Marino
Boeira* | opinião
O
segundo é sempre um perigo para o primeiro. É o caso do Temer, um sujeito que
nasceu para ser o segundo, mas que, na falta de alguém melhor, os golpistas o
transformaram em primeiro.
Historicamente,
o segundo é quase sempre a negação das qualidades do primeiro. Veja-se outro
segundo na história do Brasil, Café Filho.
João
Fernandes Campos Café Filho (1899/1970), um político com expressão apenas no
seu Estado, o Rio Grande do Norte, em 1950 foi imposto por Adhemar de Barros,
governador de São Paulo,como candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas.
Getúlio
aceitou a contra gosto porque essa era a condição para receber o apoio
de Adhemar, mas nunca confiou no seu vice.
Em
1954, viu confirmada sua suspeita, quando Café se aliou aos golpistas da
Aeronáutica e do Exército que levaram Getúlio ao suicídio.
Foi
presidente de agosto de 54 de novembro de 55, quando ao apoiar os que
pretendiam impedir a posse de Juscelino, foi afastado do poder por um movimento
liderado pelo general Teixeira Lott.
No
mundo, o caso mais famoso foi o de Harry Truman, vice de Franklin Delano
Roosevelt.
Fazendeiro
do Missouri, Truman, político medíocre, assumiu a presidência dos Estados
Unidos com a morte de Roosevelt, em abril de 45, apenas três meses depois dele
iniciar seu quarto mandato
Como
presidente, Truman foi responsável direto pelo início da Guerra Fria, que pôs
fim as esperanças de paz no mundo, costurada pelos líderes das grandes
potências (Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra) na conferência de
Postdan e iniciou o período de intervenções militares dos Estados Unidos no
mundo inteiro.
Seu
maior crime foi ter ordenado, em agosto de 45, o bombardeio atômico das cidades
de Hiroshima e Nagasaki, matando quase meio milhão de pessoas, quando o Japão
já estava praticamente derrotado, como forma de intimidação da União Soviética.
O
governo de Truman se caracterizou internamente pelo estímulo à paranóia
anticomunista e externamente, pela guerra fria com a criação da OTAN, a
consolidação da divisão da Alemanha com o chamado Plano Marshall e o início, em
1953, da Guerra da Coréia.
Moral
da história é preciso sempre desconfiar dos segundos.
Os
generais que deram o golpe de 64 usavam os civis para em cargos menores, mas
nunca quiseram dividir o poder com eles.
Em
69, quando Costa e Silva teve um AVC que o impediu de continuar governando o
País, impediram que o vice Pedro Aleixo assumisse à Presidência, nomeando uma
Junta Militar (os três patetas, segundo Ulysses Guimarães) - General Lira
Tavares, Almirante Augusto Rademaker e Brigadeiro Márcio Melo ( o Melo Maluco)
- até que o congresso confirmasse o General Medici como novo Presidente.
Em
85, os militares, já enfraquecidos, tiveram que compor com os políticos
conservadores para uma transição que esquecesse seus crimes e escolheram
Tancredo Neves para essa missão.
Eleito
indiretamente pelo Congresso, Tancredo morreu antes de assumir o Governo e no
seu lugar apareceu outro político regional, que durante os anos da ditadura
servira com fidelidade o regime militar como presidente da Arena e depois do
PDS, os partidos de sustentação do sistema, José Sarney, que o Millor insistia
em chamar de Ribamar, nome de batismo, que ele abandonou quando entrou na
político.
Sarney
viria confirmar mais uma vez a maldição que acompanha os segundos com um
governo para ser esquecido.
*
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS | em Pravda.ru
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