Alberto Castro*, Londres – em Afropress
Londres/Reino
Unido - O destaque mundial dado ao êxito do trabalhista Sadiq Khan, que
nas eleições municipais de 5 de maio passado, no Reino Unido, entrou para a
história como o primeiro prefeito (mayor) de Londres originário de uma
minoria étnica (paquistanesa) e religiosa (muçulmana), ofuscou o feito de
Marvin Rees, ex-jornalista e igualmente trabalhista, eleito prefeito de
Bristol, a sexta cidade mais importante da Inglaterra.
Rees,
de 43 anos, filho de um imigrante negro jamaicano e de uma inglesa branca bateu
por margem significativa o carismático independente George Ferguson à frente da
cidade mais populosa do sudoeste da Inglaterra desde 2012, tornando-se o
primeiro negro eleito prefeito de uma importante cidade
européiaeia.
Traçando
um paralelo entre a sua vitória com a de Khan na capital, Rees lembrou que
ambos são políticos de origem familiar modesta que ascenderam à altos postos do
Governo por intermédio do Partido Trabalhista. Ele recordou o árduo passado
vivido com a mãe em um conjunto habitacional onde era uma das raras faces
"castanhas" na cidade, cuja população ronda hoje cerca de 435 mil de
habitantes, sendo cerca de 92% constituída por brancos.
Trajetória
Segundo
o jornal online Bristol 24/7, ter crescido naquele ambiente difícil
com tensões raciais fez com que ele formasse as fundações para suas crenças
políticas.
Mestre
em Teoria Política pela Universidade de Swansea, ele se destacou no final da
década de 1990 como líder comunitário juvenil ligado à organizações cristãs de
combate à pobreza e pela justiça social, tanto no Reino Unido como nos EUA,
casos daTearfund e Sojourners. Ainda nos EUA, obteve em 2.000 um
mestrado em Desenvolvimento Econômico Global pela Universidade de Eastern,
instituição cristã de ensino superior na Filadélfia, Pensilvânia.
De
volta ao Reino Unido, iniciou entre 2001 e 2010, uma curta, intercalada e intensa
carreira como jornalista e apresentador de rádio e televisão na BBC, entre
outros. Afastou-se do jornalismo para trabalhar no Serviço Nacional de Saúde
(NHS, sigla em inglês) como diretor de um programa focado na igualdade racial
no tratamento da saúde mental.
Concomitantemente engajou-se na política através da Operação Voto Negro (OBV, sigla em inglês), um grupo de campanha em favor da justiça racial nascido de um programa nacional criado em 1996 na Câmara dos Comuns para apoiar pessoas de minorias britânicas de origem africana e asiática que aspiram chegar à lideranças na esfera pública.
Foi nessa altura que chamou atenção e se beneficiou do Yale Fellows World, um programa de bolsas de estudo anual da universidade norte-americana de Yale destinado a um grupo entre 16 a 20 pessoas que ao meio de suas carreiras se distinguem como líderes na sua profissão, disciplina acadêmica e áreas geográficas.
Concomitantemente engajou-se na política através da Operação Voto Negro (OBV, sigla em inglês), um grupo de campanha em favor da justiça racial nascido de um programa nacional criado em 1996 na Câmara dos Comuns para apoiar pessoas de minorias britânicas de origem africana e asiática que aspiram chegar à lideranças na esfera pública.
Foi nessa altura que chamou atenção e se beneficiou do Yale Fellows World, um programa de bolsas de estudo anual da universidade norte-americana de Yale destinado a um grupo entre 16 a 20 pessoas que ao meio de suas carreiras se distinguem como líderes na sua profissão, disciplina acadêmica e áreas geográficas.
No
seu segundo regresso ao Reino Unido em 2011, o seu talento e suas
potencialidade políticas não passaram despercebidos ao Partido Trabalhista ao
qual se juntou. Em 2012 foi selecionado para a liderança local do partido como
candidato à mayor de Bristol e derrotou surpreendentemente
correligionários concorrentes bem mais cotados incluindo o líder e o vice-líder
locais do partido e um deputado da sigla no Parlamento de Westminster.
Todavia,
mesmo contando com o apoio da máquina partidária e do então líder Ed Miliband,
Rees terminou em um frustrante segundo lugar atrás do independente Fergurson.
Regressou ao seu trabalho na NHS mas foi novamente chamado para disputar a
nomeação dos trabalhistas ao cobiçado cargo. Desta feita contou com a acirrada
concorrência de Mark Bradshaw, vereador do município bristolense de Bedminster,
a quem venceu tangencialmente.
Contando
com empenhado apoio do líder trabalhista Jeremy Corbyn, a aposta do partido
nele revelou-se a melhor e a prová -la está a margem de cerca de 18% de
vantagem com que ganhou categoricamente do oponente independente que o havia
derrotado em 2012 e que, segundo o Independent, agradeceu ao novo homem
forte da cidade por o "devolver à sua vida normal".
Simbolismo
Mas
porque razão, ou razões, a vitória de Rees se reveste de um simbolismo
histórico particular? A resposta é dada por Simon Woolley, diretor da OBV,
em artigo para o Guardian. Com o título "Triunfo de Marvin Rees
desafia o passado racista de Bristol", ele lembra a história da cidade,
principal porto de escravos da Grã-Bretanha de 1730-45, que emergiu e prosperou
como importante polo comercial na esfera global em função do comércio
internacional de africanos escravizados.
Ela
é igualmente o local de nascimento de Edward Colston, um dos mais conhecidos
proprietários de escravos, cujos ganhos com tal famigerado comércio financiaram
o crescimento da cidade que ainda hoje o homenageia ao manter uma estátua sua e
uma escola com seu nome.
Para
Woolley, o feito simbólico de o descendente de escravizados estar agora a
governar a cidade é uma história de esperança que não pode passar despercebida
e nem ser esquecida. Importante porque, segundo ele, Bristol e sua governação,
tal como algumas outras cidades inglesas, não pode ser compreendida efetivamente
sem ser parcialmente analisada através do prisma da raça.
Note-se
todavia que Marvin Rees que, segundo o Guardian se descreve a si
mesmo como "uma mistura racial e o filho de uma mãe solteira branca",
não é o primeiro afrodescendente a exercer o cargo mayor no Reino
Unido. John Archer (1863-1932) nascido em Liverpool, filho de um negro de
Barbados e de mãe branca irlandesa, eleito na municipalidade londrina de
Battersea em 1913, é frequentemente citado como sendo o primeiro negro chefe do
executivo de uma cidade britânica. Porém, segundo a Wikipédia, esse honroso
título pertence ao médico, cirurgião e político Allan Glayser Minns
(1858-1930), originário das Bahamas, eleito na cidade deThetford, Norfolk, em
1904.
*Alberto Castro é correspondente de Afropress em
Londres e colabora em Página Global
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