Martinho Júnior | Luanda
Tristes guerras…
Tristes guerras, si no es amor la
empresa. Tristes, tristes.
Tristes armas, si no son las
palabras. Tristes, tristes.
Tristes hombres, si no mueren de
amores. Tristes, tristes.
(Miguel Hernandez, falecido na
prisão a 28 de Março de 1942, continua actual 76 anos depois)
A factura que se tem vindo a
pagar, por se ter rebentado de forma tão inglória com o núcleo duro que num
remoto 1º de Agosto proclamou as FAPLA num momento tão sensível e decisivo, tem
sido dolorosa e trágica, impondo mais sacrifícios aos óbvios sacrifícios
inerentes às justas lutas em que o povo angolano se tem empenhado contra o
colonialismo, contra o “apartheid”, contra algumas das respectivas
sequelas e contra o subdesenvolvimento crónico que advém do passado secular de
trevas!
De facto a paz de hoje, resulta
dum rumo em que esse núcleo duro de forma clarividente se empenhou na altura em
torno do Presidente Agostinho Neto, em reforço da luta de então, mas com os
olhos postos no futuro que hoje somos!...
Assim, a reposição da justiça,
por que muito redunda daí, impõe-nos uma reflexão desapaixonada sobre o
processo histórico do Movimento de Libertação em África e essa acaba por ser a
única reparação possível, por que agora esse processo histórico ultrapassa
todos e cada um dos sacrificados patriotas que, quer pela lei da vida, quer
pelas vicissitudes que tiveram de enfrentar, foram inexoravelmente marcando o
passado dum poderoso caminho, que é a substância do rumo de Angola!
Em paz os patriotas deverão pois
ter a coragem da abordar com consciência crítica tudo o que a esse processo
histórico diz respeito, inclusive nos relacionamentos que se têm imposto no
quadro duma ampla globalização contemporânea e avaliar o que é efectivamente
inerente à pátria angolana, o que responde a outros interesses que podem e
devem ser emparceirados e o que é nefasto, inclusive interesses mercenários que
dividem, desequilibram e não se coadunam com a harmonia acima de qualquer
suspeita, não numa atitude de revanche, não numa atitude de vingança, mas numa
atitude de reflexão inerente aos superiores interesses do estado e do povo
angolano!
Em todos os casos os angolanos
devem ter a noção que o que falta realizar e os resgates socialistas que isso
implica, sublinho socialistas, sempre será muito mais do que se realizou, pelo
que a paz é imprescindível.
A reparação, a justiça, deve ser
pois um vínculo de criteriosa e incessante busca de dignidade, de solidariedade
e de honestidade, por que jamais alguém, por qualquer razão, pode voltar à
situação avulsa de abandonar os laços entranháveis que a todos e a cada um nos
une e identifica com todo o povo angolano, sabendo que o estado angolano, é o
fiel depositário dos interesses independentes e soberanos desse povo!
A alienação propiciada pelo
capitalismo neoliberal deve ser colocada urgentemente de parte, até por que ela
trouxe o que aos olhos de todos vai ficando patente!
Nesse rumo justo para a pátria
angolana há que sonhar: até podemos andar rápido, mas temos que andar com
criterioso cuidado por que ainda que hajam tantos problemas, tantas acumuladas
incompreensões e tanto lesar da pátria, é também justo que ninguém fique para
trás, pois Angola nem sequer completou 50 anos de exercício de independência e
soberania!
Um núcleo duro só poderá alguma
vez mais subsistir se for clarividente em sua filosofia, em sua doutrina, em
sua ideologia e traduzir uma prática identificada com as mais legítimas
aspirações de desenvolvimento sustentável para todo o povo angolano, recolhendo
do processo histórico o seu rumo essencial e um espírito lúcido, criativo e de
vanguarda de que o povo angolano tanto carece!
A lógica com sentido de vida
deverá nortear os servidores do estado angolano numa via de socialismo, tal
como todos os cidadãos conscientes de suas obrigações, que devem assumir os
seus deveres antes de qualquer reclamação de direito e levar à prática com
espírito missionário, humilde e responsável, o cumprimento de suas obrigações
para com o povo angolano de que somos emanação!
A paz constrói-se não só com
justiça, por que a paz constrói-se acima de tudo com justiça social, com
dignidade, com solidariedade, o que impõe essas capacidades de amor e
perseverança, numa constante mobilização que deve revitalizar todo o tecido
patriótico e gerar a unidade e a coesão tão necessárias, para além do mais na
exigência ao aprofundamento da democracia, na gestação do gérmen imperioso da
cultura de inteligência e segurança nacional e duma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável que seja um garante de futuro para todas as
gerações que se nos seguem!
Construir a paz social deve ser
um caminho longo, mas perene de responsabilidades que se dilata no espaço e no
tempo, sublimando ética, moral e civicamente a mobilização humana que a todos e
a cada um deve nortear, para que os ganhos alcançados, não sejam desperdiçados
ou alguma vez ingloriamente perdidos ou esbanjados por inépcia, por falta de
patriotismo, ou por interposta alienação e mercenarismo, ou por falta de
humanidade!
Martinho Júnior - Luanda, 30 de Março de 2018
Fotos do Museu Militar, de minha
autoria e feitas a 2 de Dezembro de 2014
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