Mário Motta, Lisboa
“Confiamos
no setor da Justiça em Portugal” é frase que raramente os cidadãos portugueses
dizem. Nem podem fazê-lo, comprovando-o com toda a razão. Basta olhar para a
procissão de criminosos da banca que em dez anos se revelaram ou provocaram
suspeitas da prática de crimes relacionados com as suas atividades. A procissão
desemboca no adro e o que vimos é o triste espetáculo de uma justiça amorfa, dito
à boca cheia pela populaça que é dominada pelos poderes políticos e
financeiros. Em conluio. O que é grave, se assim acontece. Quer parecer que sim.
Mas
se assim não acontece qual a razão plausível para em dez anos não se ver um único
dos altamente suspeitosos criminosos impunes, em liberdade, sem processo concluído?
E porque vimos Dias Loureiro começar a ser investigado para de seguida deixar
de o ser e saber-se, por fuga do lado de elemento da justiça, de que teria
havido muita pressão para que fosse interrompida e arquivada a investigação?
Dias
Loureiro era então membro do Conselho de Estado (nomeado por Cavaco Silva), deixando de o ser pouco
depois. Cavaco era o presidente da República. Dias Loureiro foi afincadamente
ministro de Cavaco Silva, amigo de relações próximas.
Também
Oliveira Costa, igualmente amigo de relações próximas de Cavaco Silva,
ex-secretário de Estado num governo de Cavaco Silva, esteve e está a braços com
a justiça, até esteve preso durante uns meses… Depois, como por obra e graça de
um qualquer santo – talvez o de Belém – tudo está parado e Oliveira Costa anda
por aí nas suas habituais negociatas a fazer pela sua vida e a tramar a vida de
outros (imagina-se sem dificuldade). Oliveira Costa foi quem deu de presente (a preço da uva mijona) a Cavaco e à filha a possibilidade de engrossar as suas poupanças com mais largos milhares de euros nuns "títulos" que num ápice lhes rendeu a tal iguaria financeira. Umas "aplicações" chorudas mas a rir de orelha a orelha para a família Cavaco... Pois.
Pela
pena de Nelson Morais o Jornal de Notícias renova o alerta para aquilo que
todos nós sabemos: a impunidade dos dos poderes é tamanha e escandalosa. Políticos
e ex-políticos miscigenados com os das altas finanças desfilam perante os
nossos olhos sem vergonha e a usufruir de escandalosa impunidade graças a um
setor da Justiça que emana odores a podridão. É o que tem vindo a demonstrar.
Há
os que dizem que um polvo pequenino que nasceu durante o cavaquismo se
agigantou e domina em grande parte a sociedade portuguesa. Se é assim ou não
estamos por ver comprovado. Por enquanto só dispomos de suspeitas. Para agravo
da situação outros polvos existem aqui e ali. Evidentemente que também esses
estamos à espera de ver comprovados Ainda mais depois de sabermos que há
portugueses que recorreram a offshores para fugirem ao pagamento de impostos e…
E o que mais? Para segurarem o que têm roubado por via de expedientes made in
polvos? Os banqueiros! Ah, os banqueiros! Certos políticos! Ah, certos políticos!
A justiça! Ah, a justiça! Essa coisa que é tão forte com os fracos e fraca com
os fortes, por opção e conveniências.
Fiquem
com o artigo, um breve aperitivo que podem ler por completo no JN em papel ou
em epaper. Paguem, porque até para se saber alguma coisa destas coisas temos de
pagar. Adeus mundo, cada vez a pior… Com políticos e banqueiros como esses tais
que andam há dez anos ao colo da justiça, ou da “justiça”? (MM)
Justiça
não concluiu um único processo sobre a Banca
Desde
2008, os contribuintes foram forçados a tapar os buracos de vários bancos
portugueses com mais de 14 mil milhões de euros. E a inédita investida do
Ministério Público sobre a Banca, com a abertura de largas dezenas de
investigações sobre o BPN, o BPP, o BCP e o BES, deu-lhes motivos para
acreditarem que boa parte dos buracos resultava de atos de gestão criminosos.
Contudo,
dez anos depois da abertura do primeiro dos processos-crime, o sistema de
justiça deduziu nove acusações e não tem para amostra um banqueiro ou qualquer
outro responsável na prisão, nem um processo com decisões condenatórias
definitivas, isto é, transitado em julgado.
Na
foto: Oliveira Costa, fundador do BPN, esteve preso preventivamente durante
nove meses – Foto de Helder Almeida Capela / Arquivo
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