sexta-feira, 4 de maio de 2018

Os crimes da Volkswagen denunciados na Alemanha

Lúcio Bellentani, um dos operários da Volkswagen torturado depois de delatado pela empresa ao DOPS

Acionistas críticos acabam de revelar, em assembleia da corporação: diretoria sabia da tortura de operários sob a ditadura — mas colaborou com ela e a acobertou

Christian Russau | Outras Palavras

Amigas e amigos no Brasil, que estão interessados no caso Volkswagen e a colaboração com a ditadura militar pós-1964: hoje fui à assembleia anual dos acionistas da empresa, que teve lugar aqui em Berlim, e lhes dou um rápido relato daí.

Acusei à Volkswagen de que a tese deles — segundo a qual a colaboração deles com a ditadura e o fornecimento de informações aos agentes de repressão — teria sido um ato unilateral do chefe de segurança Adhemar Rudge, é tentativa de enganar o público. Tanto o relatório de Christopher Kopper quanto o relatório de Guaracy Mingardi falam claramente que a diretoria de Volkswagen sabia dos fatos. Por isso, tornou-se cúmplice no procedimento de entregar supostos militantes à tortura.

O fato um diretor da Volkswagen do Brasil ir para a casa da esposa de Heinrich Plagge (supervisor de qualidade da empresa e membro do PCB) no dia que ele foi preso no trabalho e levado àos porões do DOPS; e de dizer a ela que o marido teve de viajar de urgência em nome da empresa e por isso não teve tempo de avisá-la representa a tentativa de ocultar e encobrir os crimes de sequestro político.

Acrescentei que, segundo o relatório de Christian Kopper, tanto o público no Brasil e na Alemanha sabia que no Brasil os agentes de repressão torturavam. Um então diretor de Volkswagen no Brasil, Werner Paul Schmidt, foi citado no jornal Süddeutsche Zeitung(16.2.1973) com as palavras: “É certo que a polícia e os militares no Brasil torturam para conseguir informações importantes. É certo que nos casos dos subversivos políticos não se celebra um processo judicial, mas um jornalismo objetivo sempre deveria mencionar também, que sem mão dura não se avança. E [atualmente] está avançando”. Conclusão óbvia: os diretores alemães da Volkswagen do Brasil sabiam que os trabalhadores da empresa (sobre os quais a segurança interna informava aos agentes de repressão do DOPS) iriam ser torturados. Isso configura o crime de co-autoria voluntária, informada e ativa para a tortura.

Como os diretores da Volkswagen do Brasil na época eram alemães, sendo contratados e pagos na Alemanha, eles eram representantes legais e diretos da sede em Wolfsburg (fato jurídico importante, porque segundos nossos advogados isso introduz a responsabilidade jurídica da Alemanha). Portanto, a diretoria da Volkswagen mundial era co-responsável diretamante pelos crimes acima mencionados.

Exigimos da Volkswagen que assuma sua responsabilidade histórica, que peça publicamente perdão aos trabalhadores e que entre imediatamente em negociações por meio do Ministério Público e com os trabalhadores para pagar logo indenizações adequadas.

As respostas da Volkswagen:

“Nós fomos os primeiros no Brasil a assumir responsabilidade histórica sobre as questões no que concerne à atuação de empresas entre 1964 até 1985. Encomendamos o estudo do professor Christopher Kopper, e publicamos, em dezembro do ano passado, o relatório final dele em São Paulo. Como gesto e compromisso com a democracia no Brasil e para o fortalecimento da atuação da sociedade civil brasileira a Volkswagen do Brasil acabou de se comprometer à financiar atividades e ações de entidades de direitos humanos. Outras possíveis implicações futuras serão discutidos e no momento apropriado serão decididos.“

Se eles argumentam assim, temos que aumentar a pressão…

Abraço à todas e todos que contribuiram para a nossa luta contra a Volkswagen. A luta continua!

PS: Minha fala (tudo em alemão, infelizmente não temos capacidades de traduzi-la para o português) está aqui: https://www.kooperation-brasilien.org/…/vw-und-die-militaer…

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