Seis
pessoas fuziladas e queimadas no centro de Moçambique, sobreviventes afirmam
que atacantes são das forças governamentais
Seis
pessoas, cinco moçambicanos e um natural do Bangladesh, foram mortas a tiro e
os seus corpos posteriormente carbonizados na passada sexta-feira(12) na
localidade de Nangué, no distrito de Cheringoma, na província central de
Sofala. “Os homens armados da Renamo interpelaram essa viatura e os seus
ocupantes e levaram à cabo estas acções bárbaras” disse o porta-voz da Polícia
da República de Moçambique(PRM) em Sofala todavia dois sobreviventes afirmara
que os actos foram protagonizados por militares e agentes da PRM.
Poucas
horas após a descoberta dos cadáveres carbonizados o porta-voz do Comando da
PRM na província de Sofala, Daniel Macuácua, afirmou à imprensa que a viatura,
que também foi incendiada, fazia o trajecto entre os distritos de Marromeu e Caia
quando foi interpelado por um grupo de homens armados do partido Renamo.
Para
corroborar a sua rápida investigação a polícia relacionou a proximidade do
local onde aconteceu o fuzilamento e incineração dos corpos com outra
localidade, Chissadze 2, onde há cerca de uma semana outra viatura, de uma
instituição governamental, foi atacada e também incendiada alegadamente por
homens do partido liderado por Afonso Dhlakama.
“Mandaram
fazer uma fila dos moçambicanos e começaram a fuzilar um por um”
Contudo
dois cidadãos que sobreviveram ao fuzilamento da passada sexta-feira(12)
revelaram que os homens que os interpelaram e depois os tentaram assassinar são
membros das Forças de Defesa e Segurança.
“Quando
chegamos no rio os homens da polícia mandaram parar o carro, controlaram os
nossos documentos, tiramos, e então disseram é preciso ficarem aqui à espera do
comando distrital que quer conversar convosco. Disseram sobe lá no carro, eles
tinham o carro deles, pequeno de quatro portas. O nosso carro eles disseram estou
a pedir as chaves, motorista levou chave entregou. A partir daí só subimos no
carro deles (polícia), tinha uma lona fora, e mandaram-nos dormir ali sete
pessoas. Andamos uma distância muito longa, eu não estava a ver bem ali porque
estávamos lonados (cobertos pela lona) e dali chegamos num sítio e pararam.
Conversaram, conversaram entre eles, esse chefe com os soldados dele. Daí
começaram a tirar-nos dentro do carro um por um e a fuzilar ali mesmo, um por
um a tirar do carro e a matar ali mesmo com arma. Quando me tiraram eu saltei e
comecei a correr, deram-me bala daqui (zona lombar) veio furar aqui em frente,
caí numa mata e dormi aí mesmo” declarou ao canal televisivo STV um cidadão
moçambicano que falou em anonimato a partir de uma unidade sanitária onde
recebia cuidados médicos.
Um
outro sobrevivente, um comerciante originário do Bangladesh, também
entrevistado com a identidade protegida pelo canal de televisão privado STV,
declarou que “Levaram-nos para o mato, tiraram os moçambicanos para fora e mandaram
fazer uma fila dos moçambicanos e começaram a fuzilar um por um”.
“No
fim os dois moçambicanos que restaram tentaram fugir mas levaram tiro, perderam
sentidos e desmaiaram então os militares como agentes da PRM convictos que já
morreram deixaram lá eles e vieram fuzilar a nós, eu e o meu amigo. Quando
militar pegou-me, por trás, como eu estava de casaco, conseguir empurrar aquele
agente militar e fugir. Empurrei a ele e comecei a fugir, começaram a disparar,
só que eu não estava a correr recto estava a correr a desvios, então consegui
escapar, entrei no mato até conseguir apanhar alguém”, concluiu o sobrevivente
que disse ainda temer pela sua vida pois estará a ser procurado pelos seus
algozes.
Propaganda
optou agora "por essa de invasão de hospitais”
Desde
que recomeçou a guerra entre as forças governamentais e os guerrilheiros do
partido Renamo, há cerca de um ano, vários tem sido os incidentes e ataques à
alvos civis que a PRM em tempo recorde atribui aos homens de Afonso Dlakhama
não havendo provas nem evidências de investigações terem sido realizadas.
Segundo
António Muchanga, o porta-voz do partido, "não há provas" de que os
tiros que na semana finda atingiram viaturas da Televisão de Moçambique (TVM) e
Rádio de Moçambique (RM) em Manica foram disparados por homens armados da
Renamo.
“É
forçado atribuir o ataque à Renamo, porque podem (os jornalistas) também ter
sido atacados pelas Forças de Defesa e Segurança” disse ainda Muchanga
acrescentando que a Renamo não ataca pessoas de bem.
Através
da sua publicação oficial “A Perdiz”, na edição do dia 11, o maior partido de
oposição refuta outros ataques que lhe têm sido atribuídos pelas autoridades
governamentais.
“Nos
últimos dias têm sido recorrentes as informações provenientes da propaganda da
Frelimo em diversos cantos do País, de que homens armados da Renamo assaltaram
uma vila e saquearam medicamentos nas unidades sanitárias locais”.
“Segundo
a propaganda frelimista que inclui a polícia, os homens armados que eles dizem
ser da Renamo, quando escalam às vilas, roubam medicamentos. Raramente se
reporta o roubo de comida por tais “homens da Renamo”, como se a comida fosse
menos importante que os tais medicamentos” afirma o boletim informativo.
“Depois
de falhada a propaganda de que a RENAMO estaria a atacar viaturas civis, quando
na verdade transportavam militares, agora optou-se por essa de invasão de
hospitais” acrescenta em editorial a publicação que estamos a citar.
Recorde-se
que membros das Forças de Defesa e Segurança entrevistados pelo @Verdade
revelaram a existência de unidades de elite que têm como missão a eliminação de
homens do partido Renamo, sejam militares ou civis.
Um militar declarou que as forças governamentais usam
“carros com escritas MISAU (abreviatura do Ministério da Saúde). O comandante
(nome omitido) requisitou ambulâncias para se poder entrar naquelas picadas e
até máscaras”, para parecer que “somos da saúde”. “As escolas também são
destruídas, para dizer que é a Renamo” acrescentou a fonte.
“A
Força de Intervenção Rápida é que queima escolas, se não sabiam. Nós quando
íamos atacar, quando entrávamos numa aldeia, começávamos a disparar de um lado
para o outro, e todos fugiam. O comandante ligava e dizia que “os homens da
Renamo fizeram isto aqui”, e logo vinham ordens superiores a dizer “destruam
isso aí”, declarou um agente da PRM que pertence a uma unidade de elite e
participou em mais do que uma missão que tinha o objectivo de eliminar
fisicamente o presidente do partido Renamo.
Enquanto
isso o diálogo político continua em impasse na capital do País.
@Verdade
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