Domingos de Andrade* - Jornal de
Notícias | opinião
Dezassete mil milhões. E sempre a
somar. Em perdas. A fatura total cobrada para a estabilização do sistema
financeiro, não liguem ao redondo do adjetivo porque o valor é mesmo
substantivo, nem ao abuso repetitivo das funções gramaticais desta coluna porque
abuso é mesmo o que pagamos, tem muitos eufemismos, mas assenta sempre na
necessidade de salvar a Banca.
Exercício de memória. Aguente
firme, caro leitor. No BPN a conta ascende a 5,4 mil milhões. No Banif foram
3,2 mil milhões. Salvos para caírem direitinhos em mãos estrangeiras. O BPP
também desapareceu. Sem salvação. Siga. BPI e BCP ajudados, mas pagaram e os
contribuintes ainda ficaram a ganhar alguma coisa com os juros do empréstimo.
No banco público, a Caixa Geral de Depósitos, é só usar a máquina de calcular.
Quatro aumentos de capital entre 2008 e 2012, num total de 3,7 mil milhões.
Mais a recapitalização de 3,9 mil milhões, no início de 2017, os tais que
contaram agora para que o défice público chegasse aos 3%. Mas na Caixa, como é
capital não é salvação, é investimento. Incógnita.
E falta o BES. Que entra em 2014.
Nesse ano, o apoio ao sistema financeiro superou os 5,1 mil milhões de euros e
o défice final disparou para 7,2%. E entramos no festim dos maus e dos bons. É
só escolher o lado. Foi criado o BES mau para acolher os ativos tóxicos do
Banco Espírito Santo, com um buraco a chegar aos seis mil milhões, segundo
dados de 2016. Os responsáveis pelo montante chamam-se processos judiciais,
dívida subordinada e obrigações seniores.
Acrescente-se o Novo Banco, entre
os maus e os bons. Porque foi de transição até ser comprado pelos americanos do
Lone Star. É deles. Mas as contas são nossas. A história é rápida. Começou, na
verdade, por pertencer ao Fundo de Resolução, criado há seis anos por força das
novas regras de resolução bancária da União Europeia. E lá está o Estado a
entrar com empréstimos e garantias de 5,8 mil milhões e os bancos em
dificuldade a contribuírem apenas com mil milhões.
Com prejuízos recorde no ano
passado, o Estado vai ser obrigado a avançar com um novo financiamento de até
450 milhões de euros. É o que está num dos termos do acordo de venda ao fundo
norte-americano. Ficou escrito nas estrelas e nas bolas de cristal que não ia
correr bem. Para os contribuintes. Em letra grossa, diz que caso houvesse
perdas em determinados ativos que ameaçassem os rácios de capital do banco, o
Fundo de Resolução teria de entrar com dinheiro. Em troca, esta entidade ficava
com 25% do Novo Banco. Poucos meses depois da venda, esse mecanismo, que tem
uma duração de oito anos e pode ir até 3,89 mil milhões de euros, foi acionado.
Um sistema financeiro sólido é o
garante de uma economia forte. Dizem-nos. Para pagarmos. Mas o problema não
está na argumentação. Está na conclusão. Porque pagamos sem que quem recebeu,
quem desviou, quem fez de conta que não viu, quem geriu ou digeriu seja
responsabilizado. Mas calma. Que esta história não acaba por aqui.
*Diretor-executivo JN
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