Passados seis meses do incêndio
que durante mais de uma semana destruiu casas e floresta no concelho de
Monchique, ainda não foi reconstruída qualquer habitação. E também não chegaram
apoios para a agricultura.
Vitorino Inácio mostra a casa.
"A sala é o lugar pior de todos. Já está a pingar aqui." Lá dentro é
um frio de rachar. O fogo destruiu o telhado e agora chove dentro da habitação.
As paredes estão cheias de bolor. Vitorino é proprietário de uma das 52 casas
afetadas pelo incêndio de Monchique.
Queixa-se do abandono a que tem
sido votado. Vitorino, bem como Olívia Costa, mora numa casas alugada desde o
incêndio de agosto do ano passado.
Até agora, não começou a
reconstrução de qualquer habitação ardida. As pessoas debatem-se com
burocracias. Nalguns casos têm que apresentar um projeto ao Instituto de
Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) e sempre três orçamentos para a obra.
"Não sei qual vai ser o meu futuro, não dão a certeza de nada, isto não é
viver. Estamos a morrer aos poucos", lamenta Olívia Costa.
O desânimo, passados seis meses
após o incêndio, é muito.
Paula David mora no sítio do
Alto, em Alferce. Ao
balcão desta junta de freguesia, onde é funcionária, relata os momentos de
pânico quando a aldeia ficou cercada pelo fogo, sem comunicações. Tal como
muitos moradores da zona, critica a falta de organização da Proteção Civil e a
atitude da GNR, que quis evacuar a população para S. Marcos da Serra, durante o
incêndio. Recorda que fez frente à Guarda Nacional Republicana porque a estrada
para S. Marcos estava na frente de fogo. Se tivesse seguido as ordens,
"tinha sido pior que Pedrógão".
Se na reconstrução das habitações
ainda nada avançou, nos apoios agrícolas também nada foi atribuído. Foram
apresentadas 281 candidaturas que são apoiadas no âmbito do PDR 2020, o
Programa de Desenvolvimento Rural. Mas a situação só traz complicações.
"Se nos queriam ajudar, que
tivessem criado uma medida especial para os incêndios", revolta-se Paula.
Porque, segundo explica, a burocracia num programa comunitário é muita -
começando pela exigências às pessoas, na sua maioria idosas que vivem de uma
agricultura de subsistência, a obrigação de se inscreverem nas Finanças como
agricultores.
Além do mais, para reporem o seu
potencial agrícola, os habitantes de Monchique têm que adiantar o dinheiro e só
depois são ressarcidos. Ou então pedir às empresas onde compram as árvores ou
as alfaias agrícolas que passem antecipadamente uma fatura pró-forma.
No sitio dos Pardieiros, José
Albano vai todos os dias ver o armazém e o trator em cinzas. Estima
prejuízos para cima de 30 mil euros. Ainda não recebeu um tostão. "Até
agora não me disseram nada, ninguém dá nada a ninguém", lamenta.
Paula David é perentória:
"Os governantes deviam vir aqui, falar com as pessoas e ver que aquilo que
nos prometeram não chegou cá nada."
Maria Augusta Casaca | TSF
Foto: Orlando Almeida /
Global Imagens
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