O
regulador norte-americano dos mercados financeiros (SEC) está a investigar o
pagamento de 350 milhões de dólares pelas petrolíferas BP e Cobalt à Sonangol
para a construção de um centro de pesquisa que, cinco anos depois, está ainda
em planeamento.
A Global
Witness diz que, em Angola, desapareceram centenas de milhares de dólares em
pagamentos feitos por consórcios petrolíferos à Sonangol, alegadamente para
financiar um centro de pesquisa… que não existe.
O
alerta foi dado pela organização Global Witness, que combate a corrupção no
sector da exploração de recursos naturais. Esta organização internacional segue
com atenção há vários anos os pagamentos para projectos sociais efectuados por
companhias como a British Petroleum, ou BP, e os seus parceiros, incluindo a
norte-americana Cobalt, no âmbito de negócios cm o regime de Angola.
“Os
consórcios concordaram em doar 350 milhões de dólares para um projecto chamado
‘Centro de Pesquisa e Tecnologia’ da petrolífera angolana Sonangol”, explica o
especialista para assuntos angolanos da Global Witness, Barnaby Pace. Durante
muito tempo, a organização tentou encontrar o centro, mas “nem a BP, nem a
Cobalt nem a Sonangol nos mostraram qualquer prova de que ele existe.”
Segundo a Global Witness, apenas a britânica BP respondeu sequer às indagações, afirmando que o centro ainda estaria em fase de planeamento. Isto, apesar de já ter sido efectuado o pagamento de uma grande parte da soma. O facto de não se saber onde foi empregue o dinheiro desperta suspeitas de que tenha sido desviado, diz Barnaby Pace.
“O
povo angolano não tem como verificar o que aconteceu a esta enorme soma de
dinheiro”, afirma o especialista. “Não há provas de que se trate de corrupção.
Mas o que é grave é que, neste caso, os pagamentos só foram tornados públicos
porque a Cobalt foi obrigada a publicar todos os seus contratos por estar
cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque”.
Barnaby
Pace pergunta: Quantas outras empresas estarão a fazer pagamentos idênticos dos
quais o público nada sabe?
Para
a Global Witness, é óbvio que as novas leis anticorrupção nos Estados Unidos da
América e na Europa, que obrigam as empresas a maior transparência, devem ser
rapidamente implantadas, para proteger os interesses de cidadãos em países como
Angola, mas também dos investidores nestas empresas.
Não
é, no entanto, o entendimento de muitas multinacionais, que, sobretudo nos
Estados Unidos, tentam travar a implantação através de processos jurídicos.
O
especialista da Global Witness diz que esta actuação dos consórcios vai
evidentemente contra os seus próprios interesses. “Sobretudo as empresas que
trabalham em países com regimes altamente cleptocráticos devem preparar-se para
a eventualidade desses regimes caírem. E nessa altura as empresas que não são
limpas correm o perigo de ser expulsas”, comenta Barnaby Pace.
Por
enquanto, em Angola, o risco de uma empresa ser expulsa por práticas opacas e
duvidosas é muito remoto. A norte-americana Cobalt, por exemplo, está sob
investigação das autoridades do seu país desde 2011 por suspeita de negócios
ilícitos com uma empresa angolana, propriedade de funcionários do estado e
governantes, incluindo o actual vice-presidente, Manuel Vicente.
“Na
altura, ele era o presidente da Sonangol, mas detinha uma participação secreta
na empresa em questão”, lembra o especialista da Global Witness: “É por isso
que insistimos tanto na necessidade de transparência total no que toca à
propriedade das empresas, sobretudo nas indústrias extractivas. Só assim se
saberá quem beneficia dos contratos e só assim se poderá lutar contra a
corrupção”.
Folha
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