quinta-feira, 9 de março de 2017

AO PSD CABE RETIRAR PASSOS COELHO DA LIDERANÇA


Sobre o que se passou no parlamento no dia de ontem já estamos conversados. Mais em baixo tem a opinião de Carlos Tadeu em prosa extra Expresso Curto. É evidente que este assunto tem a abordagem de Valdemar Cruz no dia de hoje e abre o Curto. Depois vai por aí e por acolá, mas sobre o CDS e o PSD, que ele refere, nada é de estranhar porque até dá ideia de serem partidos dos anos 70, repletos de ressabiamentos do passado longínquo e do de há apenas ano e meio. CDS e PSD configuram os partidos dos retornados dos anos 70 e um pouco dos anos de 80. Vendo bem compreende-se. Cristas veio criança ou pré-adolescente de Angola e Passos Coelho idem, já para não falar do “cérebro” Miguel Relvas, do PSD. Aquelas mentalidades não evoluíram como o fizeram os que retornaram das ex-colónias, que se adaptaram, integraram e contribuíram em grande parte para o progresso empresarial de Portugal. Outros revelaram-se produtivos trabalhadores. Foi um bem que retornou a Portugal. Mas Cristas e Passos ficaram agarrados a recordações eivadas de “soberania” sobre os desgraçados que eram explorados e oprimidos nos seus próprios países por via do colonial-fascismo. São pessoas doentes, inadaptadas à democracia ao justo. Por isso infringem regras ou tentam fazê-lo por princípio. Até parece que nem eles dão por isso. Passos Coelho, esse, então, é uma lástima. Viciado em manipular, em mentir com todos os dentes que tem e ainda com o maior dos descaramentos. Um Chico-Esperto que usou e abusou da ingenuidade dos portugueses numas eleições em que foi o festivaleiro da mentira, da manipulação. Ele é mesmo assim. Por isso, ele e ela (muito mais ele) querem voltar a apossar-se dos poderes e fazer dos que governam escravos, ao estilo do que viram nas suas infâncias. Só pode ser isso o que os move tão doentiamente (muito mais em Passos). Uma doença muito perniciosa. Deviam tratar-se nas termas da democracia e saber que – queiram ou não – “o povo é quem mais ordena” em democracia. Não sendo assim, não é democracia. Que se lembrem: de negreiros estamos fartos. E de mentirosos também. Passos rebentou com a escala da nossa tolerância nisso de usar a mentira como verdade. Coisa que ainda o faz, parece que desta vez sem êxito. Ao PSD, principalmente, cabe pensar em retirar da liderança Passos Coelho e fazê-lo rapidamente. A sua credibilidade está em causa. Siga para o Expresso Curto com Valdemar Cruz, com a espuma que se impõe. Tenham um bom dia. MM / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Valdemar Cruz – Expresso

Já não há pessoas

O momento mais perturbador do acalorado, por vezes excessivamente dramatizado, do debate parlamentar de ontem não residiu nas indignações verbalizadas por Passos Coelho ou Luís Montenegro, muito menos nas acutilantes respostas de António Costa. Na sequência do caos palavroso instalado, sobressai em dado momento a voz de Catarina Martins a denunciar a perfídia dos jogos florentinos contidos naquela voragem de teatralizar a discussão à volta de tudo, que é a melhor forma de não discutir nada, muito menos a vida das pessoas. Esse é o paradoxo maior, quando se constata ser hoje uma constante do discurso político e mediato classificar de “radical” a esquerda representada pelo Bloco e pelo PCP. Como uma das mais sofisticadas explicações que já me foi dada para aquela opção radica na ideia de que o adjetivo visa sobretudo sublinhar a ideia de uma esquerda mais próxima da essência originária, espanto-me quando similar designação não é atribuída ao CDS ou, nos dias que correm, em particular ao PSD. Neste caso por maioria de razão. Não apenas por ser consensual a constatação de que o partido se tem posicionado cada vez mais à direita, mas também porque com facilidade se lhe colaria o significado que penso estar mais próximo da verdadeira intenção escondida no uso do termo quando, como “radical”, na verdade o que se pretende nomear é algo de extremado e, portanto, radicalizado.

Catarina, ao balizar daquela maneira o debate remeteu-nos para o domínio das questões do bom gosto e do bom senso, exatamente a mesma atitude contida na iniciativa marcada pelo PCP para hoje, no Porto. Jerónimo de Sousa apresenta o livro "Euro, Dívida, Banca. Romper com os constrangimentos, desenvolver o País", no âmbito da campanha sobre a presença de Portugal na moeda única, que começará agora a chegar às ruas, prolongar-se-á até final de junho e inclui iniciativas legislativas na Assembleia da República e intervenções em Bruxelas.

Se assumirmos o que até já políticos de direita ou lá próximos afirmam sem qualquer constrangimento, quando sublinham a radical incompatibilidade entre o mercado comum e a moeda única, ao ponto de termos vindo a assistir a um permanente caminho de divergência económica desde que o euro entrou em circulação, teremos de aceitar como fazendo parte do mais elementar bom senso colocar a debate, sem reservas ou preconceitos, a permanência no euro de uma economia tão débil como a nossa.

Isso bastaria para esta iniciativa estar hoje a ocupar um lugar de relevo no espaço mediático, até porque, se é certo que o PCP tem desde o início uma posição contrária à permanência no euro, é hoje possível encontrar argumentos, tanto de esquerda, como de direita, para defender qualquer das soluções: permanência ou abandono. Sejamos claros. Estamos a trabalhar em terreno desconhecido e porventura minado. Não há a experiência de qualquer anterior saída do euro e são naturais todos os receios. O que aconteceria aos depósitos? A sua desvalorização afetaria apenas a classe média, os pequenos aforradores e as PME’s, visto os detentores do grande capital terem sempre à disposição uma infinidade de meios para colocar os seus capitais a salvo? Como se processaria a migração para o escudo? Como seria tratado o problema das dívidas particulares e das empresas? Como se resolveria a inevitável turbulência económica gerada no imediato? Quais as vantagens da utilização da taxa de câmbio como forma de evitar que se eternize a utilização dos salários para conseguir os chamados ajustamentos? E a saída do euro seria bastante para resolver os crónicos problemas da economia portuguesa? Há uma infinidade de questões e não creio que alguém se atreva a assegurar dispor de respostas definitivas, coerentes e convincentes. Daí a importância do debate. Se a política se contenta em acantonar-se em abstrações, pode estar a conseguir extraordinários efeitos retóricos. Esse será, porém, o contexto em que haverá de tudo, menos o que mais importa: as pessoas.

OUTRAS NOTÍCIAS

As mulheres são o principal alvo de violência doméstica até o ocaso da vida, diz a Isabel Paulo num trabalho em que refere o facto de em 2016 a linha SOS Pessoa ter recebido 173 pedidos de ajuda, maioritariamente a partir de denúncias de vizinhos ou amigos. Das queixas apresentadas em 2014, 64% foram de situações de violência sobre idosas, metade viúvas e com uma média de idade de 79 anos.

Portugal tem a mais baixa taxa de fertilidade da EU e é o país onde mais diminuiu o número de nascimentos nos últimos 15 anos, segundo dados do Eurostat agora revelados. De 201 para 2015, o número de crianças nascidas em Portugal desceu de 112 774 para 85 500.

Em entrevista à Antena 1, luís Montenegro, líder da bancada parlamentar do PSD, defende que poderá haver novo governo sem recurso a eleições. Na opinião de Montenegro, mesmo que o atual governo presidido por António Costa não se aguente, “não significa que tenha de haver eleições antecipadas”, por ser possível encontrar outras soluções no parlamento. O dirigente do PSD tece críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, que hoje cumpre um ano de mandato presidencial. Luís Montenegro considera que o Presidente da República foi deselegante para com Teodora Cardoso. A presidente do Conselho de Finanças Públicas tinha classificado de "milagre" o défice do ano passado. Marcelo respondeu que "milagres, só em Fátima".

O Benfica disse adeus à Liga dos Campeões. Derrotado por 4-0 na Alemanha, pelo Borussia de Dortmund. As crónicas dizem que, em Lisboa, o Dortmund jogou muito melhor que o Benfica e perdeu. Na Alemanha, assegura a Lídia Peralta Gomes na Tribuna, “o Benfica jogou bem mais do que em casa, teve mais oportunidades que o Borussia Dortmund durante os primeiros 45 minutos, mas Aubameyang também voltou a ser Aubameyang: o gabonês marcou três dos quatro golos com que os alemães derrotaram o Benfica”.

Aqui está uma boa notícia. Hoje, em Famalicão, escolas, instituições, clubes, autarquia e rádios locais, bem como entidades públicas e privadas, dedicam 15 minutos à leitura. Durante um quarto de hora tudo para na cidade para ler um poema, um excerto de uma obra, uma revista, um jornal ou um livro de bolso. Trata-se da iniciativa “Famalicão a Ler”, decorre a partir das 10h15 e insere-se no âmbito da Semana da Leitura que decorre até 11 de março na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.

Hoje ao fim da tarde, se quiser recordar Zeca Afonso, vá com mais cinco até à Junta de Freguesia de Alcântara, em Lisboa, onde poderá assistir a uma conversa com Irene Pimentel e Adelino Gomes. Vão falar sobre a vida e a obra do “cantautor” a pretexto do 30º aniversário da sua morte.

No Teatro Nacional São João, no Porto, estreia hoje a peça “Os Veraneantes”, encenado por Nuno Cardoso a partir do texto de Máximo Gorki, escrito em 1904, quando já o a corte do Czar Nicolau II deixava antever o declínio de um império. A peça, diz o André Correia, “é uma crítica a uma sociedade decadente, vaidosa das atitudes próprias e jurisprudente dos defeitos alheios, entregue à frivolidade hedonista das ‘happy hours’”.

LÁ FORA

Nem sou muito de acreditar nas fatalidades do destino, mas parecia estar escrito que hoje teria de falar abundantemente da CIA. Desde logo devido às mais recentes leituras. Depois porque vieram a público as revelações da Wikileaks e agora surgem as informações de que a procuradoria federal alemã está a estudar a alegação de que a CIA utilizou o consulado dos EUA em Frankfurt como uma base clandestina para os piratas informáticos desenvolverem as suas operações na Europa, Médio Oriente e África. No livro que menciono mais em baixo fala-se de um tempo em que a agência atuava sobretudo no exterior, como lhe estava destinado. O problema das novas revelações passa pela constatação de que a CIA está, em definitivo, a atuar no interior dos EUA, o que leva a colunista Amy Davidon, da The New Yorker, a colocar cinco questões pertinentes: Qual é a dimensão do plano de espionagem da CIA? As empresas privadas comprometeram-se e envolveram os seus clientes? (A Apple já veio demarcar-se e anunciar medidas); Os americanos são o alvo? O que farão os tribunais? E Donald Trump? Também tem uma televisão inteligente da Samsung?

Em entrevista à Der Spiegel, o escritor israelita Amos Oz aborda o problema dos 50 anos da ocupação por Israel dos territórios da Palestina e explica porque escreveu uma carta a Angela Merkl após a eleição de Donald Trump, a quem acusa de não ter a mais pálida ideia do que se passa naquela região do globo.

Pelo menos 19 raparigas morreram e trinta ficaram feridas na sequência de um incêndio deflagrado num centro para menores na Guatemala. A tragédia aconteceu em Hogar Seguro Virgen de la Assunción, na localidade de San José Pinula, próxima da capital.

Em Espanha sobe a tensão partidária. O PSOE, Podemos e Ciudadanos vão juntar esforços para investigar os financiamentos do PP, presidido por Mariano Rajoy.

Um conjunto de gravações de Louis Armstrong vão pela primeira vez ver a luz do dia. Um total de quatro novos discos nunca antes divulgados e gravados pelo icónico trompetista, serão disponibilizados pela primeira vez em CD, digital e vinil. Os discos foram descobertos nos arquivos do Queens College, que acolhe a Coleção Louis Armstrong.

Até pode ser apenas uma curiosidade, mas vai motivar a curiosidade de muita gente. O icónico Ford Mustang, utilizado em 1968 no filme “Bullitt”, protagonizado por Steve McQueen, e que tinha sido dado como desaparecido, foi encontrado no México. Ao que parece, o automóvel terá sido vendido após as filmagens, durante as quais foi utilizado numa louca cena de perseguição. Foi encontrado por um negociante de parafusos.

MANCHETES

Cáritas retém dois milhões em depósitos há dez anos – Público

Desempregados Mais de 2600 usaram subsídio para criar o seu emprego – DN

Governo deve 7 milhões aos colégios privados – JN

Onde não está Marcelo? – I

Macedo com pensão vitalícia de 2609€ - Correio da Manhã

Estado garante 35% do financiamento para 2017 – Negócios

A ciência para viver mais tempo - Visão

A vida íntima de Almada Negreiros - Sábado

Engolidos – O Jogo

Destroçados – A Bola

Pesadelo - Record

O QUE ANDO A LER E A VER

Então escritores situados conotados com a esquerda, como Garcia Marquez, Hemingway ou James Baldwin andaram a escrever em revistas patrocinadas pela CIA? Aí está a oportunidade de falar da leitura que mais me tem cativado nos últimos tempos. “Finks: How the CIA tricked the world’s best writers”, é o título do livro acabado de publicar por Joel Whitney, co-fundador da revista “on line” “Guernica” e colaborador do New York Times, The New Republic, The Wall Street Journal e The Paris Review. Ora, é justamente a famosa e autodenominada apolítica The Paris Review a aparecer no olho do furacão quando, em 1966 se ficam a conhecer as suas ligações à CIA através do Congresso para a Liberdade Cultural (CLC) uma invenção da agência para intervir no combate ideológico no âmbito da guerra-fria. Com grande prestígio nos meios culturais, famosa pelas entrevistas a grandes escritores, a revista, ao ser lançada em 1953, tinha, entre os seus três fundadores, um agente da CIA, o escritor Peter Mathiessen, e um segundo co-fundador, George Plimpton, bem ciente do apoio proporcionado pelo CLC ao proceder a massivas compras de exemplares da revista e ao criar uma rede de distribuição de muitos dos seus conteúdos por uma dúzia de outras publicações que patrocinava em várias partes do mundo.

É neste contexto que escritores como James Baldwin, Gabriel Garcia Marquez, ou Hemingway são convidados para ocasionais presenças num universo que incluía publicações “amigas” por onde jorrava dinheiro, como “Preuves” em França, “Der Monat” na Alemanha, “Encounter” na Inglaterra, “Quest” na Índia, ou “Mundo Nuevo”, para a América Latina.

O livro, que deverá ser lido como complemento de um bem mais antigo, da britânica Francis Saunders, intitulado “Who Paid the Piper? CIA and de Cultural Cold War”, (há uma edição em castelhano) contém um fabuloso manancial de informações sobre as múltiplas estratégias adotadas, incluindo a censura pura quando alguém se colocava fora do enquadramento ideológico, ou até a atuação no mundo as artes para lançar e promover o expressionismo abstrato de pintores como Jackson Pollock ou Mark Rothko, por oposição ao chamado realismo soviético. Havia cambiantes, como no caso da América Latina, onde “Mundo Nuevo” se permitia pedir entrevistas a escritores mais à esquerda, como forma de ganhar credibilidade junto de intelectuais tidos como mais radicalizados, sobretudo após a revolução cubana.

Entre as muitas histórias narradas, destaco duas que vale a pena ler com detalhe, ambas a envolverem o Prémio Nobel da Literatura. Primeiro, Whitney mostra a bem sucedida atuação da CIA ao manobrar nos bastidores para boicotar a atribuição do Nobel a Pablo Neruda. Depois, e com uma extraordinária riqueza de pormenores, mostra como também a CIA se apoderou, geriu e manipulou todo o caso à volta do escritor Boris Pasternak, autor do romance “Doutor Jivago", e moveu influências para que lhe fosse atribuído o Nobel.

Se considero este livro imperdível – à atenção de algum editor português – de igual modo considero indispensável sintonizar a RTP 2 aos domingos à noite. Anabela Mota Ribeiro conduz aquele que é, tão só, um dos mais estimulantes e enriquecedores programas da televisão portuguesa. Chama-se – e há aí alguma ironia - “Curso de Cultura Geral” e faz da conversa solta, sempre com três convidados diferentes, um apelo à inteligência, à partilha do saber, à paixão pelo permanente questionamento. Isto, que pode parecer pouco, é afinal todo um mundo novo nom desesperante panorama televisivo português.

Despeço-me, não sei antes lhe recomendar que relaxe com este surpreendente “bailado geométrico” concebido há já 50 anos a partir de 300 declinações de um simples triângulo. Amanhã, se estiver na zona do Porto, aproveite para ir a Serralves ver as camélias em festa, com iniciativas várias. Tenha um bom dia e não desperdice a oortunidade de ir espreitando o Expresso no mundo digital. Amanhã de manhã terá a companhia do Nicolau Santos com os seus sempre saborosos Expressos Curtos.

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