de homicídio
qualificado consumado, crimes de homicídio qualificado frustrado e ainda de
desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo.
Os
restantes elementos são visados igualmente por crimes de homicídio qualificado consumado
e frustrado.
Recordando
os quase dois meses de julgamento, David Mendes, da associação de defesa dos
direitos humanos "Mãos Livres", reconhece que o mesmo "começou
de forma muito tensa", mas que foi "acalmando nos últimos dias",
permitindo "mudar" aquilo a "convicção inicial, não só do
tribunal como da sociedade", de "que os indivíduos ligados ao
Kalupeteka teriam sido assassínios convictos".
"Depois
do julgamento a sociedade já tem uma outra convicção e já repara de forma
diferente", apontou o advogado.
A
defesa insiste que não ficou provado que o líder da seita terá desobedecido,
resistido às autoridades ou orientado os seus seguidores a criarem postos de
vigilância para, posteriormente, agredirem os agentes da Polícia Nacional.
Já
o MP concluiu que os atos preparatórios alegadamente verificados antes do
crime, a 16 de abril - confrontos que levaram à morte, segundo a versão
oficial, de nove polícias e 13 fiéis, no Huambo -, os elementos daquela igreja
prepararam machados, facas, mocas para atacar os "inimigos da seita ou
mundanos".
Em
causa estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam
dar cumprimento a um mandado de captura - na sequência de outro caso de
violência na província vizinha do Bié e que também está a ser julgado - de
Kalupeteka e outros dirigentes e alguns dos seguidores que estavam concentrados
no acampamento daquela igreja, no monte Sumi, província do Huambo.
A
defesa alegou anteriormente que na zona dos confrontos estariam cerca de oito
dezenas de adultos, crianças e bebés, tendo a polícia apresentado em tribunal
mais de 80 armas, como mocas e machados, apreendidos no local, suspeitando por
isso da veracidade destas provas.
A
oposição angolana denunciou na altura dos crimes a existência de centenas de
mortos entre os populares, naquele acampamento, e pediu uma investigação
internacional, acusações e pretensão negadas pelo Governo.
A
acusação contra os homens, com idades entre os 18 e os 54 anos, refere que as
mortes dos agentes da polícia resultaram essencialmente de agressões com
objetos contundentes, inclusive paus, punhais e catanas, às quais alguns
polícias responderam com disparos.
PVJ
// PJA - Lusa
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