Noam
Chomsky é um autor extremamente prolífico e, actualmente, uma presença
incontornável que não pode ser ignorada por nenhum estudioso sério de
Geopolítica e Relações Internacionais, a sua obra mais recente de estudos
acerca dos efeitos globais das intervenções externas do imperialismo
estadunidense já se encontra nas livrarias portuguesas: "Quem Governa o
Mundo?" (352pp.; 17,50€; Editorial Presença, 2016).
Flávio
Gonçalves
Este
minucioso volume não só reúne a sua análise mais recente, até finais de 2015,
como documenta exaustivamente, nas suas notas de rodapé e bibliografia, a
mentalidade, a doutrina e as acções que transformaram os Estados Unidos da
América na única hiperpotência mundial.
Nesta
obra Chomsky desenterra documentação e factos pouco conhecidos (ou mais
correctamente, pouco noticiados) acerca do papel desempenhado pelos serviços
secretos americanos um pouco por todo o mundo, com destaque para a América do
Sul e para o Médio Oriente, mas sem olvidar o Laos, o Vietname e inclusivamente
a Europa, alertando que mesmo algumas das personalidades que têm denunciado a
ingerência global da política norte-americana, como Jimmy Carter, acabam por
incluir nessa denúncia a sua "adesão a fabricações doutrinárias úteis"
da doutrina que denunciam.
Chomsky,
ainda professor emérito no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT),
rastreia muitos dos problemas do mundo actual ao triunfo da visão capitalista e
neo-liberal que o império americano conseguiu impor desde o final da Segunda
Guerra Mundial como "normal" e até, afirmamos nós, como sendo o único
mundo possível, incluindo aqui até a mais recente descrença generalizada para
com a democracia: "a debilitação da democracia em exercício é um dos contributos
do ataque neo-liberal à população mundial durante a última geração. E isto não
está a acontecer apenas nos EUA: na Europa, o impacto poderá ser ainda
pior" referindo-se ao fenómeno Donald Trump e ao crescimento eleitoral dos
populismos em solo europeu como sintomas mais recentes desta maleita.
O
papel crucial que Israel ocupa em muitas das políticas dos vários governos do
Tio Sam, sejam eles Democratas ou Republicanos, é também alvo de crítica
minuciosamente documentada. A principal denúncia passa pelo incómodo facto de
terem conseguido consolidar, junto da opinião publicada e da política mundial,
que quando os seus inimigos agem o fazem por pura maldade e desejo de matar,
mesmo quando se trata de algum acidente, já os EUA e Israel "enquanto
sociedades democráticas que são, não o fazem por intenção", mesmo quando
elegem intencionalmente alvos civis como escolas primárias, infantários ou
hospitais, "não podem ser colocados no nível de depravação moral" dos
seus adversários.
Uma
obra de leitura obrigatória, principalmente nos dias que correm e em todo o
lado já se ouve o ressoar dos tambores de guerra contra a Rússia.
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