segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Portugal | E AGORA, RIO?


Paulo Tavares | Diário de Notícias | opinião

O homem que anunciou a candidatura à presidência do PSD em outubro, dizendo que "a política precisa de um banho de ética", que "o PSD não é nem será um partido de direita", ou que quer reconciliar os portugueses com o partido, é agora o novo presidente dos sociais-democratas e líder da oposição.

Rui Rio construiu para si - na Câmara do Porto e nos cargos partidários que ocupou - uma imagem de economista austero, bastante mais agarrado à frieza dos números do que às emoções. Disse há anos que não lê romances, que não o atraem e que prefere livros técnicos. Na travessia do deserto entre a saída da vida autárquica e a noite deste sábado, foi falando com grande certeza sobre uma série de temas que dividem o país político. E foi colocando-se numa posição que normalmente dá bons resultados em Portugal, pé fora e pé dentro do sistema e falando dos vícios políticos alheios como quem não faz parte do clube. Cavaco Silva pode bem ter servido de modelo, a fórmula funcionou bem para o antigo primeiro-ministro e Presidente da República.

Mas, agora que está dentro, que esperar de Rio? Teremos de aguardar pelo congresso de fevereiro para uma clarificação interna, para que fiquemos a saber ao que vem o líder e este "novo" PSD. Digo novo porque se há algo que parece certo é uma vontade de corte com a anterior liderança. No habitual jogo de equilíbrios entre a afirmação de uma nova estratégia e a continuidade em relação ao passado, não acredito que Rui Rio gaste demasiado tempo a tratar do segundo prato da balança. Aliás, durante a campanha, Passos Coelho teve apenas direito a referências pontuais e que se resumiam a qualquer coisa como: "Recuperou o país da bancarrota, fez um bom trabalho." Ponto final parágrafo.

Agora que está eleito, e anotado tudo o que tem dito, o que os militantes e o país têm a esperar dele compõe uma agenda pesada e que vai exigir coragem. Afinal, há anos que Rui Rio defende reformas mais ou menos profundas em diversas áreas: sistema político, justiça, finanças públicas, financiamento partidário, jornalismo Construir uma alternativa com base em ideias impopulares nessas áreas - e impopulares desde logo dentro do PSD -, numa altura em que a economia cresce e as finanças do Estado estão a caminho do equilíbrio, não será vida fácil.

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