Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1.
Em agosto de 2014, eram Passos Coelho primeiro-ministro e Maria Luís
Albuquerque ministra das Finanças, o BES implodia e nascia o Novo Banco,
devidamente expurgado dos chamados ativos tóxicos e vitaminado com 4,9 mil
milhões de euros, quase todos eles saídos dos cofres do Estado. A ideia era
fazer uma limpeza e vender quanto antes, recuperando o dinheiro dos
contribuintes, até ao último cêntimo. Um ano e meio depois, já com António
Costa a primeiro-ministro e Mário Centeno a ministro das Finanças, veio o
primeiro grande sinal de que o poço não tinha fundo, com a decisão do Banco de
Portugal de desviar obrigações do "banco bom" para o "banco
mau", o que equivalia a uma injeção suplementar de dois mil milhões de
euros no Novo Banco. Tudo somado, sete mil milhões de recapitalização, o que
parecia, a qualquer cidadão, mais do que suficiente para que lhe arranjassem
comprador. E arranjaram de facto. A Lone Star está prestes a fechar negócio e
propõe-se pagar zero euros (ou um valor simbólico qualquer que entretanto se
arranje, para não parecer mal) por 75% do capital. O Estado (ou o Fundo de
Resolução em seu nome) fica com os outros 25%, mas sem administradores e sem
direito a voto. Se bem me lembro, foi Carlos César, líder parlamentar do PS,
quem melhor definiu o que se estava a passar e o que já se adivinhava: "um
fiasco". Se a bancada socialista for consequente, chumba o negócio. Mas
convém não ter demasiada fé.
2.
Um perdão fiscal é sempre uma medida controversa. Desde logo, porque penaliza
os cidadãos e as empresas que pagaram impostos a tempo e horas, muitas vezes à
custa de grandes sacrifícios. Ao contrário, premeia os caloteiros e sobretudo
os que têm os meios e o poder de contestar a fatura do Fisco e litigar contra
ela nos tribunais. Depois, porque é sempre usado pelas piores razões: fazer
receita imediata e tapar buracos nas contas públicas, abrindo mão de uns
quantos milhões pelo caminho (por exemplo, em coimas e juros). Uma das provas
de que é uma péssima medida reside no facto de os governos, todos eles,
esconderem o perdão fiscal debaixo de um eufemismo. O Governo atual, por
exemplo, batizou o seu como Peres. E jurou que o objetivo não era o encaixe
financeiro, antes ajudar cidadãos e empresas. Um objetivo bastante piedoso e
rapidamente aproveitado por uma série de empresas em dificuldades. Exemplos? A
Corticeira Amorim, a Jerónimo Martins, a Galp e a EDP. Só estes quatro
potentados económicos somaram, no ano passado, lucros líquidos de mais de dois
mil milhões de euros. Parte deles graças ao perdão fiscal. Faz todo o sentido.
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Editor-executivo
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