Martinho Júnior | Luanda
5- A estrutura do quadro de
oficiais operativos, na sua funcionalidade em tempo de guerra sustentava-se nos
seguintes níveis e compatibilidades sigilosas ou clandestinas, obrigadas a
juramento de fidelidade à pátria:
- Oficiais operativos que eram
Directores Nacionais – não patenteados pelas FAPLA (FAA), que estiveram à
frente de Direcções Nacionais ou de Direcções Provinciais, com
responsabilidades operativas ou de apoio em termos de organização, disciplina,
funcionalidade, rigor, fidelidade e cumprindo com obrigações de sigilo ou de
clandestinidade; com o tempo tornou-se num restrito grupo de entidades sénior
com responsabilidades que invariavelmente chegavam ao nível de questões
consideradas de ordem estratégica;
- Oficiais operativos de
escalão “A” – cumprindo com funcionalidades operativas ou de apoio
enquanto Chefes de Departamento com âmbito e orientações específicas, sujeitos
aos mesmos deveres e obrigações; são também considerados de oficiais sénior por
vezes com responsabilidades também ao nível de questões de ordem estratégica,
detendo um vasto manancial de informação secreta e capacidade de análise
correspondente;
- Oficiais operativos de
escalão “B” – cumprindo com funcionalidades ao nível de Chefes de
Sector, tinham orientações operativas de carácter mais estrito, táctico e num
nível considerado intermédio de toda a estrutura; este grupo era o mais
versátil de todos e muitos oficiais deste nível preencheram lacunas de toda a
ordem onde quer que fosse que elas temporariamente subsistissem no aparelho de
estado (e não só no aparelho dos instrumentos de poder de estado);
- Oficiais operativos de
escalão “C” – composto pelos oficiais operativos júnior, de
mobilização e recrutamento recente, com escola de formação especializada, que
preenchiam os detalhes das funcionalidades estruturais consideradas de base até
ao nível de Secção, com especial relevância para o atendimento de pessoas de
confiança e agentes secretos dos aparelhos de contra inteligência,
inteligência, operações, missões e expedientes especiais pontuais, assim como
os respectivos sistemas de apoio.
6- O escalonamento obrigava a, à
medida que os oficiais operativos garantiam experiência e uma melhoria das
capacidades práticas de actuação (medida quantas vezes através dos resultados
das missões em que participavam), uma subida no escalão das funcionalidades
passando muitas vezes do nível táctico para o estratégico, ainda que
transitassem duma área para a outra (como por exemplo o caso frequente de
trânsito entre a Contra Inteligência, as Operações, as Forças Especiais de Luta
Contra Bandidos e a Informação e Análise).
Na esmagadora maioria dos casos o
estado angolano à partida propiciava cursos de especialidade, dentro e fora do
território nacional, com custos elevados de transporte, estadia (em regime de
internamento) e de introdução aos conhecimentos que se exigiam para desafios
desta natureza, na continuação dos cursos no exterior que haviam começado em
1974 em Cuba e noutros países socialistas, incluindo na URSS.
Esses custos além do mais devem
ser tomados em linha de conta para a actual definição do quadro de oficiais
operativos apontados à reforma e à reinserção social, pois o abandono a que
muitos têm sido votados, é um desperdício de lesa pátria propiciado por aqueles
que afinal durante décadas têm demonstrado ser incapazes de encontrar as
soluções mais aferidas às obrigações para com o estado angolano (fiel
depositário dos interesses de todo o povo angolano), nos termos dos seus
próprios recursos humanos e materiais.
Esses cursos por seu turno,
podiam fornecer dados importantes sobre o carácter e a sensibilidade de cada
quadro (também algo de carácter pessoal e sigiloso), tanto quanto o introduziam
no universo de quesitos dum aparelho tão especializado como o de segurança e
inteligência do estado, básico para a gestação e apuramento duma ampla cultura
de inteligência cujas primeiras obrigações e deveres eram defender
intransigentemente a independência, a soberania e a identidade nacional, ela
própria também em gestação, em reforço das orientações do líder, integrando os
instrumentos do poder de estado.
Assim sendo os oficiais
operativos tiveram espaços e longevidades distintas uns dos outros, marcando
curriculuns distintos uns dos outros e marcados por vezes com situações de
afectação extrema para as suas vidas pessoais e familiares, pelo que necessário
se torna, em termos de enquadramento com vista à reinserção social e à reforma,
detalhar o percurso de cada um, caso a caso, até por que há instituições
distintas para as reformas (Instituto Nacional de Segurança Social e Caixa de
Protecção Social do MININT) prontas para acolher as decisões a tomar.
Os oficiais operativos cumpriam
funcionalidades em tempo de guerra em organismos tão distintos como
Inteligência Externa, Contra Inteligência Geral (e uma panóplia muito grande de
Departamentos especializados), Informação e Análise, Operações, Técnica
Operativa Secreta (também com um aparato importante de Departamentos, Sectores
e Secções apetrechados de meios secretos e classificados), Unidades Especiais,
Transportes, Logística, Pessoal e Quadros, etc.
O exemplo do Unidade Especial que
preenchia quesitos de ordem geoestratégica foi o das Forças Especiais de Luta
Contra Bandidos do Bié, criadas em 1976, que actuavam na medula da
geoestratégica região central das grandes nascentes para fazer face a uma
subversão que tinha sido criada pelo colonialismo português precisamente a
partir dela, com os conhecimentos adequados a garantir a sua máxima
longevidade, conforme aliás se veio a registar.
Na altura da sua criação era
Governador Provincial do Bié o camarada Faustino Muteka, ele próprio um quadro
proveniente dos organismos de segurança e inteligência.
Os impulsionadores dessa
iniciativa foram os camaradas Iko Carreira e Ludy Kissassunda, os primeiros
(comandantes de coluna) a assinarem a proclamação das FAPLA e dois dos
principais alvos das inteligências que a todo o custo tiveram o núcleo duro do
MPLA, por tabela do estado angolano, em tempo de guerrilha como depois da
independência, como referência prioritária para procurar minar, dividir,
subverter e manipular.
Extinguir essa Unidade Especial
no âmbito do Acordo de Bicesse, só não custou mais caro a Angola por que mesmo
marginalizados e votados ao ostracismo, foi uma parte dos seus membros que
garantiu com unhas e dentes a defesa e a inviolabilidade da cidade do Kuito,
capital do Bié, quando das ofensivas de Savimbi durante a “guerra dos
diamantes de sangue”, participando em muitas batalhas e na Operação Restauro da
retomada do Andulo.
Hoje muitos dirigentes com pompa
e circunstância visitam o Cemitério Museu onde repousam muitos combatentes da
longa batalha do Kuito, mas continuam a votar ao ostracismo esses combatentes,
que se encontram instalados em cooperativas agrícolas que é necessário melhor
impulsionar, sobretudo no Kuito, na Chipeta e em Catabola.
(Continua)
Martinho Júnior - Luanda, 1 de Maio de 2018
Fotos de reportagem:
Assembleia de membros da ASPAR,
no dia 20 de Julho de 2011, em Benfguela;
Assembleia de membros da ASPAR no
Kuito (Bié), no dia 15 de Junho de 2011;
Assembleia de associados da ASPAR
no Huambo, a 17 de Junho de 2011;
Visita à Cooperativa do Colango,
a 18 de Junho de 2011;
Orientação para os trabalhos da
Cooperativa do Colango a 21 de Julho de 2011.
Anteriores:
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA
ORGIA NEOLIBERAL – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia.html
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA
ORGIA NEOLIBERAL – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia_2.html
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