A impossibilidade de as mulheres
da Guiné-Bissau não terem acesso à propriedade de terras agrícolas é uma das
principais violações dos direitos humanos no país, segundo um estudo da
organização não-governamental guineense Tiniguena.
Segundo o estudo, as mulheres
guineenses são as que mais trabalham na agricultura, mas apenas em terras
emprestadas ou de concessão temporária.
A conclusão é do sociólogo Miguel
de Barros, secretário executivo da Tiniguena, uma das mais destacadas organizações
não-governamentais em questões de proteção e conservação do meio ambiente.
A ONG produziu recentemente um
estudo e concluiu que "a mulher é discriminada e impedida de ter a posse
da terra" sem que o Estado guineense faça algo que traga a justiça, disse
Miguel de Barros.
O estudo da Tiniguena considera
que "quase tudo o que se come" na Guiné-Bissau é produzido pelas
mulheres, sobretudo as do mundo rural, e que no dia em que saírem da atividade
produtiva a própria economia do país morre.
"A mulher guineense é a
principal motora de vida das nossas comunidades. Se tirarmos hoje a mulher da
economia é o próprio Estado que vai à falência", observou Miguel de
Barros, desafiando as autoridades a terem um outro olhar sobre as mulheres
produtoras.
O sociólogo considera inaceitável
que se continue a aceitar que a mulher não seja proprietária da terra - que é
dada em regime de empréstimo ou de aluguer - quando na realidade é a principal
utilizadora das mesmas para produção e geração de riqueza.
"Uma das maiores violações
dos direitos na Guiné-Bissau é a falta do reconhecimento de que a mulher também
é dona da terra onde trabalha", defendeu Miguel de Barros, que denunciou o
facto de a mulher ter que dar conta ao marido sobre os resultados do que produz
"nas terras alugadas".
Para Miguel de Barros, deve
constituir tarefa principal da Guiné-Bissau respeitar, valorizar, reconhecer e
proteger os interesses da mulher no uso e posse da terra, sob pena de continuar
a potenciar uma sociedade de instabilidade, disse.
"Se a mulher não estiver
bem, a família não estará boa, logo a sociedade não estará boa, assim virá a
instabilidade e de lá chegará facilmente a violência no país", afirmou o
responsável da Tiniguena.
Segundo Miguel de Barros, as
sociedades mais pacíficas são as que têm resolvido a sua relação com a mulher,
de ponto de vista dos seus direitos, precisou, para chamar a atenção das
autoridades e das próprias lideranças femininas sobre um trabalho que disse ser
urgente.
Citando ainda o estudo da
Tiniguena, Miguel de Barros realçou que 30% das meninas em idade escolar na
Guiné-Bissau não entram para a escola e as que são matriculadas não terminam
sequer o sexto ano.
"Simplesmente são dadas em
casamento, chegadas a certa idade", declarou o sociólogo, frisando que
chegam a ser "trocadas" por pedaços de terras como dote, mas que
acabam por não lhes pertencer na realidade.
Trabalhando naquelas terras, o
destino a dar ao resultado do trabalho é determinado pelo marido e em caso de
morte a filha não tem direito à herança das terras e se o marido morre é o
irmão do defunto que fica com a posse das mesmas, explicou Miguel de Barros.
Lusa | em Diário de Notícias
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