Na esteira de velhos laços
soviéticos, ministro russo do Exterior faz um tour pelo continente africano.
Moscou está de olho sobretudo na expansão de relações comerciais. E em
matérias-primas.
A primeira viagem do ministro das
Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, à África começou no início da
semana em Angola. Nesta quinta-feira (08/03), o diplomata visitou o Zimbábue, e
o roteiro do ministro pelo continente também inclui Namíbia, Moçambique e
Etiópia.
Depois de conversar na
segunda-feira com o presidente de Angola, João Lourenço, e seu colega de pasta
angolano, Manuel Domingos Augusto, Lavrov enfatizou em coletiva de imprensa a
longa relação entre os dois países. O ministro russo disse esperar que os laços
se tornem ainda mais estreitos – em áreas como educação, energia e
cooperação militar.
"Nós acreditamos que os
problemas africanos precisam de soluções africanas", disse o diplomata
russo na capital angolana. "A comunidade internacional deve respeitar a
decisão dos africanos sobre como se deve pôr fim a um conflito e
proporcionar-lhes apoio moral, político e financeiro para o treinamento de
pessoal de missões de paz. A Rússia tem participado ativamente desse
esforço", acrescentou.
Assim, Lavrov deu o tom de sua
viagem. Trata-se de um retorno da Rússia ao continente africano, afirma
Evgeny Korendyasov, ex-embaixador soviético em Burkina Faso e ex-representante
russo no Mali. Hoje, ele dirige o Centro de Pesquisa das Relações
Russo-Africanas na Academia de Ciências de Moscou.
"A importância política e
econômica da África vem aumentando", diz Korendyasov, apontando que diante
de mudanças no equilíbrio global de forças surge uma disputa por novos
parceiros no continente.
"Sem a África não é possível
encontrar uma resposta para os problemas urgentes do novo século, como as
mudanças climáticas, o terrorismo e a criminalidade transnacional",
afirma.
Caminhos conhecidos
Em particular, a Rússia está
interessada na expansão das relações comerciais e econômicas com a África.
Nesse contexto, os recursos naturais desempenham um papel importante.
A Rússia não consegue suprir a
própria demanda por matérias-primas com o que produz, aponta Korendyasov, sendo
que o manganês, por exemplo, precisa ser completamente importado, assim
como 80% do cromo. Os russos também não conseguem atender à sua demanda de
urânio com as próprias reservas.
Portanto, não é coincidência que
Lavrov esteja justamente visitando quatro países africanos ricos em
matérias-primas. A Namíbia, por exemplo, está a caminho de se tornar o terceiro
maior produtor de urânio do mundo. Em Moçambique, a petrolífera russa Rosneft
pretende participar da exploração de petróleo offshore.
Mas a escolha dos países também
segue outro padrão: Lavrov persegue caminhos conhecidos. Durante a Guerra Fria,
Moscou foi um importante parceiro de muitos jovens Estados africanos. A União
Soviética apoiou muitos movimentos de independência. Entre eles, a Organização
dos Povos da África do Sudoeste (Swapo) na Namíbia, que é hoje o partido
governista.
Durante suas visitas nesta
semana, o ministro russo do Exterior não se cansa de invocar esses antigos
pontos comuns. Condizente com isso – como na terça-feira na Namíbia – está o
seu apoio às exigências da União Africana de um assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU.
"As conquistas da era
soviética não podem ser menosprezadas", afirmou Korendyazov, explicando
que as experiências dessa época devem servir como base de novos
desenvolvimentos. Angola, Namíbia, Moçambique, Zimbábue, Etiópia: para o
especialista russo em assuntos africanos, estes são os "cinco
grandes" do continente.
No fim da semana, a última
estação da viagem de Lavrov será a Etiópia. O país é o parceiro mais antigo da
Rússia na África. As relações diplomáticas entre os dois Estados perduram há
120 anos.
Ambos os países estão celebrando
esse jubileu com uma série de eventos e visitas mútuas. Cerca de 20 mil etíopes
estudaram na antiga União Soviética e na Federação Russa, estima Grum Abay,
embaixador da Etiópia em Moscou. Ele disse ter muitas expectativas em
torno da visita de Lavrov. Entre outros, ele espera que sejam implementados
voos diretos entre os dois países
"Acreditamos que as
negociações sobre o tráfego aéreo entre a Etiópia e a Rússia sejam concluídas
em pouco tempo", disse o embaixador em entrevista à DW. "Então
poderemos expandir o comércio de flores em grande estilo. Não somente flores,
mas colocaremos no mercado russo todos os artigos de exportação etíopes."
Visita de homólogos
Desde o início, vinha causando
sensação a perspectiva de uma reunião de Lavrov com seu homólogo americano, Rex
Tillerson, que chegou à Etiópia nesta quarta-feira e segue para Djibouti,
Quênia, Chade e Nigéria. No entanto, um encontro entre os dois diplomatas
ainda não aconteceu.
Durante a sua visita à Etiópia,
Tillerson alertou os países africanos para terem cuidado com as condições dos
investimentos chineses no continente, chamando atenção para os termos dos
acordos.
"No que diz respeito à
China, como já disse em outras partes do mundo, não estamos de forma alguma
tentando expulsar os investimentos chineses da África, porque são
necessários", disse o secretário de Estado. "Cremos, no entanto, que
é importante que os países africanos considerem com cuidado os termos desses
investimentos e não renunciem à sua soberania."
No Zimbábue, Lavrov disse
que não seria apropriado que Tillerson criticasse as relações entre a China e
os países africanos. "Não foi apropriado criticar as relações de seus
anfitriões – na condição de um convidado – com outro país."
Philipp Sandner (ca) | Deutsche
Welle
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