Pedro
Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião
Os
efeitos da conjugação da globalização económica com a desregulação financeira
internacional ativamente promovida por Washington e adotada como ortodoxia
pelas instituições da União Europeia provocaram a desqualificação da vontade
democrática e a degradação da soberania interna dos estados, conduzindo à
crescente subordinação do mundo da política aos interesses e à lógica da
ciência económica. Não sou economista e, por uma questão de princípio, não me
permito opinar sobre matérias que desconheço ou de que não tenho conhecimentos
suficientes para analisar dados, questionar metodologias, avaliar a pertinência
dos respetivos postulados e extrair conclusões supostamente científicas.
Seria
lógico esperar igual prudência e sobriedade da parte dos economistas que se
pronunciam sobre questões que não dominam suficientemente ou que conhecem
apenas na perspetiva estrita do saber económico. Contudo, este padrão de
elementar seriedade académica não é confirmado pelo exuberante entusiasmo com
que um significativo setor de comentadores de assuntos económicos se atirou aos
índices do modesto desempenho da economia portuguesa agora divulgados pelo
Instituto Nacional de Estatística. Um entusiasmo que se revela em estranha
sintonia com o mote escolhido para a Festa do Pontal que marcou, neste fim de
semana, o regresso de férias do principal partido da oposição, responsável pelo
Governo anterior.
O
mote é este: a produção de riqueza, em Portugal, está a crescer muito
lentamente e, pior ainda, a um ritmo que esmorece, continuadamente, desde março
do ano passado! Em março de 2015, convém recordar, o chefe do Governo que iria
perder as eleições em outubro anunciara o fim da austeridade e invocava esses
frágeis indícios de aceleração económica como prova da inversão do ciclo de
degradação da situação económica do país e a demonstração do sucesso das suas
políticas de austeridade, duramente aplicadas ao longo de uma legislatura
inteira. É bom de ver que nenhuma correlação pode ser estabelecida entre o
pretenso sucesso das políticas de austeridade aplicadas ao longo de uma legislatura
inteira e os índices económicos relativos ao primeiro semestre de uma
governação que se propôs exatamente demonstrar a viabilidade de uma alternativa
às opções políticas que o Governo anterior executou. Infelizmente, logo em
agosto do mesmo ano, os dados publicados pelo INE desmentiam o triunfo
reclamado por Passos Coelho, mas nem por isso arrefeceram a sua euforia
eleitoral que se prolongou até à tomada de posse do novo Governo.
Noutras
longitudes e com propósitos muitos diversos - comentando o programa de Hilary
Clinton para as eleições presidenciais americanas - Paul Krugman, no "New
York Times" de terça-feira, entrega-se a uma reflexão que devia merecer a
melhor atenção dos nossos comentadores domésticos de economia! Interrogando-se
acerca do que sabemos sobre os ciclos de crescimento económico, constata,
conforme os dados oficiais, que não existem variações significativas no ciclo
de crescimento estável que começou com Ronald Reagan e terminou com Bill
Clinton, nem no ciclo de desaceleração do crescimento que foi inaugurado por
George W. Bush e que se mantém até ao final do mandato de Barack Obama. E
conclui o óbvio: "Esta história sugere que não há atalhos para mudar as
tendências".
Mas
Paul Krugman vai mais longe nas suas conclusões e afirma: "Quando os
conservadores prometem taxas fantásticas de crescimento económico, como na era
de George W. Bush, o que pretendem é esconder quantos programas sociais vão
suprimir para pagar as reduções de impostos". E quando desprezam as
questões da igualdade e da distribuição da riqueza em nome do crescimento
económico, "o que pretendem realmente é evitar as questões políticas que
efetivamente nos dividem". E digo eu, resignado à minha
*Deputado
e professor de direito constitucional
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