POTENCIAR
TODO O CONHECIMENTO, INTELIGÊNCIA E SABEDORIA SOBRE A VIDA, É GARANTIR A VIDA!
Martinho Júnior, Luanda
1
– Comecei este ano lançando o alarme para a necessidade de Angola se preocupar
imediatamente com a instauração duma “Geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável”, em coordenação com o camarada Arrim Tachon que na
cidade de Moçâmedes em Janeiro de 2016 assistia a uma conferência relacionando
o ambiente e o ecoturismo.
Já
em 2012 me havia preocupado em abordar este assunto, conforme a série “A
lógica com sentido de vida”, chamando inclusive a atenção para Cuba, que com
sua identidade povo-revolução havia conseguido equacionar como prioridade o
cuidado para com o ambiente e para com todas as criaturas que faziam e fazem
parte das espécies vivas nacionais, um esforço inteligente e geoestratégico que
hoje é reconhecido como exemplo pelas instituições internacionais que reflectem
sobre este tipo de assuntos tão essenciais ao homem e ao planeta.
Esta
é uma preocupação muito sensível em relação à cultura da vida no planeta, que
se está a tornar uma preocupação flagrante também em Angola por não atrair a atenção
nacional ao nível das exigências, até por que tem implicações multifacetadas na
formulação da identidade nacional, na gestão a muito longo prazo dos nossos
recursos, na elaboração de programas antropologicamente adequados às imensas
potencialidades existentes no território angolano, particularmente em relação
ao espaço vital e à água interior, ela própria componente vital até do próprio
organismo humano!
As
respostas nacionais situam-se numa base de conhecimentos empíricos não
integrados e os organismos do estado têm-se manifestado vocacionados de forma
limitada para o aproveitamento de iniciativas que implicam investimentos
incentivados a partir do exterior (como por exemplo o plano KAZA-TFCA, Área
Trans Fronteiriça de Conservação do Kavango-Zambeze), que naturalmente em
função dos capitais que agregam, impedem a atenção urgente em prol da
planificação geoestratégica nacional em relação à fulcral região central das
grandes nascentes, atirando-a para uma gaveta de esquecimento e inibição
empírica e nada patriótica.
2
– Estando instaladas tantas instituições de ensino médio e superior por todos
os recantos do país, essas instituições estão diminuídas em quase todos os
quesitos de investigação necessários para se gerar o incentivo dessa potencial “Geoestratégia
para um desenvolvimento sustentável”, por que os poucos trabalhos limitados que
se fazem não obedecem a uma integração que tenha o estudo físico-geográfico
referente à água interior no centro das atenções, o que por tabela se torna
insuficiente para a abordagem antropológica nos termos da relação homem-espaço
físico-ambiente!
Para
que isso fosse feito, seria também prioritário o conhecimento investigativo
cientificado da região central das grandes nascentes, que coincide com o centro
geográfico do país, de forma a melhor equacionar a integração de disciplinas,
métodos de estudo e processos de investigação, desde logo no lançamento dessa
orientação “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”.
Os
Ministérios do Ambiente, Energia e Águas, Geologia e Minas, Educação, Saúde,
Cultura e Administração do Território, deveriam formar uma unidade técnica de
estudo, que seria o embrião que iria debruçar-se sobre como formular essa
geoestratégia, que organismos e entidades agregar, que processos de integração
se deveriam estimular como prioritários, a curto, médio, longo e muito longo
prazos, mas os primeiros passos recaem necessariamente na responsabilidade do
Ministério do Ambiente, algo que seria, muito bem recebido pela sua Ministra
camarada Fátima Jardim, ela própria uma pessoa reconhecidamente empenhada e
activista por vocação nesse tipo de assuntos.
Julgo
que o Ministério do Ambiente deve elaborar estudos e propostas a fim de se
controlar imediatamente cada nascente principal na região central das grandes
nascentes, não esquecendo os lençóis subterrâneos de água interior,
estabelecendo áreas reservadas ou mesmo parques nacionais (à semelhança por exemplo
da Reserva Natural Integral do Luando, um dos principais afluentes da margem
direita do rio Cuanza e fazendo parte de sua bacia), tendo em conta que há
ainda espaços vitais com enorme biodiversidade a delimitar por parte desse
Ministério.
3
– Nesta passagem que da minha parte marca um dos assuntos que estou em curso de
abordar comemorando o 41º aniversário da independência nacional, preocupa-me as
implicações da necessidade da integração dos processos inteligentes relativos
ao conhecimento do território em todas as suas implicações científicas, não só
para a formulação da geoestratégia indexada à expressão físico-geográfica da
água interior a fim de desenvolver o país sempre com sustentabilidade, mas
também para programar acções de intervenção ali onde é muito reduzida a
ocupação do território pelo homem e começar a abordar questões integradas de
segurança humana preventiva, tendo em conta que a água interior e a ocupação
dos espaços vitais, são factores que estão intimamente associados ao surgimento
de conflitos em África de há séculos a esta parte (que por seu turno foram
agravados após a divisão colonial da Conferência de Berlim).
Os
conflitos que integram os factores de ocupação vital do território e acesso à
água interior, existem de há séculos e não é apenas uma questão que se porá no
futuro, conforme pretendem fazer crer os interesses que olham África com sede
de rapina e por vezes de sangue, impedindo que ela progrida no conhecimento
científico do seu próprio homem e do seu próprio ambiente físico-geográfico!
Essas
questões estão também intimamente associadas às necessidades de, tirando
partido da paz e da harmonia, assim como das políticas de reconstrução
nacional, reconciliação e reinserção social, se estabelecer um quadro
inteligente de acção no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento, dando
logicamente sequência aos imensos esforços da luta de libertação em África, explorando
vínculos na trilha geoestratégica que proponho!
4
– Todo esse tipo de abordagens integradas na “Geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável”, seriam também introdutórias nas abordagens que se
devem fazer em relação aos Grandes Lagos (uma das maiores preocupações externas
do camarada presidente José Eduardo dos Santos), inclusive nos termos da
prevenção de conflitos.
Nos
Grandes lagos, o espaço vital começa a ser cada vez menos disponível em função
das pressões humanas migratórias, uma vez que a expansão de desertos (Sahara e
Sahel), obriga por si à deslocação de cada vez mais comunidades.
O
espaço vital e a oportunidade de acesso à água na região fulcral do continente
que constitui a Região dos Grandes Lagos (Vitória, Tanganika, Malawi, entre
outros e nascentes principais do Nilo, do Congo e do Zambeze) são factores
intimamente associados à causa e gestação dos conflitos bem no centro
geográfico de África, algo que impede a adopção de capacidades de luta contra o
subdesenvolvimento, desde logo instalando uma geoestratégia de âmbito
continental para um desenvolvimento sustentável.
Será
impossível equacionar-se um renascimento africano, se esses factores e aspectos
não integrarem vocações em prol duma ampla geoestratégia e mobilização no quadro
das inteligências disponíveis nos diversos países africanos, algo que deveria
ser precisamente similar àquela que se deve priorizar para o esforço patriótico
angolano.
Enquanto
África não conseguir conhecer-se cientificamente a si própria, o empirismo que
isso provoca coloca o continente à mercê do caos, do surgimento de agrupamentos
rebeldes e até do terrorismo, que não se reduz apenas aos termos de
desagregação, vulnerabilização, manipulação, gestação de tensões, conflitos e
guerras que têm afectado a vida continental, mas também impedem num círculo
vicioso a fermentação de culturas na trilha do concerto indispensável
propiciado por uma geoestratégia para o desenvolvimento sustentável de forma
ampla e integrada.
Conhecer
cientificamente a vida no continente por parte dos próprios africanos, é
alicerçar a base que vai garantir que o homem não fique mais atolado no pântano
do subdesenvolvimento crónico e histórico para onde tem sido relegado e isso é
vital para um exercício saudável, pacífico e harmoniosa de todas as actividades
humanas na Terra!
As
políticas de paz e harmonia do presidente José Eduardo dos Santos têm tudo a
ver com isso, pelo que aprofundar essa trilha é vital para Angola e para
África!
Em
saudação ao 11 de Novembro de 2016.
Imagens: Mapa
de Angola e mapa de África: a água interior do continente e os espaços vitais
disponíveis, são fulcrais para instalar os processos conducentes a uma
geoestratégia capaz de levar Angola e o continente ao desenvolvimento
sustentável, indispensável e urgente plataforma garante de vida para as futuras
gerações e para a riquíssima biodiversidade angolana e continental.
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