A
construção da barragem de Moamba Major, financiada pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Económico do Brasil (BNDES), está viciada de ilegalidades: não
tem visto do Tribunal Administrativo(TA) e o Grupo Andrade Gutierrez, que
executa as obras, foi contratado por ajuste directo. Ademais a construtora
brasileira ganhou o negócio garantindo que a empresa Infra Engineering
Mozambique, de influentes membros do partido Frelimo, participaria do
consórcio.
A
barragem que está a ser erguida no rio Incomati deverá garantir o fornecimento
pleno de água para as cidades de Maputo, Matola e Boane, contribuirá para o
controle de cheias e ainda vai produzir energia eléctrica.
Todavia,
de acordo com o Relatório sobre a Conta Geral do Estado(CGE) de 2015, “Foi
executado sem o visto obrigatório do TA, o contrato celebrado pela
Administração Regional de Águas do Sul, através da Direcção Nacional de Águas,
no montante de 466.351.279,13 dólares americanos, para a construção da barragem
de Moamba Major e obras conexas”.
O
Tribunal que fiscaliza as contas do Executivo aponta como outra violação da lei
o facto de, “na contratação, foi aplicada a modalidade de ajuste directo sem a
devida fundamentação, preterindo-se o disposto na artigo 113 do Regulamento de
Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação
de Serviços ao Estado, aprovado pelo decreto nº 15/2010, de 24 de Maio, que determina
as circunstâncias em que esta modalidade pode ser aplicada”.
“É
de referir que o regime geral de contratação de empreitada de obras públicas é
o concurso público, nos termos do estabelecido no artigo 7 do mesmo
regulamento”, acrescenta o Relatório do Tribunal Administrativo.
Andrade
Gutierrez obrigada a parceria com empreiteira de Fernando Sumbana Júnior,
Tobias Dai e Raimundo Pachinuapa
Mas
a construção desta infra-estrutura está também viciada de compadrio. As obras
estão a ser executadas por um consórcio de empresas que é encabeçado pelo Grupo
Andrade Gutierrez e que participou activamente na viabilização do financiamento
com o compromisso do Governo de Moçambique, na altura dirigido por Armando
Guebuza, que ganharia o negócio.
Uma
reportagem da revista brasileira Época, citando correspondência da embaixada do
País em Moçambique, indica que em 2013 o Executivo moçambicano declarou que a
obra da barragem de Moamba Major só seria adjudicada ao Grupo Andrade Gutierrez
se o financiamento do banco brasileiro fosse disponibilizado também com
flexibilização das garantias bancárias.
“Haveria
indícios de que o Brasil perderia o projecto para empresas de outros países se
a questão do financiamento pelo BNDES não pudesse ser solucionada”, informa uma
mensagem da embaixada brasileira em Maputo dirigida a Brasília.
O
financiamento de 350 milhões de dólares norte-americanos, por parte do BNDES,
para a construção da barragem está a ser investigado no Brasil no âmbito da
maior operação contra corrupção, a Lava Jacto.
Aliás
um antigo funcionário do Grupo Andrade Gutierrez em Moçambique disse às
autoridades policiais no Brasil que houve favorecimento para a construtora
brasileira com a condição de também beneficiar a uma empreiteira moçambicana de
importantes membros do partido Frelimo.
“Quando
questionado sobre transacções ilícitas da Andrade Gutierrez naquele país,
respondeu que numa obra, por meio do sr. Bengala (uma espécie de lobista), a
empresa tinha conseguido um contrato, tendo como condição a subcontratação da
Empreiteira Infra (de propriedade de uma general)”, disse ele à Polícia Federal,
segundo o jornal brasileiro Estadão.
O
delator brasileiro referia-se a empresa Infra Engineering Mozambique que, entre
os anónimos que a compõem, pertence ao antigo ministro do Turismo, Fernando
Sumbana Júnior, ao antigo ministro da Defesa e cunhado de Armando Guebuza,
Tobias Dai, e ainda ao veterano da Luta Armada, o General Raimundo Pachinuapa.
O
Relatório do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do Estado(CGE) de 2015
apurou ainda que não foram encaminhados à Direcção Nacional de Contabilidade
Pública, “para efeitos de contabilização no e-SISTAFE, os processos de
prestação de contas do projecto de construção da barragem de Moamba Major, no
montante de 64 milhões de dólares norte-americanos”.
Adérito
Caldeira - @Verdade
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