FOI PERDOADO UM PENALTI AO
BENFICA EM ALVALADE. O VAR NÃO VIU?
O facto de se ser benfiquista ou
de outro qualquer clube desportivo não invalida que vejamos o futebol tal qual
ele acontece e houve um penalti por marcar ao Benfica a razar os primeiros 20
minutos do encontro. Foi estranho o chamado VAR (vídeo arbitro) não ter visto. Deduz-se
que foi para não matar logo ali a águia que vendeu (dispensou) jogadores
cruciais desfalcando a equipa. Rui Vitória nunca o disse mas assim dificilmente
seria pentacampeão. Todos o encarnados fizeram os possíveis e os impossíveis
para levar o Benfica ao penta… Assim era muito difícil. Depois ainda mais com
as lesões ocorridas e Jonas fez a falta crucial para o “não-penta”. Mesmo assim
foi feito um bom trabalho, mas o FC Porto foi mais homogéneo, mais constante,
mais estável. Mereceu ser campeão.
Quanto ao VAR, voltamos ao mesmo,
agravadamente. Como foi possível ele não ver o tal penalti contra o Benfica? É
que nos monitores não existem desculpas. Critérios errados por parte do VAR
retiram a credibilidade àquela nova modalidade de visionamento e reposição da
verdade desportiva. Afinal será mais um árbitro em que não podemos confiar. Porque
acontece assim é objecto de justificáveis desconfianças e o VAR não está ali a
fazer falta alguma. É só mais um… a falhar.
Segue-se a análise do jogo via
Notícias ao Minuto e depois um trabalho apresentado no Expresso em que
sobressai Sérgio Conceição. Merecidamente ele. Sigam para o campeão do norte de
Portugal, que ainda agora está em festa, mais logo continuará a festa e amanhã
será tempo das grandes ressacas de entusiasmo, de alegria, de excessos de
felicidade e de… álcool comemorativo. Parabéns e juízo, felizes tripeiros (PG).
Um por um: Dérbi sem golos e
sem... 'brilhantismo'
Sporting e Benfica terminaram o
dérbi de Lisboa sem golos (0-0), em jogo referente à 33.ª jornada da I Liga.
Odérbi entre Sporting e Benfica
terminou com um empate (0-0), entregando o título de campeão nacional ao FC
Porto. Apesar da intensidade, faltou eficácia às duas equipas, que não
conseguiram concretizar as oportunidades registadas.
Na primeira parte, o Benfica
esteve por cima no encontro, com excelentes ocasiões para marcar, mas valeu Rui
Patrício a evitar o 'pior'. Já o Sporting, mostrava dificuldades em reagir à
superioridade dos encarnados, principalmente, em conseguir ‘furar’ o muro
montado com Fejsa, Samaris e Pizzi, no meio-campo.
No segundo tempo, os leões
entraram mais organizados e a conseguir adaptar-se à estratégia de Rui Vitória.
Com um jogo mais aberto e equilibrado, voltou a falhar a eficácia nas
oportunidades criadas pelas duas equipas para desatar o nó do empate, que
acabou por se manter até ao apito final.
Confira, à lupa, a exibição dos
protagonistas:
Sporting
Rui Patrício: Neste dérbi,
foi ‘São Patrício’. Perante as oportunidades criadas pelo Benfica, o
guarda-redes leonino fez várias defesas ‘gigantes’, impedindo que o adversário
marcasse.
Piccini: Discreto e
assertivo. Cumpriu o seu papel, mas podia ter ajudado mais no capítulo
ofensivo.
Coates: O patrão da defesa
leonina esteve à sua semelhança, com uma boa organização defensiva.
Mathieu: Tal como Coates, o
central francês esteve bem no seu papel, não comprometendo a defesa dos leões,
sempre que chamado à ação.
Coentrão: Apesar de ter
protagonizado dois remates para o Sporting – um deles com perigo -, deixou um
pouco a ‘desejar’ no capítulo defensivo, dando espaço, do lado esquerdo, para o
Benfica explorar aquela ala.
William Carvalho: Regressado
de lesão, o médio leonino não convenceu. Foi claramente um sinal menos.
Battaglia: Tem sido um
hábito as boas exibições de Battaglia. O argentino deu muita luta no
meio-campo, seguro de si mesmo.
Bryan: Surgiu no lugar de
Acuña, mas sem grande destaque. O costa-riquenho esteve um pouco ‘fora do
jogo’.
Gelson Martins: Voltou a ser o
‘espalha brasas’ do costume. Agitou e tentou dar mais dinâmica ao jogo.
Bruno Fernandes: Não foi a noite
de maior inspiração de Bruno Fernandes. É verdade que o português não sabe
‘jogar mal’, porém, não conseguiu impor o seu jogo.
Bas Dost: Protagonizou a melhor
oportunidade para o Sporting, em cima do intervalo, mas não conseguiu
concretizar da melhor forma.
Acuña: O argentino entrou
para a saída de William Carvalho (63’) e trouxe mais equilíbrio e dinâmica à
equipa, mexendo no jogo.
Misic: Entrou bem (83’),
porém, não esteve em campo tempo suficiente para fazer a diferença.
Lumor: Entrou aos 90
minutos, não tendo tempo para acrescentar nada ao jogo.
Benfica
Bruno Varela: Com menos
trabalho do que Rui Patrício, Bruno Varela também esteve bem na partida.
Concentrado em impedir as investidas leoninas.
Grimaldo: Cumpriu bem a
tarefa defensiva, sem comprometer a equipa.
Rúben Dias: Esteve bem na
partida mas continua com algum excesso de ‘agressividade’ na abordagem a alguns
lances. Podia ter visto o cartão vermelho.
Jardel: Regressou à
titularidade numa noite tranquila. Falhou, apenas, no lance de Bas Dost, em
cima do intervalo.
Douglas: Surgiu no lugar do
lesionado André Almeida, ofensivamente registou uma exibição bastante positiva,
mas falhou no capítulo defensivo.
Fejsa: Sinal mais do
Benfica. O jogador concentrou-se, sobretudo, em impedir que o Sporting saísse a
jogar.
Samaris: O grego apareceu, a
espaços, na tarefa ofensiva das águias. Manteve uma exibição constante.
Pizzi: Continua sem
‘convencer’, esta temporada, sem conseguir acrescentar nada de especial ao
jogo.
Zivkovic: Tentou fazer a
diferença no jogo, principalmente, em velocidade. Tentou criar oportunidades
para oferecer o golo ao Benfica.
Rafa: Registou uma exibição
positiva, com uma forte dinâmica e intensidade. Tal como Fejsa, foi um dos
destaques do Benfica.
Jiménez: Esteve ‘apagado’,
não conseguiu ‘explodir’ como necessário.
Salvio: Contrariamente aos
últimos jogos, o jogador ‘saltou do banco’ mas não conseguiu melhorar o
capítulo da eficácia.
Jonas: Regressou de lesão,
mas não teve tempo para fazer a diferença.
Cervi: Entrou muito perto do
apito final, sem tempo para impor o seu jogo.
Andreia Brites Dias | Notícias ao
Minuto | Foto: Global Imagens
FC PORTO JÁ É CAMPEÃO 2017/18
O homem que derrotou o mundo
Agora que é campeão e que pode
discutir a continuidade nos seus próprios termos, é tempo de recuperar e
refletir sobre o que se disse e se escreveu a propósito deste treinador
Fomos todos particularmente
preconceituosos nos adjetivos que pusemos a Sérgio Conceição quando se tornou
evidente de que seria ele, e não Marco Silva, o sucessor de Nuno Espírito Santo
no Porto.
Não foi por mal.
Na realidade, foi sempre assim.
Na bola costumamos
irremediavelmente praticar aquilo que na lógica se chama generalização
precipitada, ou seja, concluir rapidamente que fulano é assim e assado, porque
fez precisamente isto e aquilo e mais um par de botas.
No caso de Sérgio, ainda assim,
havia algumas atenuantes para as análises estouvadas que se escreveram,
incluindo as minhas - o homem tem, de facto, o sangue quente e há vários
episódios efervescentes que o provam. Como qualquer corporativista devidamente
doutrinado, irei generalizar uma vez mais sobre o que se disse a partir daquela
quinta-feira, 8 de junho de 2017, dia da oficialização.
A saber:
Sérgio era difícil de aturar e
chateara-se com os presidentes da Olhanense, da Académica, do Guimarães e do
Brago, e isso era muito.
Sérgio tinha jogado pelas
melhores equipas e nos melhores estádios e havia inclusivamente um estádio com
o nome dele em Coimbra, o que não era para todos - ah, e marcara três golos à
Alemanha no Euro2000, o que é para ainda menos.
Depois, Sérgio era portista; bom,
Sérgio fez-se portista, porque nasceu numa família pobre e numa vizinhança e
numa aldeia profundamente sportinguistas, mas isso passou-lhe quando assinou pelo
FC Porto pela primeira vez, em 1996. No dia seguinte a tornar-se oficiosamente
portista, o pai morreu num acidente de moto, na moto em que costumava levá-lo
aos treinos quando era puto - pouco depois, faleceu a mãe e a orfandade
enrobusteceu-lhe o caráter e a rebeldia. Nesse momento, falou-se então, Sérgio
ganhou o direito a dizer que tudo o que conquistou, foi à conta dele. O que era
verdade.
Mas também era verdade que
Sérgio, por ter mau feitio, mau perder, garra, por se chatear por dá cá aquela
palha e por ser rebelde, não aguentava muito tempo no mesmo sítio.
Ora, o Porto, sem dinheiro e sem
títulos há não sei quantos anos, estava mesmo a pedi-las quando foi contratar
um tipo destes, só carisma e pouco mais, ainda por cima sabendo ele que não era
a primeira opção do seu presidente favorito.
Só que no meio deste chorrilho de
certezas irresistíveis, esquecemo-nos de alguns pormenores, a começar por este:
Sérgio Paulo Marceneiro Conceição. Três nomes bíblicos e uma profissão amigada
à do pai de Cristo não são um acaso, mas um sinal.
Pois então, Sérgio, como um
carpinteiro de habilidades sobrenaturais, pegou em meros toros de madeira que
já ninguém queria, ou que queriam à força, e transformou-os em obras de arte
tosca, sim, mas irresistivelmente eficaz. E, então, apareceram Marega a marcar
golos em série como se fosse um ponta de lança prodigioso - que não é -, Danilo
a subir no terreno feito médio de condução - que também não é - e Brahimi a
defender as costas de Telles em jeito de sacrifício - que não fazia, antes de
Sérgio aparecer na vida dele.
Chegámos todos à conclusão de que
Sérgio Conceição era um mestre motivacional, ainda que por estas bandas já cá
houvesse um de semelhantes características. E quando ele errou, também todos
lhe anunciámos prematuramente o fim. Aconteceu quando o Porto perdeu contra o
Besiktas ou contra o Paços de Ferreira ou contra o Liverpool, e, sobretudo,
quando o caso-Casillas se tornou tema de conversa, servindo de paradigma para o
treinador dito conflituoso e über rigoroso.
Na altura, Conceição não quis
abrir exceções e arriscou o pescoço, pois o espanhol era (e é) factualmente o
jogador com maior currículo que alguma vez pisara um pedacinho de relva em
Portugal; mais importante do que isso, Casillas era bem melhor do que José Sá.
Mas Sérgio lá provou que
estávamos todos errados, demonstrando-nos que era muito mais do que um xamã da
estirpe macho lusitano. Vimos isso na forma como mexeu na equipa nos jogos
contra os grandes para a Liga e na forma como mexeu com todas as conferências
de imprensa em que participou.
Agora que se sagrou campeão,
discute-se a sua continuidade no Porto. Não porque alguém o ponha em causa, mas
porque ele é um rebelde de causas. Tendo ganho esta, poderá escolher outra, nos
seus próprios termos. Também conquistou esse direito.
PEDRO
CANDEIAS | Expresso
Tática e estratégia: o modelo de
Sérgio Conceição que deu o campeonato ao FC Porto
A atacar, a defender e a
transitar - o analista de futebol Tiago Teixeira explica como é que o FC Porto
de Sérgio Conceição jogou e conquistou a Liga 2017/18
Desde o primeiro jogo oficial
desta época (vitória por 4-0 contra o Estoril, no estádio do Dragão) que Sérgio
Conceição demonstrou qual o modelo de jogo que queria implementar no seu FC
Porto, e de que maneira esse modelo podia potenciar as características
individuais dos jogadores que dispunha.
Vamos por partes.
MOMENTO DEFENSIVO
Organizado em 4-4-2, foi durante
toda a época um FC Porto bastante competente no momento defensivo, tanto a
nível individual (muitos duelos ganhos) como a nível coletivo, não permitindo
aos seus adversários criar muitas oportunidades de golo durante os 90 minutos.
Em bloco baixo ou médio, a equipa
de Sérgio Conceição apresentou-se com as linhas bastante juntas, coordenadas e
posicionadas para orientar a construção do adversário para os corredores
laterais.
A 1ª linha de pressão é composta
pelos dois avançados, sempre posicionados em diagonal para não deixar o médio
defensivo adversário receber a bola nas suas costas. A linha média tem os dois
médios centro também na diagonal para diminuir o espaço entre linhas e proteger
o espaço à frente dos dois centrais, e os dois extremos sempre articulados com
os médios, preocupados em fechar o corredor central quando a bola se encontrava
no lado oposto.
Em bloco alto, isto é, quando
quis condicionar a primeira fase de construção do adversário, foi sempre um FC
Porto muito agressivo e muito competente na maneira como pressionou.
Numa primeira linha pressão, os
dois avançados sempre a pressionarem os dois centrais adversários e um dos
médios a acompanhar o médio adversário que recuava para receber a bola perto
dos centrais, para que este não recebesse a bola com espaço.
Mais atrás, uma linha de três (o
médio defensivo e os dois extremos) posicionada no corredor central, sendo que
os dois extremos se encontravam sempre preparados para pressionar os laterais
adversários caso a bola chegasse a eles.
MOMENTO OFENSIVO
Não se pode dizer que tenha sido
um FC Porto muito criativo no seu processo ofensivo durante a presente época,
mas é inegável que na maior parte dos jogos os portistas foram extremamente
fortes naquilo que o seu treinador definiu para o momento ofensivo.
Uma capacidade tremenda para
conquistar o espaço nas costas da linha defensiva adversária através dos
movimentos de rutura da dupla de avançados e a muita presença e agressividade
em zonas de finalização para corresponder aos cruzamentos foram, juntamente com
as bolas paradas, as grandes armas do FC Porto a nível ofensivo.
A ideia de Sérgio Conceição
passou sempre por ter os laterais muito projetados de modo a darem largura e
profundidade ao ataque do Porto e com isso permitir que os extremos se
posicionassem no corredor central para receber a bola entre linhas e servir os
movimentos de rutura dos avançados, como aconteceu neste lance que serve de
exemplo.
Alex Telles a dar largura no
corredor lateral esquerdo e Brahimi posicionado no espaço entre os defesas e os
médios adversários. Assim que Brahimi recebeu a bola e se virou para a baliza
adversária apareceu logo o movimento de rutura de Marega, que recebeu a bola já
nas costas da linha defensiva adversária.
Mesmo nas situações em que
Brahimi recebia a bola ainda com os médios adversários pela frente, a procura
dos movimentos de rutura dos avançados é uma constante. No lance que serve de
exemplo, apesar de Brahimi ainda ter à sua frente a linha média e a linha
defensiva adversária, procurou logo servir Marega nas costas dos defesas do
Marítimo.
Também em transição foi um Porto
demolidor sempre que houve espaço nas costas da linha defensiva adversária.
Brahimi foi sempre a principal referência para conduzir as transições
(qualidade em condução e perceção do momento para soltar a bola).
Recebia a bola e conduzia para
depois servir os movimentos de rutura dos avançados nas costas da linha
defensiva do adversário.
Com o adversário num bloco mais
baixo, o FC Porto foi sempre uma equipa muito perigosa através dos cruzamentos.
O posicionamento mais interior dos extremos (principalmente Brahimi) permitiu
várias vezes que os laterais (principalmente Alex Telles) recebessem a bola com
espaço e tempo suficiente para cruzar. Além da qualidade de execução de quem
cruzava, a ideia de Sérgio Conceição passou sempre por ter vários jogadores
agressivos e fortes nos duelos aéreos (Soares, Marega, Abubakar) em zonas de
finalização, o que acabou por se revelar determinante para a marcação de vários
golos através de cruzamentos.
A dimensão física esteve muito
presente no futebol praticado pelo FC Porto durante a época e apesar de alguns
acidentes de percurso (houve jogos em que faltou mais criatividade e
inteligência em vez de tanta velocidade e força), não há como negar que o FC Porto
foi bastante competente dentro do estilo de jogo que Sérgio Conceição definiu
como identidade.
Posto isto, parabéns ao Futebol
Clube do Porto pela conquista do campeonato!
*TIAGO TEIXEIRA, ANALISTA DE
FUTEBOL E CRIADOR DO BLOGUE DOMÍNIO TÁTICO | Expresso |Imagem: Gualter Fatia
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