O
antigo primeiro-ministro disse numa entrevista à SIC e ao Expresso que o então
chefe de Estado tinha concordado com a cimeira das Lajes. Sampaio esclarece os
contornos dessa conversa com Barroso.
Num
artigo de opinião publicado no jornal Público, Jorge Sampaio começa por realçar as
"diferenças de posição" que tinha com o então primeiro-ministro em
relação a uma intervenção no Iraque.
"A
convicção certa, com que então ficara, de que o Iraque se viria a tornar num
fator de polarização PR versus PM, foi-se adensando", escreve o antigo
Presidente da República, acrescentando: "Para mim, não era menos premente
a necessidade de gerir esta divergência de forma adequada, sem a tornar num
fator de vulnerabilização do funcionamento regular das nossas
instituições".
"Sobre
a Cimeira em si, e o processo que levou à sua realização nas Lajes - e não em
Washington, Londres, Barbados e Bermudas, como terá sido ventilado -, a verdade
é que a literatura internacional lhe dá pouca ou nenhuma importância e não
tendo eu tido conhecimento dos preparativos, pouco posso dizer", continua
Sampaio, recordando um telefonema de Durão Barroso, no dia 14 de março, pedindo
uma reunião de urgência: "Para minha estupefação, tratava-se de me
informar que havia sido consultado sobre a realização de uma cimeira nos
Açores, essa mesma que, nesse mesmo dia, a Casa Branca viria a anunciar para 16
de Março, daí a pouco mais de 48 horas... Não é preciso ser-se perito em
relações internacionais para se perceber que eventos deste tipo não se
organizam num abrir e fechar de olhos; e também não é necessário ser-se
constitucionalista, para se perceber que não cabe ao Presidente autorizar ou
deixar de autorizar atos de política externa".
O
antigo chefe de Estado remata: "Transmiti claramente que tratando-se, como
o meu interlocutor afiançava, de uma derradeira e essencial tentativa para a
paz e evitar a guerra no Iraque nada teria a opor. Em relação a tudo isto,
muito mais poderia recordar, para além da fotografia conhecida que registou um
dos momentos mais gravosos deste século, quer seja sobre o papel de Portugal na
dita Cimeira, sobre as conclusões da mesma ou ainda sobre tudo o que se seguiu
e o início da guerra".
Durão
Barroso disse, em entrevista à SIC e ao Expresso, que consultou Jorge
Sampaio, então Presidente da República, tendo este concordado com a realização
da Cimeira das Lajes, que esteve na origem da invasão do Iraque. "Sim. Foi
a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final. Depois de me
ter sido proposto isso pelos outros países", disse o ex-presidente da
Comissão Europeia.
"Aliás,
na altura, com o apoio do parlamento português e com o apoio do Presidente da
República de Portugal, o dr. Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim,
que concordava. Foi a única pessoa que eu ouvi antes", acrescentou José
Manuel Durão Barroso numa entrevista que foi publicada na revista E do jornal
Expresso e também divulgada pela SIC.
A
16 de março de 2003, reuniram-se na ilha Terceira, na base das Lajes, nos
Açores, o Presidente norte-americano, George W. Bush, o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair, o primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, tendo
sido recebidos pelo então primeiro-ministro português, Durão Barroso.
A
reunião, conhecida como Cimeira das Lajes, levou, quatro dias depois, na
madrugada de 20 de março, ao início da intervenção militar no Iraque.
Bárbara
Baldaia com Lusa, em TSF – Foto: Steven Governo / Global Imagens
Sem comentários:
Enviar um comentário