Lúcio
Bellentani, um dos operários da Volkswagen torturado depois de delatado pela
empresa ao DOPS
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Acionistas críticos acabam de
revelar, em assembleia da corporação: diretoria sabia da tortura de operários
sob a ditadura — mas colaborou com ela e a acobertou
Christian Russau | Outras
Palavras
Amigas e amigos no Brasil, que
estão interessados no caso Volkswagen e a colaboração com a ditadura militar
pós-1964: hoje fui à assembleia anual dos acionistas da empresa, que teve lugar
aqui em Berlim, e lhes dou um rápido relato daí.
Acusei à Volkswagen de que a tese
deles — segundo a qual a colaboração deles com a ditadura e o fornecimento de
informações aos agentes de repressão — teria sido um ato unilateral do chefe de
segurança Adhemar Rudge, é tentativa de enganar o público. Tanto o relatório de
Christopher Kopper quanto o relatório de Guaracy Mingardi falam claramente que
a diretoria de Volkswagen sabia dos fatos. Por isso, tornou-se cúmplice no
procedimento de entregar supostos militantes à tortura.
O fato um diretor da Volkswagen
do Brasil ir para a casa da esposa de Heinrich
Plagge (supervisor de qualidade da empresa e membro do PCB) no dia que
ele foi preso no trabalho e levado àos porões do DOPS; e de dizer a ela que o
marido teve de viajar de urgência em nome da empresa e por isso não teve tempo
de avisá-la representa a tentativa de ocultar e encobrir os crimes de sequestro
político.
Acrescentei que, segundo o
relatório de Christian Kopper, tanto o público no Brasil e na Alemanha sabia
que no Brasil os agentes de repressão torturavam. Um então diretor de
Volkswagen no Brasil, Werner Paul Schmidt, foi citado no jornal Süddeutsche
Zeitung(16.2.1973) com as palavras: “É certo que a polícia e os militares no
Brasil torturam para conseguir informações importantes. É certo que nos casos
dos subversivos políticos não se celebra um processo judicial, mas um
jornalismo objetivo sempre deveria mencionar também, que sem mão dura não se
avança. E [atualmente] está avançando”. Conclusão óbvia: os diretores alemães
da Volkswagen do Brasil sabiam que os trabalhadores da empresa (sobre os quais
a segurança interna informava aos agentes de repressão do DOPS) iriam ser
torturados. Isso configura o crime de co-autoria voluntária, informada e ativa
para a tortura.
Como os diretores da Volkswagen
do Brasil na época eram alemães, sendo contratados e pagos na Alemanha, eles
eram representantes legais e diretos da sede em Wolfsburg (fato jurídico
importante, porque segundos nossos advogados isso introduz a responsabilidade
jurídica da Alemanha). Portanto, a diretoria da Volkswagen mundial era
co-responsável diretamante pelos crimes acima mencionados.
Exigimos da Volkswagen que assuma
sua responsabilidade histórica, que peça publicamente perdão aos trabalhadores
e que entre imediatamente em negociações por meio do Ministério Público e com
os trabalhadores para pagar logo indenizações adequadas.
As respostas da Volkswagen:
“Nós fomos os primeiros no Brasil
a assumir responsabilidade histórica sobre as questões no que concerne à
atuação de empresas entre 1964 até 1985. Encomendamos o estudo do professor
Christopher Kopper, e publicamos, em dezembro do ano passado, o relatório final
dele em São Paulo. Como gesto e compromisso com a democracia no Brasil e para o
fortalecimento da atuação da sociedade civil brasileira a Volkswagen do Brasil
acabou de se comprometer à financiar atividades e ações de entidades de
direitos humanos. Outras possíveis implicações futuras serão discutidos e no
momento apropriado serão decididos.“
Se eles argumentam assim, temos
que aumentar a pressão…
Abraço à todas e todos que
contribuiram para a nossa luta contra a Volkswagen. A luta continua!
PS: Minha fala (tudo em alemão,
infelizmente não temos capacidades de traduzi-la para o português) está aqui: https://www.kooperation-brasilien.org/…/vw-und-die-militaer…
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