sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Angola | Como está o regresso dos refugiados congoleses?


Há mais de 30 mil refugiados congoleses na província de Lunda Norte. Alguns deles querem regressar ao país de origem, mas para a maioria ainda é complicado obter documentos, ter acesso aos serviços de saúde ou trabalho.

O número de refugiados congoleses na província de Lunda Norte ainda é elevado, contudo já há muitos que mostram vontade de regressar à República Democrática do Congo (RDC). As autoridades angolanas juntamente com o governo de Kinshasa e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tentam dar as condições necessárias para os refugiados regressarem ao seu país de origem.

Segundo números da organização, Comunidade de Refugiados em Angola (CRA), ainda estão entre 30 a 40 mil refugiados congoleses em território angolano. Os refugiados dentro deste grupo têm várias pretensões, uns desejam ficar em Angola e outros querem regressar ao país de origem como explica Mussenguele Kopel coordenador da CRA.

"Há um número que quer voltar, que é originário do Kasai. E tem a maioria que quer a integração local. Também tem o grupo que não está a encontrar como se integrar e que pede para encontrar reassentamentos”, conta o coordenador angolano.

As preocupações dos refugiados

Os refugiados congoleses vêm sobretudo da região do Kasai na RDC há já várias décadas. Os seus problemas em Angola são vários e há reclamações constantes, Mussenguele Kopel aponta principalmente para a situação da falta de documentação e fraco acesso aos cuidados da saúde.

"Primeiro os refugiados em geral não têm condições. Em todos os sítios que você vai os refugiados estão a reclamar que não têm documentos de identidade, que lhes pode facilitar os movimentos. Além disso temos ainda aqueles refugidos que estão doentes e a maioria tem tuberculose”, relata Mussenguele.

O ACNUR tem distribuído kits de reintegração a todos os refugiados que regressem à RDC dentro dos pressupostos estipulados, mas há muitos que desejam ficar e isso também tem sido problemático para a integração de milhares congoleses em Angola.

"As pessoas depois de receberem formação não têm acesso ao mercado de trabalho. É um pouco difícil aceitar os documentos dos refugiados e trabalhar com eles. É aí que também começam os problemas maiores dos refugiados”, segundo Mussenguele Kopel.

Um dos temas mais falados na República Democrática do Congo ultimamente tem sido a questão do ébola, onde o número de casos tem crescido nos últimos meses.

Ébola na RDC

Recorde-se, que na RDC o ébola já fez mais de 1500 mortos e a cada dia há registo de 12 novos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que já declarou o estado de emergência internacional.

A OMS também alertou Angola para se precaver sobre possíveis casos de ébola nas fronteiras. O país partilha uma vasta zona fronteiriça com a RDC nas províncias do Zaire, Moxico, Lunda Norte e Lunda Sul. 

Mas, apesar de tudo ainda não há uma grande preocupação das autoridades angolanas com essa situação, assegura Mussenguele.

"As autoridades angolanas no momento em que o ébola está a ser falada no leste, na zona norte não existem muitas preocupações. As fronteiras ainda estão abertas, Angola ainda não manifestou preocupação em fechar as fronteiras”.

Muitos congoleses ainda não acreditam na estabilidade do governo atual da RDC por isso é que não regressam. As relações bilaterais entre Angola e a RDC têm sido reforçadas a nível económico, social e fronteiriço. Mas a questão dos refugiados ainda vai demorar a resolver-se.

Rodrigo Vaz Pinto | Deutsche Welle

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