Martinho Júnior | Luanda
1- O Orçamento Geral do Estado
angolano foi publicado de forma bastante completa no Diário da República Iª
Série, nº 29, de 1 de Março de 2018, numa iniciativa que se coaduna com o rigor
que se pretende instalar paulatinamente em relação aos órgãos que se constituem
no fiel depositário dos interesses e das aspirações de todo o povo angolano.
Uma parte substancial da vida
nacional reflete-se ali, algo que por si demonstra quão importante foi, é e vai
continuar a ser o estado, nos termos de suas ingentes e insubstituíveis
responsabilidades em relação a Angola, ao contrário do que alguns apregoam,
motivados pela orgia dos “mercados” neoliberais e pelas mais diversas
doutrinas, filosofias, ideologias e práticas alienadas, alienatórias e
mercenárias.
Esses pretendem a todo o custo
fazer crer o contrário e o argumento social-democrata, hipócrita e cínico,
socorre-os: os fins justificam os meios.
Uma onda selvagem pretende
socializar as perdas para o estado angolano e instituições afins (por exemplo,
bancos), fazendo reverter os lucros de forma egoísta, apropriando e
privatizando como uma autêntica “cosa nostra” no âmbito de processos
mafiosos que refletem interesses de grupos quantas vezes ilegitimamente
instalados nos próprios organismos e instituições do estado, a todos os níveis.
Em seu reforço foi criada a
figura “parcerias público-privadas”, para melhor sugar o estado angolano,
num processo de osmose por assimilação às projecções inscritas na actuação dos
que perfilhavam e perfilham (?) o “arco de governação” em Portugal,“facilitados” após
o Acordo de Bicesse e aptos para a inteligência económica do âmbito da terapia
neoliberal, obediente à hegemonia unipolar.
A terapia neoliberal tem vindo a
atirar Angola para uma situação de contínuo desastre acicatado com a crise
financeira por baixa do valor do barril de petróleo, assistindo-se à
apropriação indevida de património e de bens, numa escala sem precedentes,
particularmente visível em Luanda.
Esse “fenómeno” é
agravado ainda pelo abismo em direcção ao desastre ambiental: a orgia do lucro
fácil e especulativo, criou cada vez mais mercenários na saúde, na educação e
implantou um “apartheid social” que não escapa ao observador ais
atento do Google Earth: os ricos implantam-se junto às paradisíacas e arejadas
praias do litoral e, ao desalojarem delas os pobres utilizando a seu favor um
leque variado de expedientes que incluem os legais, atiram-nos para a fornalha
da imensa planície que se estende até ao Dondo, sem se preocuparem em criar o
mais pequeno parque natural para amenizar os ambientes que os recebem e
colocando-os à mercê das doenças tropicais atiçadas pela escalada de
aquecimento.
O argumento neoliberal pretende
criar condições para a apropriação, revertendo com motivações mercenárias e
oportunistas a favor de jogos de interesses de máfias egocentristas e egoístas,
algo que se desajusta por completo em relação às responsabilidades sociais,
provocando conflitos de interesses, desagregação intencional de estruturas e
instituições, corrupção, cada vez mais cancerosa quão dilacerante, alienações
de toda a ordem e por fim um “apartheid social” próprio duma situação
neocolonial.
As responsabilidades sociais do
estado angolano são inerentes a uma cultura de inteligência, de segurança e de
paz, o que demonstra a sua importância além do mais como um factor de
permanente mobilização na luta contra o subdesenvolvimento e seu caudal de
fenómenos, que vão desde a pobreza, à educação e à saúde enquanto direitos
inalienáveis e intransmissíveis, ou ao respeito para com todas as comunidades
de antigos combatentes, em especial aquelas que serviram em tempo de guerra as
sucessivas Repúblicas que tiveram de ser defendidas de armas na mão até 2002.
As práticas neoliberais têm sido
levadas a cabo com todo o tipo de orgias financeiras, precisamente ao contrário
das pretensões que justificam saudavelmente essas opções e contribuem para
esmagar ou isolar qualquer tentativa no sentido da justiça social em relação a
uma percentagem significativa das comunidades de antigos combatentes,
particularmente dos que prestaram serviço na ex-Segurança do Estado!
2- Tem-se verificado que muitas
acções que deveriam ser revertidas colectivamente em benefício da reintegração
social de antigos combatentes, têm sido apropriadas por interesses mafiosos sem
escrúpulos, por esse tecido canceroso que cultiva a “cosa nostra” ao
invés de cultivar a paz, a justiça social e a luta contra o subdesenvolvimento.
Há alguns exemplos em relação à
comunidade que serviu na ex-Segurança do Estado: aparecem com a capa de
parceiros, ou beneméritos, ou até a coberto do associativismo, para atingirem
a “abertura de portas” para as práticas de “cosa nostra”, numa
espiral de “salve-se quem puder”!
Desse modo, aos traumas
resultantes das situações de guerra enquanto estiveram no activo, juntam-se
agora os traumas provocados pelo mercenarismo neoliberal e antipatriótico, sem
qualquer respeito para com o percurso histórico que motivou solidária e
colectivamente as primeiras gerações que se sacrificaram e “deram o
litro” em prol da República Popular e da República de Angola.
(Continua)
Martinho Júnior - Luanda, 30 de Abril de 2018
Imagens 2 e 3 – Diário da
República com o OGE (extractos);
Imagens 1 e 4 – Visita de
dirigentes da comunidade de ex-membros da Segurança do Estado à Cooperativa de
ex-combatentes do Colango na base da serra do Pundo, na Província de Benguela,
no dia 30 de Abril de 2010, há 8 anos.
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