Não
é apenas a cinquentenária ocupação dos territórios palestinos que faz parte da
trajetória do Estado sionista
Bruno
Huberman* | Outras Palavras
Nesta
semana, completa-se 50 anos da mais famosa ocupação israelense: a dos
territórios palestinos de Cisjordânia e Faixa de Gaza como decorrência da
Guerra dos Seis Dias de 1967. No entanto, a história do Estado sionista é uma
de diversas violentas ocupações e desocupações de territórios de seus vizinhos
árabes, conforme mostra o gráfico acima do Visualizing
Palestine.
A
primeira e mais significativa aconteceu em 1948, quando Estado de Israel foi
criado sobre 78% do território palestino. Essa conquista foi atingida após a
vitória do movimento sionista na Guerra Árabe-Israelense de 48-49 e de um amplo
processo de limpeza étnica da população nativa palestina.
Em
1967, a ocupação mais famosa. Uma guerra que durou seis dias apenas porque os
israelenses, após derrotarem em questão de horas as forças egípcias em um
ataque preventivo e ocuparem toda a Península do Sinai, desejavam expandir as
suas fronteiras. Os líderes israelenses decidiram então avançar sobre Jordânia
e Síria, levando à ocupação da Cisjordânia e das Colinas do Golã sírias em
decisivas e sangrentas batalhas. Como resultado, Israel mais do que dobrou o
tamanho do país.
A
desocupação da Península do Sinai viria acontecer apenas em 1982, como
resultado do Processo de Paz com os egípcios de 1979. O Egito foi o primeiro
país árabe a reconhecer o Estado sionista. Isso ocorreu por uma mudança
significativa na política egípcia após a derrota de 1967, que marcou o início
do declínio do nacionalismo árabe liderado por Gamal Abdel Nasser. O seu
sucessor, Anwar al Sadat, foi o primeiro a ameaçar a Fortaleza Israel no ataque
surpresa da Guerra do Yom Kippur, de 1973. A campanha, embora frustrada pela
reação dos militares israelenses, aumentou o capital político dos egípcios, que
conseguiram reconquistar a Península do Sinai após mais de uma década de
ocupação israelense.
A
ocupação do Sul do Líbano por 18 anos é uma história menos conhecida. Ela se
deu pela forte presença de militantes da Organização pela Libertação da
Palestina (OLP), entre eles Yasser Arafat, na fronteira da nação árabe com
Israel. Em meio à guerra civil que tomava o Líbano, os israelenses invadiram e
ocuparam o sul do país para expulsar os guerrilheiros palestinos. Entre as
consequências dessa incursão israelense, está o Massacre de Sabra e Shatila: o
genocídio de refugiados palestinos por milicianos maronitas sob o auspício das
forças ocupantes israelenses. Israel viria a se retirar do território libanês
apenas em 2000 após anos de conflito com o Hezzbollah, o movimento político e
guerrilheiro libanês que surgiu após a invasão de Israel e que hoje é um dos
mais importantes partidos políticos do país.
Por
fim, existem aqueles que vão afirmar que Israel desocupou a Faixa de Gaza, em
2005, ou que se retirou de parcelas da Cisjordânia em meio ao processo de paz
com os palestinos. No entanto, embora os soldados israelenses não
necessariamente patrulhem cotidianamente todo o território palestino, isso não
significa que houve uma desocupação. Israel mantém o controle sobre todas as
fronteiras e sobre o espaço aereo, subterrâneo e marítimo palestinos, além de
manter sob vigilância remotamente todos os palestinos por meio de câmeras de
monitoramento, satélites, drones e outros dispositivos. Israel, na prática,
decide sobre a vida de todos os seis milhões de palestinos de Cisjordânia e
Faixa de Gaza. A “autonomia” palestina, supostamente concedida nos Acordos de
Oslo, não passa de uma ilusão.
*Bruno
Huberman é jornalista e doutorando em Relações Internacionais pelo
Programa San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP)
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