Afonso Camões* | Jornal de Notícias
| opinião
O CDS. A consagração de Assunção
Cristas, hoje mesmo, no final do 27.º Congresso do CDS, em Lamego, é a
antecipação da primavera na Direita portuguesa. Muitos, há dois anos, em
Gondomar, viam-na como marioneta de Portas, voluntária prontinha para fazer de
estafeta, na Oposição, enquanto qualquer um dos outros delfins do anterior
líder espreitavam a oportunidade de um regresso ao poder.
Mas Cristas não veio das
"jotas" nem fez carreira no partido para chegar aqui. É jovem, tem a
idade da nossa democracia, tem experiência política e governativa, foi
ministra. E não carrega o luto pós-troika dos seus anteriores aliados, até há pouco
em estado de negação, depois de perderem o Governo para um PS apoiado numa
inédita maioria parlamentar das esquerdas.
A coragem e o desassombro como
ganhou para o CDS o estatuto de segundo partido em Lisboa, nas últimas
autárquicas, revelaram a fibra e a ambição de quem corre em pista própria e
coloca alto a fasquia: ela quer ser "primeira escolha numa maioria de
Direita". É um desafio para si própria, mas também para o novo líder dos
sociais-democratas, Rui Rio, 18 anos mais velho e ausente do palco parlamentar
(não é deputado), onde Cristas liderou sozinha a Oposição por falta de
comparência do PSD.
Com Cristas, o CDS quer ser a
"casa grande da Direita", que não perde tempo com debates ideológicos
ou em crises de identidade, mas que acolhe liberais e conservadores debaixo da
trave democrata-cristã, matricial à sua fundação. O desafio está em alargar a
sua base eleitoral. Ou seja, ganhar votos, poder. A política é isso mesmo.
A ponte. O pé de vento levantado
à volta da segurança da Ponte 25 de Abril deixa a descoberto a natureza no
mínimo bizarra da relação entre o Estado e algumas das suas parcerias privadas.
Como? As obras de manutenção, com um custo estimado em 18 milhões, vão ser
pagas pelo erário público, através da empresa Infraestruturas de Portugal. Mas
as receitas cobradas nas portagens, essas, são do operador privado, a
Lusoponte, que explora a concessão rodoviária.
E a cocaína. Um estudo europeu
divulgado esta semana revela que há cada vez mais vestígios de várias drogas
nas águas residuais de Lisboa, Porto e Almada. Mas ficamos também a saber que,
pelos vistos, é mais fácil encontrar cocaína nos esgotos de 45 milhões de
pessoas, em 56 cidades europeias, do que identificar os principais agentes
poluidores do Tejo. E já lá vão 40 dias, depois das descargas criminosas que
causaram alarme público. A quem interessa silenciar constantes denúncias da
população e das associações ambientalistas?
*Afonso Camões é diretor do
Jornal de Notícias
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