O
novo golpe parlamentar da direita, hoje na Venezuela, tem uma história.
Marino Boeira*
Não
é por acaso que tenha começado no Paraguai essa fórmula moderna de golpe de
estado contra governos progressistas, usando uma maioria ocasional no
Parlamento.
De
1954 a 1989, o Paraguai foi governado por uma ditadura chefiada pelo General
Alfredo Stroessner.
Em
2008, Fernando Lugo, um bispo católico e ativista de esquerda, chegou a
Presidente da República, mas como aconteceria com outros representantes dos
movimentos populares da América Latina, foi apenas tolerado pelas elites
empresariais do Paraguai, que sonhavam com a volta de um regime que defendesse
seus interesses acima de tudo.
Em
2012 foi destituído do seu cargo pelo parlamento, inaugurando uma nova forma de
golpe de estado que logo faria escola na América com a derrubada do governo
legítimo de Dilma Rousseff, em 2016, no Brasil.
A
crise econômica mundial e a incapacidade dos governos reformistas, que surgiram
em vários países sul americanos, de radicalizar o processo de transferência de
renda para as populações mais pobres, retirou uma parte do apoio que tinham da
maioria da população e facilitou esse novo tipo de golpe.
No
caso da Argentina, a direita não precisou apelar para esta medida e chegou ao
poder através das eleições, com Macri.
Quem
ainda resiste a este processo é a Venezuela, onde um exército fortemente
politizado garante ao Presidente Maduro o direito de continuar exercendo o poder
que lhe foi conferido pelo povo.
Por
quanto tempo, é difícil afirmar.
Aproveitando
que os preços do petróleo, base da economia venezuelana, foram artificialmente
rebaixados pelos interesses americanos de agir contra grandes produtores como o
Irã e a Rússia, mas cujas conseqüências chegaram também à Venezuela, uma
maioria parlamentar, apoiada pela grande mídia e diretamente, durante o governo
Obama, pelos Estados Unidos, tenta derrubar o governo de Maduro.
Reagindo
a este golpe, o Supremo Tribunal de Justiça, assumiu as funções do Congresso,
depois que esse desacatou uma determinação judicial e deu posse a três
deputados condenados por corrupção.
A
frente golpista de direita na Venezuela já conta com o apoio explicito do
presidente da Organização dos Estados Americanos, um braço político dos
interesses americanos, Luis Almagro e do Itamarati. Apenas a presidente do
Chile, Michelle Bachelet, falou de forma institucional condenando qualquer situação
que "altere a ordem democrática" na Venezuela, o que fundamentalmente
significa o afastamento de Maduro.
Como
não poderia deixar de ser, toda a mídia brasileira assume as versões dos
golpistas venezuelanos, falando em defesa da democracia, exatamente como fizeram
no golpe arquitetado contra Dilma no Brasil, cujo principal artífice foi o
deputado Eduardo Cunha, aquele que, de herói, foi transformado em bandido para
salvar os pruridos moralistas da classe média brasileira+
*Marino
Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS – Pravda.ru
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