Na
Venezuela o presidente Maduro convoca eleições para a Constituinte, vão
realizar-se amanhã, 30 de Julho. A oposição, dominada no topo por
neoliberalistas, opõe-se aquelas eleições. O braço de ferro entre a oposição e
o chavismo representado por Nicolas Maduro enquanto presidente da nação
bolivariana tem sido tortuoso e sanguinário. Mais de 150 manifestantes já
morreram. Há observadores que salientam o facto de existir o perigo da
Venezuela enveredar pela guerra civil.
Independentemente
dos riscos que corre a revolução bolivariana, existe uma nota que está a ser
comum à América Latina (tome-se o exemplo do Brasil e de outros países), a recuperação
no terreno do neoliberalismo, que por anos se viu sendo enxotado daquele
continente. Nesta ação predominam operações da CIA e de outras organizações
similares que atuam na desestabilização dos países com vista a repor nos
poderes elites que lhes permitam recuperarem as vantagens políticas e económicas
que têm feito da América Latina o Quintal das Traseiras dos EUA - onde o capitalismo selvagem explora
os povos latino-americanos, assim como todas as matérias primas do subsolo
(minerais) e produtos agrícolas, entre outros. A Venenuzuela é riquíssima em petróleo e isso é sempre um dos maiores elementos atrativos da gula dos EUA. Para além do domínio geoestratégico que implica a perda de soberania dos países "democraticamente" ocupados. Mas a Venezuela de Simon Bolivar resiste.
A
instabilidade provocada pelo neoliberalismo está a gerar a fuga de muitos dos
seus habitantes, não só imigrantes – como é o caso de portugueses que ali estão
há décadas. Muitos recorrem ao Brasil a pedirem refúgio. A seguir podem ler o
que reproduzimos no PG a esse propósito. Ainda mais em baixo, se continuarem a
ler, poderão aceder ao infográfico que mostra a sequencia de eventos desde 2015
na Venezuela, também uma produção de Opera Mundi. (PG)
O
que explica o aumento de pedidos de venezuelanos e cubanos por refúgio no
Brasil?
O
crescimento do número de pedidos de refúgio de venezuelanos e cubanos ao
governo brasileiro, apontado no relatório apresentado pelo Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) no último dia 20, chama a atenção
pelo ineditismo do fato, já que os países não têm histórico desse tipo de
solicitação de forma massiva ao Brasil. Para entender o fenômeno, o Brasil de
Fato consultou diversos especialistas em imigração, que apontaram questões
econômicas, o restabelecimento das relações Cuba-EUA e até motivações de
desestabilização política como fatores por trás do aumento.
Rute Pina, no Brasil de Fato
O
caso dos venezuelanos explicita bem essa novidade. Em 2011, por exemplo, apenas
quatro haviam feito o pedido ao governo brasileiro. Este ano, até o mês de
maio, foram registradas 3.971 solicitações. O que explicaria essa nova
situação, no entendimento dos especialistas que conversaram com a reportagem, é
que pedir refúgio é, provavelmente, a solução encontrada por imigrantes em
situação de vulnerabilidade econômica para se regularizar no território
brasileiro, por meio de um processo menos burocrático e mais barato do que a
imigração.
É
o que diz o chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania do
Ministério da Justiça, Bernardo Laferté: “A gente foi ao local, em Roraima, e
ouvimos de vários venezuelanos que, [eles] de fato, nunca sofreram perseguição,
mas não têm como se manter lá por falta de emprego, por não conseguir se
sustentar”.
O
professor do departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) Sidney Antônio da Silva esteve, em fevereiro deste ano, na cidade de
Pacaraima, em Roraima, e também acompanhou a situação no local. Ele coordena o
Grupo de Estudos Migratórios na Amazônia (Gema) desde 2007 e constatou, em sua
pesquisa de campo no município limítrofe com a Venezuela, que a opção escolhida
por famílias do país vizinho tem relação, justamente, com um processo mais
fácil e menos oneroso que se enfrenta ao pedir refúgio.
Isso
porque o governo brasileiro tem a obrigação de aceitar o pedido de qualquer
cidadão que faça esse tipo de solicitação em um dos postos da Polícia Federal.
Outro
ponto a ser considerado no debate é o ponto levantado pelo professor
equatoriano Jacques Ramírez, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
(Flacso) – Sede Ecuador. Ele ressalta que há casos em que um grupo minoritário
pede refúgio com intuito de se opor ideologicamente aos governos de seus países
e afirmar, nos casos específicos, que tanto a ilha socialista quanto a
Venezuela vivem regimes ditatoriais. Ele observa que a análise de um pedido de
refúgio, no entanto, deve ser isenta e se ater aos fatos das denúncias de
supostas perseguições e, quando comprovadas, o país deve conceder a proteção
independente da posição política dos solicitantes.
Os
pedidos de refúgio no Brasil, que são gratuitos, são analisados em um prazo de
até um ano pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), comissão
interministerial sob o âmbito do Ministério da Justiça (MJ). Até o início do
ano, os venezuelanos, para imigrar legalmente para o Brasil, tinham que pagar
três taxas para a Polícia Federal que, juntas, chegavam a R$ 470 — valor muito
alto, pontua Silva, para famílias empobrecidas.
Com
o protocolo provisório gerado pelo procedimento, o estrangeiro fica amparado
pelas leis nacionais e internacionais e é possível, por exemplo, requerer a
carteira de trabalho no Brasil e, com ela, exercer atividades remuneradas no
país. Neste período, o solicitante não pode ser deportado ou enviado de volta
para sua nação de origem.
Migração
econômica
Silva
caracteriza o perfil dos venezuelanos que chegam ao país por Roraima como de
jovens trabalhadores, entre 20 e 40 anos, com qualificação em áreas técnicas e
do comércio. Além dos quase quatro mil cidadãos que pediram status de
refugiados, de acordo com o levantamento da agência Amazônia Real, com base em
dados da Polícia Federal em Roraima e do governo do Amazonas, entraram
legalmente pela fronteira do extremo norte do país, de janeiro a maio deste
ano, 22.165 venezuelanos.
O
professor pontua também que a maioria faz a solicitação com base no contexto de
crise econômica vivenciada pelo país vizinho, ocasionada pelo processo de
desestabilização do governo de Nicolás Maduro — embora existam também, entre os
pedidos, alegações de perseguição política.
“Em
geral, eles se enquadram neste perfil laboral. E o que os motiva a vir ao
Brasil é a crise política e econômica no país onde eles residem. Então, o
Brasil passa a ser essa possibilidade que eles têm de buscar uma saída para
esse momento de crise”, explicou.
Migrantes
ou refugiados?
De
acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, de
1951, refúgio é uma medida de caráter humanitário. O mecanismo prevê proteção
internacional ao imigrante cujo deslocamento foi forçado por ser apátrida
(condição de um indivíduo que não é considerado como um nacional por nenhum
Estado); ou por perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo
social ou opiniões políticas. A Convenção deve ser aplicada sem discriminação
por raça, religião, sexo ou país de origem.
Sobre
o assunto, o Brasil, além do Estatuto dos Refugiados de 1951, delimita a
condição jurídica do refugiado e os procedimentos para a concessão da medida
com a Lei 9474 de 1997. A legislação é considerada avançada e expande a
concessão de refúgio também aos solicitantes que sofrem “graves violações de
direitos humanos”. Ainda assim, a lei não abarca imigrantes econômicos com o
status de refugiados.
Dessa
forma, entre os entendimentos possíveis com relação à situação dos
venezuelanos, é muito difícil que o Brasil os enquadre, enquanto grupo, na
categoria de refugiados, como explica o professor do departamento de Direito
Público da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Pietro
Alarcón: “No caso dos migrantes venezuelanos, a não ser que se trate de
perseguição identificada e individualizada, não me parece que o fluxo
migratório possa ser enquadrado nas hipóteses de refúgio determinadas pela Lei
9474 de 1997″.
Para
Alarcón, há muito desconhecimento, falta de informação e de orientação em torno
da figura do refúgio. Ele ressalta que todo migrante, seja por razões
econômicas ou outros motivos, deve ser protegido pelo Estado que o recebe.
“Reitero que esses migrantes, seja os que solicitam ou não solicitam refúgio,
passam a ser protegidos pela Constituição brasileira, especialmente nos seus
direitos individuais e sociais”, observa.
Mas
há outra interpretação possível, como ressalta Silva. Ele esclarece que, se o
Conare entender o contexto político e econômico do país vizinho como uma
violação de direitos humanos, então caberia a figura do refúgio: “A falta de
segurança alimentar e saúde e o cenário de violência podem ser consideradas
violações, se existir uma visão mais ampla da crise social no país”, explica.
O
posicionamento do Brasil nesses casos, no entanto, é mais restrito para a
concessão de refúgios, como ressalta o Alarcón. Ele lembra que, no caso dos
haitianos que vieram em massa para o país em 2015, a alternativa encontrada foi
a concessão do visto humanitário diante da tragédia que se abateu sobre o país
caribenho.
Para
ele, não há como desvincular as questões: “A caracterização da situação
política não emana do Conare, mas do governo, da avaliação que o Brasil faz do
entorno e dos conflitos que atualmente há no planeta”, analisa o professor da
PUC-SP.
Revista
Diálogos do Sul | em Opera Mundi
Constituinte
na Venezuela: como chegamos até aqui?
Opera
Mundi| São Paulo - 29/07/2017
Infográfico
mostra sequencia de eventos desde 2015, quando oposição passou a dominar
assembleia legislativa, até a convocação da Constituinte por Maduro.
VEJA AQUI O INFOGRÁFICO - Opera Mundi
1 comentário:
Em discurso no dia 6 de julho, o líder venezuelano dirigiu ameaças aos funcionários públicos que não votarem pela Constituinte: “se temos 15 mil em uma repartição, devem votar os 15 mil, sem desculpas, empresa por empresa, ministério por ministério, prefeitura por prefeitura”.
A Venezuela vai se tornar uma tirania socialista. Quem duvida, que algum luso-venezuelano que migrou para Portugal.
Enviar um comentário