sexta-feira, 4 de maio de 2018

UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL III - (Continuação)


Martinho Júnior | Luanda 

5- A estrutura do quadro de oficiais operativos, na sua funcionalidade em tempo de guerra sustentava-se nos seguintes níveis e compatibilidades sigilosas ou clandestinas, obrigadas a juramento de fidelidade à pátria:

- Oficiais operativos que eram Directores Nacionais – não patenteados pelas FAPLA (FAA), que estiveram à frente de Direcções Nacionais ou de Direcções Provinciais, com responsabilidades operativas ou de apoio em termos de organização, disciplina, funcionalidade, rigor, fidelidade e cumprindo com obrigações de sigilo ou de clandestinidade; com o tempo tornou-se num restrito grupo de entidades sénior com responsabilidades que invariavelmente chegavam ao nível de questões consideradas de ordem estratégica;

- Oficiais operativos de escalão “A” – cumprindo com funcionalidades operativas ou de apoio enquanto Chefes de Departamento com âmbito e orientações específicas, sujeitos aos mesmos deveres e obrigações; são também considerados de oficiais sénior por vezes com responsabilidades também ao nível de questões de ordem estratégica, detendo um vasto manancial de informação secreta e capacidade de análise correspondente;

- Oficiais operativos de escalão “B” – cumprindo com funcionalidades ao nível de Chefes de Sector, tinham orientações operativas de carácter mais estrito, táctico e num nível considerado intermédio de toda a estrutura; este grupo era o mais versátil de todos e muitos oficiais deste nível preencheram lacunas de toda a ordem onde quer que fosse que elas temporariamente subsistissem no aparelho de estado (e não só no aparelho dos instrumentos de poder de estado);

- Oficiais operativos de escalão “C” – composto pelos oficiais operativos júnior, de mobilização e recrutamento recente, com escola de formação especializada, que preenchiam os detalhes das funcionalidades estruturais consideradas de base até ao nível de Secção, com especial relevância para o atendimento de pessoas de confiança e agentes secretos dos aparelhos de contra inteligência, inteligência, operações, missões e expedientes especiais pontuais, assim como os respectivos sistemas de apoio.


6- O escalonamento obrigava a, à medida que os oficiais operativos garantiam experiência e uma melhoria das capacidades práticas de actuação (medida quantas vezes através dos resultados das missões em que participavam), uma subida no escalão das funcionalidades passando muitas vezes do nível táctico para o estratégico, ainda que transitassem duma área para a outra (como por exemplo o caso frequente de trânsito entre a Contra Inteligência, as Operações, as Forças Especiais de Luta Contra Bandidos e a Informação e Análise).

Na esmagadora maioria dos casos o estado angolano à partida propiciava cursos de especialidade, dentro e fora do território nacional, com custos elevados de transporte, estadia (em regime de internamento) e de introdução aos conhecimentos que se exigiam para desafios desta natureza, na continuação dos cursos no exterior que haviam começado em 1974 em Cuba e noutros países socialistas, incluindo na URSS.

Esses custos além do mais devem ser tomados em linha de conta para a actual definição do quadro de oficiais operativos apontados à reforma e à reinserção social, pois o abandono a que muitos têm sido votados, é um desperdício de lesa pátria propiciado por aqueles que afinal durante décadas têm demonstrado ser incapazes de encontrar as soluções mais aferidas às obrigações para com o estado angolano (fiel depositário dos interesses de todo o povo angolano), nos termos dos seus próprios recursos humanos e materiais.

Esses cursos por seu turno, podiam fornecer dados importantes sobre o carácter e a sensibilidade de cada quadro (também algo de carácter pessoal e sigiloso), tanto quanto o introduziam no universo de quesitos dum aparelho tão especializado como o de segurança e inteligência do estado, básico para a gestação e apuramento duma ampla cultura de inteligência cujas primeiras obrigações e deveres eram defender intransigentemente a independência, a soberania e a identidade nacional, ela própria também em gestação, em reforço das orientações do líder, integrando os instrumentos do poder de estado.

Assim sendo os oficiais operativos tiveram espaços e longevidades distintas uns dos outros, marcando curriculuns distintos uns dos outros e marcados por vezes com situações de afectação extrema para as suas vidas pessoais e familiares, pelo que necessário se torna, em termos de enquadramento com vista à reinserção social e à reforma, detalhar o percurso de cada um, caso a caso, até por que há instituições distintas para as reformas (Instituto Nacional de Segurança Social e Caixa de Protecção Social do MININT) prontas para acolher as decisões a tomar.

Os oficiais operativos cumpriam funcionalidades em tempo de guerra em organismos tão distintos como Inteligência Externa, Contra Inteligência Geral (e uma panóplia muito grande de Departamentos especializados), Informação e Análise, Operações, Técnica Operativa Secreta (também com um aparato importante de Departamentos, Sectores e Secções apetrechados de meios secretos e classificados), Unidades Especiais, Transportes, Logística, Pessoal e Quadros, etc.

O exemplo do Unidade Especial que preenchia quesitos de ordem geoestratégica foi o das Forças Especiais de Luta Contra Bandidos do Bié, criadas em 1976, que actuavam na medula da geoestratégica região central das grandes nascentes para fazer face a uma subversão que tinha sido criada pelo colonialismo português precisamente a partir dela, com os conhecimentos adequados a garantir a sua máxima longevidade, conforme aliás se veio a registar.

Na altura da sua criação era Governador Provincial do Bié o camarada Faustino Muteka, ele próprio um quadro proveniente dos organismos de segurança e inteligência.

Os impulsionadores dessa iniciativa foram os camaradas Iko Carreira e Ludy Kissassunda, os primeiros (comandantes de coluna) a assinarem a proclamação das FAPLA e dois dos principais alvos das inteligências que a todo o custo tiveram o núcleo duro do MPLA, por tabela do estado angolano, em tempo de guerrilha como depois da independência, como referência prioritária para procurar minar, dividir, subverter e manipular.

Extinguir essa Unidade Especial no âmbito do Acordo de Bicesse, só não custou mais caro a Angola por que mesmo marginalizados e votados ao ostracismo, foi uma parte dos seus membros que garantiu com unhas e dentes a defesa e a inviolabilidade da cidade do Kuito, capital do Bié, quando das ofensivas de Savimbi durante a “guerra dos diamantes de sangue”, participando em muitas batalhas e na Operação Restauro da retomada do Andulo.

Hoje muitos dirigentes com pompa e circunstância visitam o Cemitério Museu onde repousam muitos combatentes da longa batalha do Kuito, mas continuam a votar ao ostracismo esses combatentes, que se encontram instalados em cooperativas agrícolas que é necessário melhor impulsionar, sobretudo no Kuito, na Chipeta e em Catabola.

(Continua)

Martinho Júnior - Luanda, 1 de Maio de 2018

Fotos de reportagem:
Assembleia de membros da ASPAR, no dia 20 de Julho de 2011, em Benfguela;
Assembleia de membros da ASPAR no Kuito (Bié), no dia 15 de Junho de 2011;
Assembleia de associados da ASPAR no Huambo, a 17 de Junho de 2011;
Visita à Cooperativa do Colango, a 18 de Junho de 2011;
Orientação para os trabalhos da Cooperativa do Colango a 21 de Julho de 2011.

Anteriores:
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia.html
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia_2.html

Sem comentários:

Mais lidas da semana