Negociações sobre genocídio dos
povos herero e nama no tempo colonial duram há quase três anos. Tema passa
despercebido na Alemanha, mas na Namíbia cresce a revolta. País continua à
espera de pedido de desculpas oficial.
"As negociações secretas
bilaterais não são transparentes, são praticamente uma farsa", critica
Helin Evrin Sommer, do partido alemão A Esquerda (Die Linke). Ao que tudo
indica, nem os próprios membros do Bundestag, o Parlamento Federal alemão,
sabem exatamente em que pé estão as conversações entre a Alemanha e
a Namíbia.
Depois de um debate difícil,
tanto no país como no estrangeiro, políticos dos principais partidos alemães
foram unânimes em reconhecer que a Alemanha deve pedir desculpa pelo genocídio
na antiga colónia alemã no sudoeste africano, onde foram mortos
dezenas de milhares de herero e nama, entre 1904 e 1908. No entanto, a Namíbia
continua até hoje à espera de um pedido
de desculpas oficial.
No atual acordo
de coligação governamental não há uma única palavra sobre o genocídio.
E quando se questiona o Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre o tema, a
resposta de Berlim é quase sempre a mesma: "os documentos sobre as
reivindicações detalhadas da Namíbia e a oferta da Alemanha são secretos".
Quando as delegações dos dois
países se encontram, também não são claros os resultados das negociações. No
final dos encontros, tem sido emitido um curto comunicado de imprensa e pouco
mais. Na Alemanha, quase ninguém tem conhecimento das negociações. "O
Governo Federal quer adiar a questão", dizem os mais críticos como Helin
Evrin Sommer, que fala mesmo numa "tática para tentar colocar o tema
em segundo plano".
Críticas à Alemanha
Na Namíbia, as críticas sobem de
tom. Há algumas semanas, um colunista do jornal governamental "New
Era" acusou o embaixador da Alemanha, Christian Schlaga, de negar a culpa
alemã no genocídionum discurso que fez. Acusações que o embaixador rejeitou
veementemente. Christian Schlaga diz ter sido alvo de "declarações falsas,
mal-intencionadas, depreciativas e ofensivas".
Rumores sobre as negociações e
duras críticas ao Governo alemão são frequentes na imprensa namibiana. Os
jornais noticiam alegados progressos ou disputas nas negociações - informação
cuja veracidade nem sempre é possível verificar.
Representantes dos herero, por
exemplo, afirmaram que, depois da independência, terá havido um acordo secreto
entre os dois governos, segundo o qual a Namíbia renunciaria a compensações
diretas pelo genocídio e a Alemanha, em troca, prometia mais ajuda ao
desenvolvimento. Informação que ambos os governos negam.
"Esses rumores são
irritantes - por um lado, porque são errados e, por outro lado, porque podem
deteriorar o clima", critica em entrevista à DW África Ruprecht Polenz, o
principal negociador da Alemanha nas conversações com a Namíbia.
"A população está a perder a
paciência", afirma Maximilian Weylandt, do Institute for Public Policy Research
(IPPR), um centro de pesquisa independente da Namíbia. "Passados mais de
dois anos, ainda não há resultados e algumas pessoas questionam se a Alemanha
realmente está a negociar de boa fé e se está disposta a responder às
necessidades dos namibianos", disse Weylandt à DW.
De acordo com uma sondagem
realizada pelo IPPR, dois terços dos namibianos entrevistados são a favor de
compensações da Alemanha - algo que estava fora de questão para o Governo
Federal no início das negociações.
Governo da Namíbia sob pressão
Os namibianos também não se
mostram muito satisfeitos com seu próprio Governo. Menos da metade dos
entrevistados na sondagem do IPPR acredita que o Executivo está a negociar
"bem" ou "muito bem" com a Alemanha. Mais da metade
dos entrevistados quer que os representantes tradicionais dos povos herero e
nama participem nas negociações.
"Graças às intervenções de
alguns partidos da oposição no Parlamento e a algumas autoridades tradicionais
de vários grupos étnicos, muitos namibianos estão informados sobre as
negociações. Talvez eles tenham influenciado também a sua opinião", diz o
especialista Maximilian Weylandt.
Alguns líderes tradicionais
herero e nama criticam o Governo da Namíbia por ser muito brando com a
Alemanha. O seu envolvimento nas negociações está atualmente a ser discutido
num tribunal de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA).
A pressão parece estar a dar
resultados: Publicamente, o Governo da Namíbia aumentou
a pressão sobre a Alemanha. As autoridades também anunciaram recentemente
que o antigo campo de concentração alemão em Shark Island, no sul da Namíbia,
deverá ser transformado num memorial.
"O Governo Federal tem
grande interesse em concluir as negociações o mais rapidamente possível",
assegura o negociador alemão Ruprecht Polenz. Mas é importante que levem o
tempo que for necessário, para que os resultados também sejam aprovados pela
população, lembra Polenz, que não revela quando será a próxima ronda de
negociações.
Daniel Pelz, ms | Deutsche Welle
Imagem: Representação histórica
do genocídio na Namíbia
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