Martinho Júnior | Luanda
Tenho-me
batido por um renascimento africano que exige a redescoberta, por parte dos
africanos, de si próprios e do universo que lhes é próximo, valorizando seu
espaço vital, por que para um renascimento, necessário se torna fazer as
abordagens antropológicas!...
Tenho
vindo a propor uma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL em Angola
e em África, partindo do relacionamento das questões que se prendem ao que é
físico-geográfico-ambiental, com incidência na água interior, com as questões
humanas!...
Essa
abordagem contribui para abrir um caminho a processos de inteligência capazes
de absorver o conhecimento investigativo, científico e de segurança essencial
às projecções viradas para os próximos séculos!...
Todavia
continuo a esbarrar com a indiferença das mentes formatadas por interesses
capitalistas que afectaram África e se esbatem, por exemplo, no sudeste de
Angola: os angolanos foram a correr integrar-se nos projectos do KASA-TFCA,
criando Parques Nacionais e Coutadas no Cuando Cubango, mas demonstram poucos
sinais de vocação para antes do mais garantir controlo, segurança e
conhecimento próprio sobre a REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES NASCENTES, vital para
Angola, como os GRANDES LAGOS são vitais para África!...
O
peso da mentalidade colonial faz-se sentir, por que o capitalismo estimula-o
dentro e fora das fronteiras continentais e a eclosão da escravatura na Líbia,
é um corolário que demonstra a perversidade da NATO e do AFRICOM ao serviço da
hegemonia unipolar, vandalizando África, tirando partido de seu estado de
prostração numa ultra periferia económica e humana e do facto de a esmagadora
maioria dos africanos se encontrarem nos países que ocupam a cauda dos Índices
de Desenvolvimento Humano!
Por
conseguinte no que a Angola diz respeito, parece-me pertinente que este assunto
seja levantado em função do movimento de libertação em África, do MPLA, por
múltiplas razões, mas sobretudo por que na sua cultura há espaço para o
entendimento perceptivo de quais foram as geoestratégias coloniais
relativamente a Angola (a que estamos ainda presos) e quais podem vir a ser as
geoestratégias do futuro, fora das concepções programáticas levadas a cabo pelo
colonialismo sobretudo entre 1961 e 1974.
Essa
nova fórmula de entendimento tenho vindo a referir como uma GEOESTRATÉGIA PARA
UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, alicerçada também a partir do contraditório a
Savimbi, por que o conhecimento que ele utilizou para fazer a guerra e a
barbárie, é inestimável para se construir a civilização e a paz!
De
facto as geoestratégias colonialistas entre 1961 e 1974, assim como o
sequencial de Savimbi (pelo retardamento que ele provocou), implicaram a
projecção dos polos de desenvolvimento (segundo Walter Marques) e a edificação
infraestrutural e estrutural do país, que conduziram a uma malha
político-administrativa mais apertada (acompanhando a maior densidade
populacional em habitat disperso) de ocupação no triângulo que tem por base
toda a costa atlântica, a oeste e vértice na REGIÃO CENTRAL DAS GRANDES
NASCENTES, a região mais próxima do oceano e sem contacto directo com as
fronteiras.
Implicaram
também a sua geoestratégia no plano de “contra subversão” que
enquadrou o papel de Savimbi, colocando-o mesmo a leste desse triângulo ocidental
do quadrilátero angolano, de forma a reforçar os obstáculos à penetração do
MPLA, algo que foi sempre retido por Savimbi ao longo de sua restante vida,
para definir suas geoestratégias primeiro com as ligações ao “apartheid”,
depois sobretudo com a ligação a Mobutu.
A
GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL leva isso em consideração
reportando esse passado indexado à barbárie, de forma a aproveitar para a paz,
para a civilização e a favor dos mais legítimos interesses de Angola e do povo
angolano, enquanto garantia a muito longo prazo, (próximos séculos), a
sabedoria que Savimbi utilizou, inculcado no e pelo colonialismo, para fazer a
guerra, sobreviver o mais tempo possível e implementar todo o tipo de subversão
contra Angola!
Creio
que a inteligência que foi da barbárie (e pretende-se que seja do passado), se
deva reverter a favor da inteligência da civilização (presente e futuro) e isso
passa por um reequacionamento do espaço angolano que efectivamente não foi
feito por razões óbvias nem em tempo colonial, nem em tempo de pressão do “apartheid”,
nem em tempo da “guerra dos diamantes de sangue”, por que com a guerra
jamais se poderia iniciar uma independência, uma soberania e uma segurança
dessa natureza e com os possíveis enquadramentos de sustentabilidade que
propicia!
A
interpretação que proponho reforça a lógica com sentido de vida, a identidade
nacional, a planificação para a diversificação da economia, a necessidade de
tornar o desenvolvimento sustentável (não esbanjando nem prejudicando os
recursos e tirando substancial partido dos que são renováveis) e permite
libertarmo-nos paulatinamente das geoestratégias que advêm do passado de
assimilação, criado por aqueles que chegaram por mar ao território de Angola e
fizeram a abordagem a partir duma visão de domínio com penetração do litoral
para o interior, quando agora é necessário em paz fazer-se a abordagem no
sentido de se diminuírem as assimetrias e providenciar-se a ocupação sobretudo
dos triângulos leste e sul do quadrilátero angolano!
Por
outro lado, quer em Angola, quer no continente, a dialética entre os desertos
quentes e inóspitos e as regiões de água interior que propiciam espaço vital e
a riqueza biológica, continuando-se a reflectir nas sociedades humanas,
obrigam-nos a colocar independência, soberania e segurança da paz noutros
termos que introduzem os próprios africanos na potencialidade das equações
antropológicas do seu próprio renascimento e de sua própria autoria,
contrastando com as filosofias, doutrinas e ideologias“sopradas” pelos
interesses externos dominantes e sempre presentes em África!
Martinho
Júnior - Luanda, 27 de Novembro de 2017
Imagens
Mapas
de África e de Angola, espelhando a dialética entre os desertos e a água
interior, no caso angolano influindo directamente nas regiões de ocupação e de
intervenção do espaço nacional.
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