Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
"Esperamos
que o que seja preciso e o que é difícil seja menos do que aquilo que podemos
fazer porque podemos fazer mais do que aquilo que é difícil, podemos também
fazer o que é necessário". Perceberam? Foi assim o discurso de Passos
Coelho na rentrée no PSD: confuso e fastidioso, apesar do habitual tremendismo
quanto ao futuro do Governo e do país.
Entramos
no décimo mês deste Governo e já perdemos a conta aos apocalipses anunciados
por Passos. Ele era porque o PS nunca se entenderia com Bloco, PCP e Verdes
para formar Governo, depois porque Governo sim, mas Orçamento nunca, afinal
Orçamento está bem, mas PEC nem pensar, e com o PEC aprovado as sanções é que
poriam fim a isto tudo. Passos bem chama por ele, mas o raio do Apocalipse
teima em não vir, e lá se vão as esperanças de um retorno do PSD ao poder.
Porque é só disso que se trata, não é?
Largá-lo
foi traumatizante e o regresso está difícil. Compreende-se porquê. Para
regressar seria preciso ser oposição e ter alternativa. O PSD falha em ambos.
Mas,
de facto, que oposição pode o PSD fazer? Veja-se o discurso de Passos no
Pontal. Fala-nos de pobreza e desigualdade. Então, mas não existiam ambas há 10
meses? E não foi o próprio que disse iríamos empobrecer? Fala-nos da
necessidade de proteção social. Então, mas não foi o PSD que cortou nos apoios?
E não foi o PSD que votou contra os aumentos desses apoios? Fala-nos sobre
empurrar com a barriga. Então, mas não foi o Governo de Passos que escondeu os
problemas do Banif e do Novo Banco? Fala-nos sobre ética governativa. Mas o
ídolo empresarial de Passos não é Dias Loureiro? E Maria Luís Albuquerque e
Paulo Portas não arranjaram belos empregos no privado apenas por causa dos seus
cargos governativos?
E
a alternativa do PSD, qual é? Menos rendimentos, mais privatizações, cortes nas
pensões e segurança social privada, horários de trabalho mais pesados. A
alternativa é o alinhamento com o radicalismo de Bruxelas e o empobrecimento
com base na ideia falida de que a austeridade melhora as economias. Veja-se a
Europa como está.
Quando
as possibilidades de uma oposição decente são minadas por um passado demasiado
recente e a alternativa política é indizível, a única saída é mesmo desejar uma
catástrofe que teima em não chegar.
*Deputada
do BE
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