Restos mortais de Afonso Dhlakama
chegaram à morgue do Hospital da Cidade da Beira durante a madrugada, informou
o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo. Ainda não há data marcada para o funeral.
"Perdermos o nosso pai, o
nosso mestre, a pessoa que é a luz da maioria dos moçambicanos", referiu o
dirigente do partido em declarações à Televisão de Moçambique (TVM).
"Não tenho elementos
substanciais sobre aquilo que vai acontecer a partir de amanhã [sábado]",
acrescentou Manuel Bissopo, referindo que os membros do partido vão
"juntar-se com a família" para decidir sobre a sequência dos
acontecimentos.
"Em princípio, o funeral vai
ser feito na terra natal", em Mangunde, distrito de Chibabava, na província
de Sofala, de que a cidade da Beira é capital, referiu Bissopo. Ainda não há
data marcada para o funeral, acrescentou.
O líder
da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) morreu na quinta-feira
(03.05), aos 65 anos, devido a complicações de saúde. Dhlakama vivia
refugiado na serra da Gorongosa, no centro do país, desde 2016, como havia
feito noutras ocasiões, quando se reacendiam os confrontos entre a RENAMO e as
forças de defesa e segurança de Moçambique.
O Presidente de Moçambique, Filipe
Nyusi, disse que foram feitas tentativas para transferir Afonso Dhlakama
por via aérea para receber assistência médica no estrangeiro, mas sem sucesso.
Chissano espera que processo
continue
O antigo Presidente Joaquim
Chissano exprimiu hoje "uma grande mágoa" pela morte de Afonso
Dhlakama, mas referiu que "não é com a morte de uma pessoa que se perde
tudo", numa alusão ao processo de paz no país. "É uma grande
mágoa porque eu trabalhei com Dhlakama para trazer a paz a Moçambique e depois
continuei a contactar com ele", referiu o antigo chefe de Estado à Lusa, a
partir de Paris.
Joaquim Chissano era Presidente
da República quando a 4 de outubro de 1992 assinou com Afonso Dhlakama, em
Roma, o Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civil moçambicana.
"Todos nós sobreviventes
vamos continuar a trabalhar para o bem de Moçambique. Oxalá que o espírito que
[Dhlakama] ultimamente tinha abraçado continue a inspirar os que vêm a
seguir", sublinhou, destacando que as conversações com Nyusi corriam
bem.
Depois do luto, Chissano
considera importante que "todos os moçambicanos sigam o exemplo do que o
Presidente Nyusi fez com o presidente da Renamo: aceitar a diferença, olhar
para o bem da nação e completar o processo para que nunca mais haja guerra em
Moçambique". O antigo presidente espera que se consiga ir mais além,
"que haja realmente uma colaboração para o desenvolvimento, para se ganhar
todo o tempo perdido".
"Consequências
imprevisíveis"
O Nobel da Paz e ex-Presidente
timorense José Ramos-Horta considera que as consequências da morte do líder da
RENAMO para o processo de paz em Moçambique são imprevisíveis, cabendo aos
moçambicanos saber como aproveitar esta ocasião.
"A sua ausência pode
acelerar o processo de paz ou pode dificultar. Os irmãos moçambicanos melhor do
que eu, do que nós, saberão como aproveitar esta ocasião difícil para muitos
moçambicanos e tudo fazer para que a paz e a democracia sejam consolidadas em
Moçambique", disse o atual ministro de Estado timorense.
Considerando a morte de Dhlakama
uma "perda importante" para a RENAMO, Ramos-Horta disse que
"independentemente de, no seu passado, ter dirigido uma das maiores
carnificinas em guerra civil em Moçambique, também foi um dos coautores, ou
co-arquitetos, do Acordo de Paz de Roma que pôs fim àquela guerra
civil".
Incerteza
A imprensa internacional que está
a noticiar a morte de Afonso Dhlakama destaca a morte de um dos mais antigos
"guerrilheiros" em África e salienta que Moçambique poderá viver
tempos de incerteza no futuro próximo.
"O anúncio da morte deste
monumento da história moçambicana colocou o país em incerteza, apesar de
as conversações
de paz terem feito grandes progressos nos últimos meses", escreve
o jornal francês Le Monde na sua edição eletrónica, que segue de perto o texto
da agência de notícias francesa AFP.
Para o britânico The Guardian,
Afonso Dhlakama foi "um líder rebelde veterano que misturou a guerrilha
com a oposição política".
Agência Lusa, Leonel Matias
(Maputo) | em Deutsche Welle
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