Hong Kong, China, 21 jul 2019
(Lusa) - Quase meio milhão de pessoas desfilou hoje nas ruas de Hong Kong
contra as emendas na lei da extradição e a exigir um inquérito independente
sobre a atuação da polícia, indicou hoje o movimento que organizou o protesto.
O número de 430 mil manifestantes
foi avançado pela Frente Cívica de Direitos Humanos na aplicação de mensagens
instantâneas Telegram, naquele que foi a terceira grande manifestação promovida
pelo movimento.
A primeira, a 09 de junho, terá
juntado um milhão de pessoas. A segunda, a 16 de junho, dois milhões, números
que foram sempre contestados pelas autoridades de Hong Kong, que apontaram
sempre para uma adesdão mais reduzida.
A informação foi divulgada poucos
minutos depois da polícia de Hong Kong ter avisado que se prepara para agir
sobre algumas centenas de manifestantes que ocuparam zonas centrais da cidade
em protesto contra as emendas da lei da extradição "devido à escalada de
violência".
"Os participantes da
manifestação pública devem tomar o transporte público e partir o mais rápido
possível", avisou a polícia na sua página na rede social Facebook.
As forças de segurança querem
dispersar os manifestantes que, depois de participarem na marcha durante a
tarde de hoje, se dirigiram ao edifício do gabinete de ligação de Pequim no
território, bloquearam várias ruas e ocuparam acessos ao quartel general da
polícia e ao parlamento.
"Esta tarde, depois de
participantes de uma manifestação pública chegarem a Wan Chai, alguns
prosseguiram, bloqueando estradas, vandalizando carros e paredes dos edifícios.
Em face da escalada da violência, a polícia conduzirá uma ação para
desimpedir" a área, pode ler-se na mesma publicação da polícia de Hong
Kong.
A polícia apelou ainda à
população para evitar deslocar-se para o palco dos protestos ou áreas
adjacentes e que residentes e trabalhadores garantam a sua segurança pessoal e
fiquem atentos às informações da polícia.
Apesar das manifestações serem
maioritariamente pacíficas, manifestantes e polícia confrontaram-se já nas ruas
da antiga colónia britânica.
Dois dos protestos, a 12 de junho
e a 01 de julho, foram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e
a polícia, que chegou a usar balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.
A 01 de julho, os manifestantes invadiram mesmo o Conselho Legislativo (LegCo,
parlamento local) de Hong Kong.
A contestação nas ruas, iniciada
contra um projeto de alteração, entretanto suspenso, à lei da extradição,
generalizou-se e denuncia agora o que os manifestantes afirmam ser uma
"erosão das liberdades" no território.
A chefe do Governo de Hong Kong,
Carrie Lam, admitiu que a lei estava "morta", sem conseguir convencer
os líderes dos protestos.
Pequenas ações e manifestações
continuam a ser organizadas na cidade para exigir que o Governo responda a
cinco reivindicações: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação
dos manifestantes detidos, que os protestos de 12 de junho e 01 de julho não
sejam identificados como motins, um inquérito independente à violência policial
e a demissão de Carrie Lam.
Apresentadas em fevereiro, as
alterações permitiriam ao Governo e aos tribunais da região administrativa
especial chinesa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem
acordos prévios, como é o caso da China continental.
Os defensores da lei argumentam
que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para
países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para
criminosos internacionais".
Já os manifestantes dizem temer
que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra
cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a
salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e
Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente,
decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que
os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões
administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com
elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o
Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
JMC (EJ) // PJA
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