domingo, 1 de abril de 2018

Angola | CONSTRUIR A PAZ SOCIAL!


 Martinho Júnior | Luanda 

Tristes guerras…
Tristes guerras, si no es amor la empresa. Tristes, tristes.
Tristes armas, si no son las palabras. Tristes, tristes.
Tristes hombres, si no mueren de amores. Tristes, tristes.

(Miguel Hernandez, falecido na prisão a 28 de Março de 1942, continua actual 76 anos depois)

A factura que se tem vindo a pagar, por se ter rebentado de forma tão inglória com o núcleo duro que num remoto 1º de Agosto proclamou as FAPLA num momento tão sensível e decisivo, tem sido dolorosa e trágica, impondo mais sacrifícios aos óbvios sacrifícios inerentes às justas lutas em que o povo angolano se tem empenhado contra o colonialismo, contra o “apartheid”, contra algumas das respectivas sequelas e contra o subdesenvolvimento crónico que advém do passado secular de trevas!

De facto a paz de hoje, resulta dum rumo em que esse núcleo duro de forma clarividente se empenhou na altura em torno do Presidente Agostinho Neto, em reforço da luta de então, mas com os olhos postos no futuro que hoje somos!...

Assim, a reposição da justiça, por que muito redunda daí, impõe-nos uma reflexão desapaixonada sobre o processo histórico do Movimento de Libertação em África e essa acaba por ser a única reparação possível, por que agora esse processo histórico ultrapassa todos e cada um dos sacrificados patriotas que, quer pela lei da vida, quer pelas vicissitudes que tiveram de enfrentar, foram inexoravelmente marcando o passado dum poderoso caminho, que é a substância do rumo de Angola!

Em paz os patriotas deverão pois ter a coragem da abordar com consciência crítica tudo o que a esse processo histórico diz respeito, inclusive nos relacionamentos que se têm imposto no quadro duma ampla globalização contemporânea e avaliar o que é efectivamente inerente à pátria angolana, o que responde a outros interesses que podem e devem ser emparceirados e o que é nefasto, inclusive interesses mercenários que dividem, desequilibram e não se coadunam com a harmonia acima de qualquer suspeita, não numa atitude de revanche, não numa atitude de vingança, mas numa atitude de reflexão inerente aos superiores interesses do estado e do povo angolano!

 Em todos os casos os angolanos devem ter a noção que o que falta realizar e os resgates socialistas que isso implica, sublinho socialistas, sempre será muito mais do que se realizou, pelo que a paz é imprescindível.

A reparação, a justiça, deve ser pois um vínculo de criteriosa e incessante busca de dignidade, de solidariedade e de honestidade, por que jamais alguém, por qualquer razão, pode voltar à situação avulsa de abandonar os laços entranháveis que a todos e a cada um nos une e identifica com todo o povo angolano, sabendo que o estado angolano, é o fiel depositário dos interesses independentes e soberanos desse povo!

A alienação propiciada pelo capitalismo neoliberal deve ser colocada urgentemente de parte, até por que ela trouxe o que aos olhos de todos vai ficando patente!

Nesse rumo justo para a pátria angolana há que sonhar: até podemos andar rápido, mas temos que andar com criterioso cuidado por que ainda que hajam tantos problemas, tantas acumuladas incompreensões e tanto lesar da pátria, é também justo que ninguém fique para trás, pois Angola nem sequer completou 50 anos de exercício de independência e soberania!

Um núcleo duro só poderá alguma vez mais subsistir se for clarividente em sua filosofia, em sua doutrina, em sua ideologia e traduzir uma prática identificada com as mais legítimas aspirações de desenvolvimento sustentável para todo o povo angolano, recolhendo do processo histórico o seu rumo essencial e um espírito lúcido, criativo e de vanguarda de que o povo angolano tanto carece!

A lógica com sentido de vida deverá nortear os servidores do estado angolano numa via de socialismo, tal como todos os cidadãos conscientes de suas obrigações, que devem assumir os seus deveres antes de qualquer reclamação de direito e levar à prática com espírito missionário, humilde e responsável, o cumprimento de suas obrigações para com o povo angolano de que somos emanação!

A paz constrói-se não só com justiça, por que a paz constrói-se acima de tudo com justiça social, com dignidade, com solidariedade, o que impõe essas capacidades de amor e perseverança, numa constante mobilização que deve revitalizar todo o tecido patriótico e gerar a unidade e a coesão tão necessárias, para além do mais na exigência ao aprofundamento da democracia, na gestação do gérmen imperioso da cultura de inteligência e segurança nacional e duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável que seja um garante de futuro para todas as gerações que se nos seguem!

Construir a paz social deve ser um caminho longo, mas perene de responsabilidades que se dilata no espaço e no tempo, sublimando ética, moral e civicamente a mobilização humana que a todos e a cada um deve nortear, para que os ganhos alcançados, não sejam desperdiçados ou alguma vez ingloriamente perdidos ou esbanjados por inépcia, por falta de patriotismo, ou por interposta alienação e mercenarismo, ou por falta de humanidade!

Martinho Júnior - Luanda, 30 de Março de 2018

Fotos do Museu Militar, de minha autoria e feitas a 2 de Dezembro de 2014

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