O Presidente angolano, João
Lourenço, criou este mês, por despacho, a Direcção de Combate aos Crimes de
Corrupção, que passará a centralizar a investigação deste tipo de caso. Ao
contrário da Procuradoria-Geral da República, terá esta Direcção meio humanos e
técnicos para essa investigação? Ou, mais uma vez, a montanha vai parir um
ratinho anão?
De acordo com o teor do decreto
presidencial n.º 78/18, de 15 de Março, este novo organismo vai funcionar como
um novo serviço executivo central do Serviço de Investigação Criminal (SIC),
órgão policial na dependência directa do Ministério do Interior.
O combate à corrupção e a
práticas lesivas do interesse público têm sido a “medicação” sedativa usada a
torto e a direito nos discursos de João Lourenço, desde a investidura como
terceiro chefe de Estado nos 42 anos da história de Angola, em Setembro
passado, sucedendo a 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos.
“Ninguém é suficientemente rico
que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido”,
foi um dos mais sonantes e cada vez mais oco avisos que o novo chefe de Estado,
um general de 63 anos, figura histórica do MPLA e alto dirigente do partido,
deixou ao tomar posse, a 26 de Setembro de 2017, após a vitória (claramente
fraudulenta) na eleições gerais de Agosto.
Na mesma intervenção, João
Lourenço prometeu que o combate ao crime económico e à corrupção seria uma
“importante frente de luta” e a “ter seriamente em conta” neste mandato que já
leva quase seis meses de (in)existência.
Em Dezembro passado, o
subprocurador-geral da República de Angola, João Coelho, defendeu a criação de
uma alta entidade de combate à corrupção, com o objectivo de dar uma “outra
visão, dimensão” a esta tarefa.
João Coelho referiu que a
Direcção Nacional de Combate à Corrupção da Procuradoria-Geral da República
funciona actualmente com apenas quatro magistrados e este trabalho não pode ser
feito com este número ínfimo de pessoas. Pois é. Discursos, promessas e mais um
“bluff” como tantos outros que João Lourenço já protagonizou até agora.
“Não se combate a corrupção com
apenas quatro magistrados. Uma estrutura maior, com uma direcção grande, onde
estariam procuradores, eventualmente, e peritos de contabilidade, serviços de
inteligência, com algum poder, poderiam efectivamente dar uma outra visão,
dimensão ao combate à corrupção no nosso país”, explicou João Coelho.
Para o subprocurador-geral, seria
uma mais-valia para Angola a criação de uma estrutura de nível quase
ministerial, onde funcionasse “uma alta entidade” de combate à corrupção.
Seria. Ainda poderá ser. O problema é que, como de costume, o governo vai optar
por pôr as raposas a investigar o comportamento das galinhas.
Segundo João Coelho, há muitos
casos neste momento em investigação na direcção nacional, “que tem feito um
trabalho louvável”, sendo as áreas mais investigadas os bancos e Administração
Geral Tributária (AGT), bem como algumas outras áreas ligadas ao funcionalismo
público de uma maneira geral.
Em Outubro, o Serviço de
Investigação Criminal anunciou a detenção de cinco funcionários da
Administração-Geral Tributária, por suspeitas de desvio de receitas da cobrança
de impostos a empresas importadoras.
De acordo com o
subprocurador-geral da República, os investigados geralmente fazem “um pacto de
silêncio”, mesmo sendo constituídos arguidos, condenados, “preferem ficar na
cadeia do que efectivamente denunciar outras pessoas, que de alguma maneira
estão ligadas ao crime”.
“As pessoas que constam numa
denúncia são investigadas, na segunda fase, que é a fase da investigação
criminal, as pessoas são livres de dizerem com quem participaram nessa acção
criminosa, nós vamos até onde o cidadão pode efectivamente nos dizer”, referiu.
Acrescentou que “há suspeita de
que há mais alguém envolvido, de um nível superior, mas não se chega ali porque
os documentos muitas vezes não são encontrados e segundo porque há um pacto de
silêncio”. Por outras palavras, se todos pusessem a boca no trombone… os altos
dirigentes do MPLA seriam condenados.
“Quer dizer, ele vai ficar oito
ou dez anos na cadeia, mas prefere ficar na cadeia do que efectivamente
denunciar outras pessoas, que de alguma maneira estão ligadas ao crime”,
salientou.
Folha 8 com Lusa
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