Paulo Tavares | Diário de Notícias
| opinião
O homem que anunciou a
candidatura à presidência do PSD em outubro, dizendo que "a política
precisa de um banho de ética", que "o PSD não é nem será um partido
de direita", ou que quer reconciliar os portugueses com o partido, é agora
o novo presidente dos sociais-democratas e líder da oposição.
Rui Rio construiu para si - na
Câmara do Porto e nos cargos partidários que ocupou - uma imagem de economista
austero, bastante mais agarrado à frieza dos números do que às emoções. Disse
há anos que não lê romances, que não o atraem e que prefere livros técnicos. Na
travessia do deserto entre a saída da vida autárquica e a noite deste sábado,
foi falando com grande certeza sobre uma série de temas que dividem o país
político. E foi colocando-se numa posição que normalmente dá bons resultados em
Portugal, pé fora e pé dentro do sistema e falando dos vícios políticos alheios
como quem não faz parte do clube. Cavaco Silva pode bem ter servido de modelo,
a fórmula funcionou bem para o antigo primeiro-ministro e Presidente da
República.
Mas, agora que está dentro, que
esperar de Rio? Teremos de aguardar pelo congresso de fevereiro para uma
clarificação interna, para que fiquemos a saber ao que vem o líder e este
"novo" PSD. Digo novo porque se há algo que parece certo é uma
vontade de corte com a anterior liderança. No habitual jogo de equilíbrios
entre a afirmação de uma nova estratégia e a continuidade em relação ao
passado, não acredito que Rui Rio gaste demasiado tempo a tratar do segundo
prato da balança. Aliás, durante a campanha, Passos Coelho teve apenas direito
a referências pontuais e que se resumiam a qualquer coisa como: "Recuperou
o país da bancarrota, fez um bom trabalho." Ponto final parágrafo.
Agora que está eleito, e anotado
tudo o que tem dito, o que os militantes e o país têm a esperar dele compõe uma
agenda pesada e que vai exigir coragem. Afinal, há anos que Rui Rio defende
reformas mais ou menos profundas em diversas áreas: sistema político, justiça,
finanças públicas, financiamento partidário, jornalismo Construir uma
alternativa com base em ideias impopulares nessas áreas - e impopulares desde
logo dentro do PSD -, numa altura em que a economia cresce e as finanças do
Estado estão a caminho do equilíbrio, não será vida fácil.
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