quinta-feira, 16 de junho de 2022

O LIMITE DA PACIÊNCIA RUSSA

#Traduzido em português do Brasil

"Pátria da paciência, terra dos russos!" - Fyodor Ivanovich Tyutčev

Cláudio Mutti | Eurásia – Publicado em 28 de fevereiro de 2022

Há cerca de trinta anos, em 1993, o cientista político americano John Mearsheimer apresentou como inevitável a eclosão de um conflito entre a Rússia e a Ucrânia. “A situação – escreveu ele em “Negócios Estrangeiros” – está agora madura para uma acirrada rivalidade em questões de segurança entre os dois países. As grandes potências divididas por uma linha de fronteira muito ampla e desprotegida, como a que separa a Rússia e a Ucrânia, muitas vezes entram em conflito por medo de sua própria segurança. Rússia e Ucrânia poderiam superar essa dinâmica e aprender a coexistir em harmonia, mas tal solução seria bastante inusitada” [1] .

A esta abordagem, baseada num modelo "estatista" da escola realista, Samuel Huntington recriminou o facto histórico dos "estreitos laços históricos, culturais e pessoais que unem a Rússia e a Ucrânia e o forte grau de assimilação mútua existente entre as populações de ambos . os países " [2] ; enfatizando ao invés a "profunda ruptura cultural que divide a Ucrânia Ortodoxa Oriental e a Ucrânia Uniata Ocidental" [3] , o teórico do "choque de civilizações" nos convidou a considerar a possibilidade de que o país se dividisse em duas partes, mas ele considerou um russo -A guerra ucraniana é improvável.

Quase simultaneamente, o ex-assessor de segurança nacional Zbigniew Brzezinski, referindo-se abertamente à famosa fórmula de Sir Harold Mackinder (“Quem domina a Europa Oriental comanda o Coração do mundo; quem domina o Coração do mundo comanda o Mundo-ilha [4 ] ; quem domina domina o Mundo-Ilha comanda o mundo” [5] ), ilustrou a função estratégica fundamental que uma Ucrânia separada da Rússia poderia ter desempenhado para facilitar o fortalecimento do controle americano sobre a Eurásia. "A Ucrânia, um novo e importante espaço no tabuleiro de xadrez eurasiano - argumentou Brzezinski no Grande Tabuleiro de Xadrez - é um pivô geopolítico [ um pivô geopolítico], porque sua própria existência como país independente ajuda a transformar a Rússia [ ajuda a transformar a Rússia ]. Sem a Ucrânia, a Rússia deixa de ser um império eurasiano. (...) Se Moscou recuperar o controle da Ucrânia, com seus cinquenta e dois milhões de habitantes e seus grandes recursos, além do acesso ao Mar Negro, a Rússia automaticamente encontra uma maneira de se tornar um poderoso Estado imperial, estendendo-se pela Europa e Ásia" [6] .

A “geoestratégia para a Eurásia [ ); outra tarefa para a Ucrânia teria sido manter a Bielorrússia sob controle constante. Finalmente, embora Brzezinski percebesse que a Rússia, depois de ter tido que se submeter à entrada na OTAN dos países da Europa Central, acharia "incomparavelmente mais difícil [ incomparavelmente mais difícil ]" geoestratégia para a Eurásia ]” [7] proposta por Brzezinski aos Estados Unidos significava, portanto, que Moscou estava a todo custo impedida de exercer sua hegemonia sobre sua esfera histórica de influência. A Ucrânia, à qual Brzezinski atribuiu a função de bloquear a Rússia a oeste e a sul, tornou-se assim o "escudo defensivo" da Europa Central (conceito reafirmado com as mesmas palavras, vinte e cinco anos depois, pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na Conferência sobre a segurança de Mônaco [8] 9] aceitar a entrada da Ucrânia na" aliança militar hegemonizada pelos Estados Unidos, Kiev teria fornecido bases militares para a OTAN garantindo-lhe o acesso ao Mar Negro. Assim, com o enfraquecimento da Rússia, a Ucrânia teria formado a ligação entre o bloco ocidental e a região da Transcaucásia e, portanto, poderia ter permitido ameaçar de perto a República Islâmica do Irã.

Vitórias da Rússia no Donbass não deixam saída para as tropas ucranianas

#Traduzido em português do Brasil

Kiev continua a aumentar o número de unidades das Forças Armadas da Ucrânia, da Guarda Nacional e da Defesa Territorial em vários setores da frente.

Na região de Kharkiv, o exército russo voltou à ofensiva e está restaurando as posições perdidas. Os combates continuam perto da vila de Stary Saltov, que, segundo alguns relatos, já está sob o controle das forças russas. Também há confrontos nas frentes do Zupovka ao Malye Prohody.

Na área de Izyum, a AFU tenta atacar posições russas na vila de Balakleya. As forças ucranianas estão tentando romper as defesas da direção noroeste e cortar as unidades russas que avançam de Izyum para Slavyansk.

Em 15 de junho, um corredor humanitário foi aberto para que civis deixassem o território da fábrica de Azot em Severodonetsk.

Centenas de civis podem ser feitos reféns em abrigos antiaéreos na instalação que ainda está sob controle ucraniano. O número de militantes ucranianos na zona industrial chega a 2 mil combatentes, um quarto deles são mercenários estrangeiros.

Após combates prolongados, as forças lideradas pela Rússia reivindicaram o controle de Vrubovka na área de Zolotoe. Unidades russas conseguiram romper a defesa da 10 brigada de assalto da AFU em Vrubovka e ganhar uma posição em seus arredores. As unidades ucranianas em retirada fortalecem sua defesa em Nikolaevka e puxam reforços para lá.

Na área de Svetlodarsk, a luta continua por Semigorye e Vershina. O grupo ucraniano da usina termelétrica de Uglegorsk corre o risco de ser completamente cercado nos próximos dias.

A AFU lançou uma série de ataques nas direções Mykolaiv e Kherson. Kiev está tentando desenvolver uma ofensiva e alcançar qualquer sucesso significativo, o que é necessário para o governo Zelensky como um símbolo da capacidade do Exército ucraniano de ainda conduzir operações ofensivas. Até agora, nenhum sucesso estratégico foi alcançado.

Em 15 de junho, mísseis russos Kalibr atingiram a área do assentamento de Zolochiv na região de Lviv. Como resultado, um depósito de munição para armas estrangeiras transferidas para a Ucrânia pelos países da OTAN, incluindo obuses M777 de 155 mm, foi destruído.

Entre outros alvos para mísseis russos estava o aeródromo militar de Voznesenk, na região de Mykolaiv. Ataques russos destruíram equipamentos de aviação das forças aéreas ucranianas.

Na manhã de 15 de junho, a AFU atacou o posto de controle na região russa de Kursk, mas não pôde continuar sua ofensiva e recuou.

Os bombardeios contra civis na RPD continuam. Somente em 14 de junho, 18 assentamentos da República foram atingidos pela artilharia ucraniana. Como resultado dos ataques, 2 civis foram mortos, 8 outros ficaram feridos, incluindo uma criança de 12 anos.

Militantes ucranianos dispararam novamente contra Chernobayevka perto de Kherson. Um homem civil e uma mulher foram mortos, mais civis ficaram feridos.

Última hora | A situação militar de hoje (16.06) no leste da Ucrânia

As forças russas reivindicaram o controle da vila de Sydorove;

Os confrontos entre a AFU e as forças russas continuam na fábrica de Azot na cidade de Severodonetsk;

Os confrontos entre as forças AFU e russas continuam na área de Zolote;

 Confrontos entre as forças AFU e russas foram relatados a sudeste de Bakhmut.

South Front

Angola | Partidos Fraude São Base da Ditadura – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O programa político da Oposição é excepcional e tem apenas um ponto: Fraude Eleitoral. O programa de governo da Oposição é inigualável e nunca visto: A Fraude Eleitoral Está em Marcha. A coligação da UNITA com o Bloco Democrático e Abel Chivukuvuku é única e jamais vista no mundo: Não tem símbolos, não tem existência legal, não tem registo, não tem bandeiras, não tem corações, não tem vozes, não tem apoiantes, não tem adversários. Vai ganhar as eleições no centro de conferências do Complexo Sovismo, em Viana. No dia do acto eleitoral (24 de Agosto) cada qual recebe um cartão de bingo e aquele que quinar ganha. Está no papo. Quem preencher o cartão todo é eleito chefe da esquina constituída pelos três amigos da vida airada: Cócórócócó, Ranheta e Facada. Boa sorte.

A UNITA está indignada porque o chefe Adalberto vai a Menongue e o governador provincial não tem agenda para recebê-lo no sábado. Então o engenheiro mais engenhoso do mundo vai à capital provincial e o senhor governador não o recebe? Que crime! Na Jamba, quando Savimbi chegava, as mulheres preparavam-se para ser violadas, e queimadas vivas, os homens arrojavam-se aos pés do criminoso de guerra e as crianças fugiam para não serem queimadas com as mamãs. O sucessor de Savimbi vai a Menongue e nada. Nem o governador se curva ante tão distinta personalidade.

O pessoal da UNITA é como os golpistas do 27 de Maio de 1977, nunca trabalharam na vida, não têm outra actividade que não seja viverem à custa do partido, dos cofres públicos e de negócios mafiosos como os diamantes de sangue, o marfim, a droga e a madeira de girrassonde. O MPLA, pelo menos, tem profissionais de muitas artes e ofícios. Gente que sabe o quer é a vida. Trabalha. Labuta. Luta. Come o pão que o Savimbi amassou. 

Naquele tempo maldito da Revolução, da República Popular de Angola, saíamos do trabalho e íamos juntar-nos aos camaradas para, de armas na mão, defendermos o povo dos musseques. Saíamos do trabalho e íamos dar aulas de alfabetização. Saímos do trabalho e íamos participar nas campanhas de limpeza.

 Os golpistas quiseram acabar connosco no 27 de Maio porque não éramos bons exemplos para ninguém. Um dia fui visitar camaradas a um prédio da Samba, o maior do bairro. Levava um garrafão de vinho para a festa. Lixei-me porque todos os moradores estavam a limpar o edifício de alto abaixo e toda a zona envolvente. Ia comemorar e trabalhei que nem um cão. Os golpistas nunca trabalharam. Vadiagem com o brasão da política! 

Adalberto acha que o governador do Cuando Cubnango tem a vida dele. Fica a saber que os nossos esforçados governadores e governadoras marcam para sábados e domingos os contactos com as populações mais distantes do município sede. Não podem receber um turista da política e abandonar o povo.

O Presidente João Lourenço convocou as eleições para o dia 24 de Agosto. Reuniu os membros do Executivo e apresentou-lhes a proposta. Houve consenso. Depois reuniu os seus colabores da Presidência da República, secretários, titulares da Casa Civil e da Casa Militar. Reforçou o consenso. Com a proposta consolidada, convocou o Conselho de Estado e disse aos excelentíssimos conselheiros que tinha a data das eleições gerais,24 de Agosto!

Que horror! Então não íamos nós, grandiosos conselheiros, escolher a data? Afinal o que estamos aqui a fazer? Eu respondo: A tratar da vidinha. As eleições tinham de ser marcadas em Agosto, Há cinco anos decorreram no dia 23. A taxa de abstenção foi de 24 por cento. Sabem qual foi em 1992? Menos de oito por cento. É uma boa ideia marcar o acto eleitoral para um dia de semana. Porque se a “festa do voto” for num dia descanso, a abstenção pode subir. Os conselheiros só tinham que concordar ou discordar, explicando porquê. Ninguém no seu perfeito juízo, ia discordar da data escolhida pelo Presidente da República e seus colaboradores directos. Só se fosse o 33 de Agosto…

O Fernando Pacheco ficou com insónias. O Ismael Mateus ficou mais calmo porque ainda não atirou ao lixo o fato e a gravata para o dia que for ministro. Eles falam, falam, falam mas andam pendurados aos tachos quase desde que nasceram!

A Oposição já fala em fraude eleitoral. Tenho muita pena mas vou revelar que eles, sim, são uma fraude que nos fica caríssima. Nas eleições de 2017, o Estado pagou aos concorrentes (MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e APN (Aliança Patriótica Nacional) três biliões de kwanzas. Alguns nem indicaram, delegados às mesas de voto. Não fizeram campanha. Os tempos de antena eram artesanais, baratuchos. Meteram o dinheiro ao bolso. A UNITA está na lista! Apesar da farra, as eleições decorreram de uma forma ordeira, cívica e madura. Os fraudulentos que gastaram o dinheiro para satisfazer os interesses pessoais, perderam em toda a linha. O MPLA teve quase três vezes mais mandatos do que o Galo Negro. Os fraudulentos perdem, irremediavelmente!

Ainda faltam mais de dois meses para as eleições e os suspeitos do costume já estão a estender-se ao comprido. Em vez de formarem o seu pessoal eleitoral, espalham calúnias e suspeitas. Habituados a nada fazer, não fazem nada. Vamos ver o filme do costume. Metem os biliões ao bolso e que se lixem as eleições. Depois a culpa é do MPLA.

A forma que têm de fazer política é sempre a mesma. Calúnias, suspeições, mentiras, manipulações, falta de respeito pelos adversários e pelos eleitores que ainda acreditam neles. Todos os dias apresentam um caso, uma anomalia inventada, uma suspeita esfarrapada. Além de maus políticos, são ruins da cabeça e doentes dos pés. Por isso ninguém dança com elas e com eles. Não passam de lesmas pegajosas grudadas aos cofres do Estado. Mas ficam caríssimos. É o preço a pagar pela democracia. As ditaduras é que ficam baratinhas. Vejam como lhes corria bem a vida na Jamba! 

*Jornalista

A HIERARQUIA DOS TRIBALISMOS

#Traduzido em português do Brasil

Os ocidentais devem esquecer a libertação da Ucrânia, escreve Jonathan Cook. Primeiro precisamos liberar nossas próprias mentes para que possamos reconhecer nossa presença ameaçadora no mundo.

Jonathan Cook - Jonathan-Cook.net | em Consortium News

Nada deveria me qualificar melhor para escrever sobre assuntos mundiais no momento – e a intromissão ocidental na Ucrânia – do que o fato de que acompanhei intimamente as reviravoltas da política israelense por duas décadas.

Vamos nos voltar para o quadro mais amplo em um momento. Mas antes disso, vamos considerar os desenvolvimentos em Israel, como seu governo “histórico” de um ano – que incluiu pela primeira vez um partido que representa uma parte da minoria de cidadãos palestinos de Israel – oscila à beira do colapso.

A crise atingiu, como todos sabiam que aconteceria mais cedo ou mais tarde, porque o parlamento israelense teve que votar uma questão importante relacionada à ocupação:  renovar uma lei temporária  que por décadas estendeu regularmente o sistema legal de Israel para fora de seu território, aplicando-a aos colonos judeus vivendo em terras palestinas roubadas na Cisjordânia.

Essa lei está no cerne de um sistema político israelense que os principais grupos de direitos humanos do mundo, tanto em Israel quanto no exterior, agora admitem tardiamente que sempre constituiu o apartheid. A lei garante que os colonos judeus que vivem na Cisjordânia em violação da lei internacional recebam direitos diferentes e muito superiores aos dos palestinos que são governados pelas autoridades militares de ocupação de Israel.

A lei consagra o princípio da desigualdade no estilo Jim Crow, criando dois sistemas de lei na Cisjordânia: um para colonos judeus e outro para palestinos. Mas faz mais.

Esses direitos superiores, e sua aplicação pelo exército de Israel, por décadas permitiram que colonos judeus atacassem comunidades rurais palestinas com absoluta impunidade e roubassem suas terras – a ponto de os palestinos estarem agora confinados a pequenos pedaços sufocados de sua própria terra natal.

No direito internacional, esse processo é chamado de “transferência forçada”, ou o que poderíamos considerar como limpeza étnica. É um dos principais motivos pelos quais os assentamentos são um crime de guerra – um fato que o Tribunal Penal Internacional de Haia está achando muito difícil ignorar. Os principais políticos e generais de Israel seriam todos julgados por crimes de guerra se vivêssemos em um mundo justo e são.

Então, o que aconteceu quando esta lei foi ao parlamento para votação de sua renovação? O governo “histórico”, supostamente uma coalizão arco-íris de partidos judeus de esquerda e de direita, unidos por um partido palestino religiosamente conservador, dividiu-se em linhas étnicas inteiramente previsíveis.

Membros do partido palestino votaram contra a lei ou se ausentaram da votação. Todos os partidos judeus no governo votaram a favor. A lei falhou – e o governo agora está com problemas – porque o partido de direita Likud do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se juntou aos partidos palestinos na votação contra a lei, na esperança de derrubar o governo, mesmo que seus legisladores estejam completamente comprometidos com a lei. o sistema de apartheid que sustenta.

FRANÇA: O QUE A VITÓRIA DE ESQUERDA ENSINA

#Publicado em português do Brasil

Coligação formada por Mélenchon sacudiu cenário político ao derrotar neoliberais e ultradireita nas eleições parlamentares. Como reconquistou o voto popular. O que propõe seu programa, que parece superar a velha dicotomia reforma ou revolução

Antonio Martins* | Outras Palavras

Às mídias convencionais não interessava, por razões óbvias, alardear a notícia. E as de esquerda também não a destacaram, talvez por não compreenderem sua dimensão. Mas uma tempestade política – inesperada e repleta de novidades – sacudiu a França, neste domingo (12/6). Uma coalizão que reúne pós-capitalistas, comunistas, socialistas e verdes foi a mais votada no primeiro no turno das eleições parlamentares, alcançando pouco mais de 25,7% dos votos. Ficou à frente tanto dos candidatos neoliberais, ligados ao presidente Emmanuel Macron (que obtiveram 25,66%) quanto dos de ultradireita, partidários de Marine Le Pen (18%).

Denomina-se Nupes, Nova Unidade Popular Ecológica e Social. É liderada – e foi articulada – por Jean-Luc Mélenchon, que em abril disputou a presidência. Derrotou a extrema direita, recuperando a maior parte do voto popular de protesto, que até agora favorecia Marine Le Pen (Reunião Nacional) ou Éric Zémour (Reconquista). Impôs forte desgaste a Emmanuel Macron, presidente recém-eleito, comprometendo seu programa de contrarreformas neoliberais e talvez sua maioria parlamentar. Prevê-se que poderá eleger, no próximo domingo (19/6), cerca de 180 parlamentares – contra menos de 60, atualmente, dos partidos que a compõem. As razões de seu sucesso merecem ser examinadas com atenção no Brasil. Dizem respeito aos caminhos para mobilizar a opinião pública em favor da reconstrução nacional em bases opostas às do neoliberalismo..

* * *

Talvez a mais destacada seja a capacidade demonstrada por Mélenchon para propor um programa pós-capitalista que dialoga com os dramas contemporâneos da sociedade, em vez de se perder em velhas polêmicas da esquerda (como a disputa entre “reforma” e “revolução”). Este esforço vem de longe. Participante ativo dos movimentos de 1968 (quando esteve próximo do trotskismo), mais tarde militante do Partido Socialista e fundador do Partido de Esquerda (em 2009), Mélenchon transitou, nos últimos dez anos, para uma posição mais próxima das sensibilidades políticas que se reconhecem no “altermundismo”. Também inspirou-se em filósofos como Chantal Mouffe e Ernesto Laclau, considerados por alguns como formuladores de um “populismo de esquerda”. Sob estas influências, lança em 2016 o movimento A França Insubmissa, que produz, após um vasto processo de assembleias, o programa O Futuro Comum – base de suas candidaturas presidenciais em 2017 e 2022.

É difícil qualificá-lo sob lentes antigas. Para alguns (por exemplo, esta crítica no site português A Esquerda), trata-se de um programa reformista, por não propor nem a estatização dos meios de produção, nem a tomada do poder por meios não institucionais. Mas basta lê-lo com atenção para perceber como ele não cabe nos limites do capitalismo realmente existente. Lá estão, por exemplo, propostas como a garantia pelo Estado de empregos dignos aos que os desejem; a jornada de trabalho de 35 horas (ou 32, para atividades penosas); a proibição de demissões por empresas que recebam benefícios fiscais; a reintrodução das grandes alíquotas do imposto de renda e a forte tributação da riqueza e da herança; a proibição dos despejos quando não houver garantia de abrigo aos inquilinos; a transição acelerada para a geração de energia limpa; a definição, por referendos, de um conjunto de bens imprivatizáveis; a revisão geral dos métodos da polícia; a penalização das empresas que não estabeleçam a igualdade de salários entre gêneros.

A estes objetivos, somam-se outros, de mais curto prazo, que dialogam com dramas contemporâneos. Incluem-se aí a elevação do salário mínimo para 1400 euros (R$ 7,9 mil) e o congelamento dos preços dos combustíveis; a retirada da França dos programas da União Europeia que implicam em cortes de gastos públicos; a redução da idade mínima de aposentadoria para 60 anos (hoje são 62).

Portugal | A SOLUÇÃO DA COMISSÃO

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

O trabalho da comissão criada em 2017 para resolver os problemas estruturais da saúde foi interrompido pela pandemia - três anos depois, é certo, e sem trabalho feito que se veja, mas quem é que se lembra disso... Há problemas diagnosticados pela senhora que lidera a saúde há quatro anos e hão de ser resolvidos, é nisso que o governo está focado. E há de encontrar soluções, nem que elas passem por importar profissionais lá de fora - assim eles estejam disponíveis para trabalhar em condições que os portugueses rejeitam. Concretizando num número, mais de 2500 médicos e enfermeiros desistiram do SNS desde o início da pandemia.

Para já, é urgente resolver o problema que afeta as pessoas que chegam às urgências e encontram os hospitais fechados ou sem mãos que lhes valham. Por isso, "vamos criar uma comissão" de cinco pessoas para observar o problema e indicar saídas alternativas. É sobre esta, com a ajuda desta, que vai traçar-se o plano do governo para resolver as questões imediatas e graves que afetam a saúde.

E já há vias identificadas, como alargar a formação, ainda que se admita que existem médicos sem vínculo e que se tenha demorado meses para colocar mais de 1200 recém-especialistas de que o SNS bem precisava que estivessem no ativo. A solução de curto prazo do governo inclui também acordos com o privado e o setor social (antes desprezados, agora fundamentais), bem como incrementos salariais substanciais, que chegam a 60% para os médicos de família, mas "apenas em casos muito específicos", conforme avisou Marta Temido, indicando que também quem somasse ao exigente serviço de urgência umas horas de trabalho extra seria recompensado num valor a negociar com os sindicatos "ainda nesta semana".

Se bem que, o pessoal "não se move só pelo dinheiro", lembrou num repente a senhora ministra, esquecida de como a degradação das condições oferecidas - a retribuição, mas também o estado dos serviços, da organização, as carências brutais e constantes, as agressões, que não vêm apenas dos doentes - tem afugentado os profissionais que tutela. É verdade que não se movem pelo dinheiro - teríamos consultórios e salas de operações vazios, se assim fosse... -, mas não ficava mal um reconhecimento mínimo do trabalho de quem há dois anos todos aplaudíamos como heróis. Pagando-lhes, por exemplo, aquilo a que o governo chama de "salário digno". Em Portugal, o salário de um médico de clínica geral não chega a 1400 euros brutos.

Resolvidas as urgências, os casos que Marta Temido não se cansa de repetir que são "situações pontuais" - as demissões em catadupa dos chefes hospitalares, a falta de profissionais de que se queixam múltiplas unidades de saúde, a incapacidade de reter médicos, enfermeiros, técnicos, as urgências fechadas em 2017, 2018, 2019 por falta de meios são mera coincidência -, a médio prazo o governo ameaça também rever o sistema e as redes de urgências, a forma como se articulam os serviços e os profissionais.

Quem toma atenção a estas coisas, tem motivos de preocupação, que se as coisas correrem terrivelmente mal isto ainda pode acabar numa reestruturação do SNS. Pelo que ouvimos a Marta Temido, é apenas a Costa que cabe decidir se mantém confiança para que continue ministra... Faz lembrar alguém?

POR ESTE ANDAR... PRESENTE E PIOR FUTURO DA SAÚDE DOS PORTUGUESES


Imagem Escolhida: A saúde como negócio já é uma realidade em Portugal e o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal está há muito na forja. Vai ser mais flagrante e pior. Quem não tem "Plano de Saúde" (dinheiro) pode sofrer e morrer à vontade. Como já acontece nos EUA e nos países radicalmente neoliberais da antecâmara do nazifascismo. Queres saúde? Paga-a. Não tens dinheiro? Sofre e morre! Quais direitos humanos? - PG

Portugal | SAÚDE E PAÍS T(R)EMIDO. JOGADA POLÍTICA E FALSAS PROMESSAS?

Após os protestos, mortes e sofrimentos da saúde à carestia de vida dos portugueses a ditadura da maioria do Partido Socialista resolveu ser democrática e competente? Ou, ao nomear uma comissão e prometer enfrentar e resolver os descalabros e inépcias, planeia somente calar a indignação, a reprovação, a contestação? Só mais à frente no tempo, na saúde e na carteira o saberemos. Certo é que Costa, o seu governo, o PS, estão metidos numa camisa de onze varas em que a direita, o neoliberalismo, o fascismo do Chega e da IL, se vão aproveitar, captar e ludibriar muitos portugueses, muitos eleitores.

Portugal está na vivência de uma 'merdocracia' despudorada. O mais alto responsável pela situação de descalabro é António Costa com o seu afastamento da realidade lusa. Costa que trate de Portugal e dos portugueses, que deixe o ‘gastario’ com a Ucrânia para aqueles que fomentaram a guerra, que lucram com ela e com as desgraças e sofrimentos das populações ucranianas. Naquela parte do mundo é urgente o diálogo e a instauração da paz, deve ser essa a política e exigência de Portugal e do governo da maioria com laivos irrealistas e autoritários preocupantes.

Sobre o anunciado ontem pela ministra da saúde Marta Temido acerca de uma comissão… Vamos ver se… Os portugueses estão expectantes e desconfiados. Ver e sentir soluções adequadas e progressos para crer. Estamos desconfiados, claro que legitimamente os portugueses estão desconfiados e muitíssimo preocupados, endividados e na escura e longa estrada das desigualdades, do empobrecimento devido às políticas que erradamente o governo Costa e o PS têm optado em desfavor e muito prejuízo da maioria dos portugueses.

O provável esclarecimento, as notícias, as promessas, veiculados pelo Diário de Notícias, a seguir. (MM| PG)


Uma nova comissão, abertura a privados e revisão de salários

Prometendo "continuar a lutar" e afastando um cenário de demissão, Marta Temido apresentou plano de contingência para responder à crise nas urgências de ginecologia e obstetrícia no verão. A médio prazo, prometeu um novo desenho da rede de referenciação hospitalar nesta área e uma aposta no reforço da formação de especialistas.

O compromisso tinha sido sinalizado publicamente, durante a tarde, pelo primeiro-ministro António Costa: às 19 horas, Marta Temido apresentaria aos portugueses a resposta do governo à crise nas urgências hospitalares agravada nas últimas semanas nos serviços de ginecologia e obstetrícia. E, apesar do atraso de uma hora, as explicações da ministra da Saúde acabaram por chegar à hora de abertura dos telejornais.

Em destaque, dentro do plano de contingência anunciado para o "curtíssimo prazo" (leia-se: meses de verão), está a anunciada criação de uma comissão para acompanhar a resposta das urgências de ginecologia e obstetrícia, a abertura a acordos com os setores privado e social e a revisão da remuneração médica em serviço de urgência. Para o médio/longo prazo ficam um novo desenho da rede de referenciação hospitalar nesta área, no prazo de 180 dias, o reforço da formação de novos médicos e o corte da dependência de empresas prestadoras de serviços, prometeu a ministra.

Com mais uma crise aguda em mãos para gerir, depois de "dois anos desgastantes" de pandemia, Marta Temido garantiu que decide "continuar a lutar", afastando um cenário de qualquer pedido de demissão e remetendo para o primeiro-ministro a avaliação sobre as "condições para continuar" no cargo.

A garantia surgiu já no final de uma longa intervenção que serviu então para explicar o plano do governo para enfrentar mais uma situação de emergência no Serviço Nacional de Saúde. As já debilitadas urgências hospitalares viram agravar-se as fragilidades nas últimas semanas, com uma sucessão de encerramentos e constrangimentos anunciados sobretudo nos serviços de ginecologia e obstetrícia de vários hospitais, especialmente (mas não só) na zona de Lisboa e Vale do Tejo. E depois de dias de várias críticas, desde profissionais de saúde aos partidos de oposição, e de várias reuniões com representantes do setor, Marta Temido apresentou então esta quarta-feira o plano de (re)ação do governo.

Um plano que a ministra fez questão de dividir em dois tempos: o plano de contingência de curto prazo, desenhado para fazer face aos problemas urgentes que se perspetivam para os meses de verão, e o plano de médio/longo prazo.

Copiar o modelo criado para a medicina intensiva

Para começar, disse Temido, "o que tem falhado nos últimos tempos é capacidade regional e institucional de ter uma articulação estável, articulada e integrada que permita que a rede funcione como um conjunto e seja utilizada de uma forma programada e sem desequilíbrios". Por isso, anunciou, será criada uma "comissão de acompanhamento da resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e bloco de partos que integra cinco coordenadores regionais e um coordenador nacional e que replica modelo criado para resposta às necessidades de medicina intensiva" no pico da crise covid-19.

Esta comissão vai "identificar recursos disponíveis por hospital e região", " aprovar o modelo de articulação e gestão integrada de hospitais de cada região, apoiando as Administrações Regionais de Saúde nesse trabalho, centralizando e apoiando elaboração de planos de contingência de cada hospital" e também "propor ou discutir com as ARS acordos com outros setores, privado e social". "As nossas reuniões esta semana envolveram também o setor privado e houve disponibilidade dentro das limitações que o setor privado também tem para esta resposta, de nos apoiarem", salientou.

Outra tarefa "muito importante desta comissão", acrescentou, "será o acompanhamento dos indicadores de saúde materna, para ir monitorizando a qualidade".

Aumento da remuneração dos médicos em urgências

Também a curto prazo, com reuniões agendadas já para hoje (feriado) com as representações sindicais, o Governo promete negociar as remunerações dos médicos nas urgências, não apenas na área da ginecologia e obstetrícia, mas também de outras especialidades. "Todas as áreas governativas se empenharam em desenhar, num prazo muito curto, uma proposta de solução que responde às principais preocupações das estruturas", disse Temido, que considerou, sem especificar os valores que serão alvo de negociação, ser uma "solução que envolve a correção de potenciais desigualdades" gerada pelos montantes pagos aos prestadores de serviços nesta área. "Somos obviamente sensíveis à necessidade de investir na valorização do trabalho dos nossos profissionais", referiu a ministra.

Aposta na formação a médio e longo prazo

No plano de médio e longo prazo, no sentido de "resolver os problemas estruturais" nesta área, Marta Temido disse que o governo partirá do trabalho realizado pela nova comissão de acompanhamento da resposta das urgências de ginecologia e obstetrícia para a criação de uma nova rede de referenciação hospitalar de saúde materno-infantil". Assim, esse "mesmo grupo de trabalho, em conjunto com outros técnicos, será responsável por fazer um novo desenho da rede de referenciação hospitalar nesta área, no prazo de 180 dias."

Reconhecendo que "muitas das circunstâncias resultam de fragilidades ao nível do número de recursos humanos disponíveis no SNS para assegurar urgências de obstetrícia", Marta Temido lembrou que há "802 médicos especialistas no Serviço Nacional de Saúde e temos 38 hospitais com resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e em partos".

Assim, prometeu a ministra, "o governo está empenhado em trabalhar com a Ordem dos Médicos para reforçar as capacidades formativas do país". Ou seja, apostar no aumento de vagas para formação de médicos em várias especialidades. "Podemos ter discussões sobre se temos médicos a mais ou a menos, mas a realidade que enfrentamos é visível para todos. Temos de reforçar capacidades formativas. Compete ao governo, com o parecer da Ordem, fixá-las, e iremos trabalhar conjuntamente para as alargar o máximo possível", reforçou, lembrando também que "no último concurso houve vagas de especialidade que não foram preenchidas". "Temos também um problema de atratividade que não tem a ver apenas com o SNS, tem a ver com o setor da saúde. Passámos dois anos muito difíceis", frisou.

1600 vagas abertas

Temido aproveitou para anunciar que ainda durante a noite estava prevista a "publicação de um despacho que determina a abertura de 1600 vagas para recém-especialistas, no concurso de colocação de recém-especialistas da primeira época de 2022" . Desta vagas, "1182 vagas referem-se à área hospitalar, das quais 50 em ginecologia-obstetrícia, 432 na área de medicina geral e familiar e 25 na saúde pública."

Rui Frias | Diário de Notícias | Imagem: Marta Temido © António Cotrim / Lusa

Brasil | Dom Phillips e Pereira foram assassinados. Criminosos admitiram à polícia

Suspeito confessa que matou, esquartejou e queimou desaparecidos

Os irmãos Osoney da Costa e Amarildo dos Santos, que praticam pesca ilegal na região, admitiram o homicídio de Dom Phillips e Bruno Pereira à polícia.

Um dos suspeitos presos pelo desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, desaparecidos há 11 dias, confessou nesta quarta-feira, dia 15, o crime à Polícia Federal. Osoney da Costa disse que ele e o irmão, Amarildo dos Santos, ambos pescadores, mataram os dois no dia 5 após serem vistos por eles a pescar ilegalmente.

Dom e Bruno foram sequestrados e mortos pela dupla, depois decepados, esquartejados e queimados e, finalmente, atirados numa vala na região do Vale do Javari, na Amazónia, contaram ainda os criminosos, de acordo com a TV Bandeirantes. É aguardada a todo o instante uma conferência de imprensa da polícia no local.

Os irmãos Amarildo e Oseney de Oliveira, ambos apontados por testemunhas como envolvidos por terem sido vistos a perseguir o barco do ativista e do jornalista, tinham sido levados a meio da tarde de ontem levados ao local do desaparecimento de Pereira e Phillips. Eles moram na comunidade de São Gabriel, local onde Pereira e Phillips foram vistos pela última vez.

Bruno Araújo Pereira, brasileiro de 41 anos, trabalhava como membro da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, depois de servir na Fundação Nacional do Índio.Dom Phillips, inglês de 57 anos, radicado no Brasil desde 2007, colaborava com o The New York Times, Washington Post, Financial Times ou The Intercept, além do The Guardian.

Os dois estavam desaparecidos desde domingo, dia 5, quando deixaram a comunidade de São Rafael, onde Bruno tinha marcada reunião com um líder local, conhecido como Churrasco, e se dirigiram, pelo rio Itaquaí, a Atalaia do Norte, a maior cidade da região. O percurso, que eles não completaram, duraria cerca de duas horas.

A região do Vale do Javari é conhecida por ter o maior número de indígenas em isolamento voluntário do mundo mas também, nos últimos anos, por ser uma rota de escoamento de cocaína do Peru para o Brasil. Em paralelo aos narcotraficantes, as terras vêm sendo invadidas por garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais, o que a torna particularmente violenta.

Em 2019, o indigenista Maxsiel dos Santos foi morto a tiros em Tabatinga, cidade vizinha. A Funai relatou ainda mais oito episódios de violência na zona próxima à do desaparecimento de Pereira e Phillips. E integrantes da Univaja relataram ameaças de morte, em abril, na praça central de Atalaia do Norte, o destino dos dois. "Vai acontecer com vocês o mesmo que aconteceu com o Maxsiel", terá dito um pescador ilegal a um elemento da Univaja.

Algumas das testemunhas ouvidas pela polícia falaram em ameaças também a Pereira e Phillips nos últimos dias.

Pereira havia entregado à Polícia Federal e o Ministério Público Federal mapas do local de atuação e fotos dos membros de uma organização criminosa que atua na pesca e caça ilegais no Vale do Javari.

Ainda antes da notícia da confissão de Osoney e Amarildo, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o presidente do Brasil Jair Bolsonaro pronunciaram-se sobre o tema.

Jair Bolsonaro dizia nesta quarta-feira, dia 15, que o jornalista inglês Dom Phillips, desaparecido ao lado do ativista Bruno Araújo Pereira no Vale do Javari, na Amazônia, desde dia 5, "era mal visto na região, porque fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental, então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele".

O presidente do Brasil disse ainda, em entrevista ao canal de youtube da jornalista e sua apoiante Leda Nagle, que não tem esperança de encontrar os corpos. "Aquela região, você pode ver, pelo que tudo indica, se mataram os dois, se mataram, espero que não, eles estão dentro de água e dentro de água pouca coisa vai sobrar, peixe come, não sei se tem piranha lá no Javari. A gente lamenta tudo isso aí".

Bolsonaro chamou a ida em trabalho de Pereira e Phillips à região - o primeiro tinha por missão cuidar das populações ribeirinhas e o segundo fazer um livro sobre os índios isolados do Javari - de "excursão" e "aventura".

"Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão. A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, lá tem tudo que possa imaginar lá. É muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado".

Johnson disse que "como todos nesta Casa [dos Comuns], estamos profundamente preocupados com o que pode ter acontecido com ele [Dom Phillips". "Funcionários do escritório de relações exteriores estão trabalhando junto às autoridades brasileiras", avançou, reagindo a pedido de informações da ex-primeira ministra Theresa May.

"Torne o caso uma prioridade diplomática e faça todo o possível para que as autoridades brasileiras coloquem os recursos necessários para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com Dom e Bruno", pediu May.

Diário de Notícias

Brasil | Bruno e Dom eram alvos da política de terror e devastação do governo militar

#Publicado em português do Brasil

"O macabro assassinato deles é consequência lógica das escolhas do governo dos generais", escreve Jeferson Miola

Jeferson Miola | Brasil 247 | opinião

Bruno Pereira e Dom Philips foram vítimas das estruturas econômicas criminosas que se expandiram e se infiltraram livremente sob os auspícios do governo militar do Bolsonaro.

O macabro assassinato deles é consequência lógica das escolhas do governo dos generais, que haverão de ser responsabilizados nos tribunais nacionais e internacionais por mais um crime pavoroso contra a humanidade.

Bruno e Dom eram entraves ao genocídio dos povos originários e à devastação das florestas e territórios indígenas, onde florescem com fecunda facilidade a pesca e a caça ilegal, o narcotráfico, o garimpo, a mineração, a pistolagem e o desmatamento.

Em razão disso, Bruno e Dom viraram alvos que algum dia, mais cedo ou mais tarde, deveriam ser exterminados. E este dia finalmente chegou, em 5 de junho, na Terra Indígena do Vale do Javari

No estudo “Um retrato da FUNAI sob o governo Bolsonaro” o INESC [Instituto de Estudos Socioeconômicos] e a associação Indigenistas Associados [INA] retratam a profunda interface da política anti-indígena da FUNAI com o projeto do governo militar de colonização e exploração econômico-empresarial das terras indígenas e da região amazônica.

As posturas genocidas do governo militar em relação aos indígenas durante a pandemia da COVID integram o mosaico de medidas e práticas criminosas – oficiais e de grupos privados – que atentam contra a existência dos povos originários e contra a preservação climática e ambiental.

O debilitamento e o desmonte da institucionalidade tanto estatal como não-estatal de proteção indígena e ambiental; a redução orçamentária e o corte de verbas; a perseguição a técnicos, o abandono da fiscalização e, ainda, a militarização e o policiamento da gestão da FUNAI, dentre outras questões, conformam um ambiente propício, idealizado pelo próprio governo para a consecução do plano de colonização e dominação da região por modelos econômicos criminosos.

A FUNAI é presidida por um delegado da Polícia Federal. “Quase não se notam experiências de atuação com a política indigenista, ou mesmo com cargos de direção em administração pública. Alguns deles, inclusive, definem-se como ‘pecuaristas’, e não escondem suas alianças com o agronegócio”, conclui o estudo.

Das “39 Coordenações Regionais da Funai, apenas duas têm como chefes titulares servidores do órgão”, sendo que “17 [são] militares, três policiais militares, dois policiais federais e seis profissionais sem vínculo anterior com a administração pública”. Além disso, constata o estudo, “o presidente da Funai, Marcelo Xavier, trocou todos os cargos DAS-4 existentes no órgão, nomeando, também aqui, militares e policiais para grande parte deles”.

O “retrato da FUNAI sob o governo Bolsonaro” deixa evidente a relevância central do aparelhamento e controle da FUNAI para a execução radical do projeto anti-indígena do governo militar.

O problema, porém, é que no meio do caminho deste projeto oficial estavam o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips que, por isso, precisavam ser eliminados.

Bolsonaro não só conhecia, como odiava Dom Philips. Ele chegou a dizer que “esse inglês era mal visto na região, porque fazia muita matéria contra garimpeiros, questão ambiental, então, naquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais que redobrada atenção para consigo próprio e resolveu fazer uma excursão”, declarou com extrema torpeza o Aberração do Planalto [14/6].

Bolsonaro já esteve quase lado a lado de Dom, apenas com o general Augusto Heleno entre eles. Isso aconteceu numa entrevista coletiva em julho de 2019, quando Dom mencionou o “crescimento assustador dos desmatamentos” e perguntou a Bolsonaro: “Como o senhor Presidente entente e pretende convencer, mostrar para o mundo que realmente o governo tem uma preocupação séria com a preservação da Amazônia?”.

Bolsonaro respondeu com rispidez, raiva e intimidação. “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é isso daí”, disse a Dom, complementado que “nenhum país do mundo tem moral pra falar sobre a Amazônia”.

Agressivo, Bolsonaro passou a interpelar Dom: “Para que tanta ONG na Amazônia, já que estão tão preocupados com o meio ambiente e o ser humano? Responda pra mim isso aí, será que o interesse de vocês é com o ser humano ou é outro interesse futuro nessa área?”, insistiu.

Reportagem de Pedro Grigori no Correio Braziliense [14/6] registra que em 26 de setembro de 2021, pouco mais de dois anos depois da entrevista, Bolsonaro “repostou o vídeo da pergunta de Dom Phillips como um exemplo da ‘cobiça de sempre’ pela Amazônia”.

A matéria menciona que Dom “ficou muito abalado com a republicação do vídeo”, e que ele “passou a receber ataques de bolsonaristas” com o assobio do Bolsonaro à matilha fascista.

O indigenista Bruno Pereira, que também era conhecido e também era alvejado pelo governo militar devido à condição de notório inimigo dos agressores dos seus maiores amigos, os indígenas do Vale do Javari, foi tirado do caminho.

Ele foi demitido da Coordenação de Indígenas Isolados e de Recente Contato da FUNAI na gestão do ex-ministro bolsonarista da Justiça Sérgio Moro em outubro de 2019, três meses depois da entrevista na qual o jornalista Dom ficou marcado para morrer.

Alguns dias antes de desaparecer, Bruno alertou que sua vida corria perigo.

A eliminação de Bruno e Dom, “profilática” para o avanço do mundo do crime na Amazônia, também objetiva gerar exemplo atemorizador e intimidar ativismos pró-indígenas e ambientalistas infundindo medo, terror e pânico.

Bruno e Dom eram alvos da política de terror e devastação do governo militar. Agora se tornaram vítimas mortais da guerra de ocupação do Brasil na qual as Forças Armadas atuam como garantidoras do brutal processo de pilhagem e saqueio do país.

Imagem: Bruno Pereira e Dom Phillips (Foto: Reprodução)

Angola | Igualdade e Licenciatura dos Diamantes de Sangue – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Adalberto da Costa Júnior frequentou o Instituto de Engenharia do Porto (ensino politécnico) e não fez a licenciatura. Vou repetir. Não se licenciou. O resto é obra e graça do dinheiro dos diamantes de sangue. Passo a explicar porquê. Na altura em que o líder do Galo Negro frequentou aquela escola ainda não existia o Processo de Bolonha, que encurtou o tempo das licenciaturas de cinco para três ou quatro anos. 

O ensino politécnico é muito procurado porque tem uma vertente mais prática, o que oferece melhores possibilidades de emprego. Quando Adalberto se matriculou, o Instituto de Engenharia do Porto conferia o grau de bacharelato a quem concluía os três primeiros anos. O aluno ficava apto a entrar no mercado de trabalho. Se quisesse obter o grau de licenciatura estudava mais dois anos, em qualquer escola superior portuguesa da área das engenharias. Adalberto da Costa Júnior NÃO FEZ OS DOIS ANOS além do bacharelato. Logo, não é licenciado. A não ser que, com o dinheiro dos diamantes de sangue tenha comprado as cadeiras dos dois últimos anos. E até as do bacharelato.

Atenção! Quando foi introduzido o Processo de Bolonha, o Instituto de Engenharia do Porto e outras escolas politécnicas deram a possibilidade de obter o grau de licenciatura aos bacharéis que apresentem um currículo profissional notável. A escola analisa e depois decide quantas cadeiras o candidato tem de fazer para obter o grau de licenciatura. Adalberto da Costa Júnior não tem currículo profissional que lhe permita candidatar-se à licenciatura por mérito no exercício da profissão. Mas como tem dinheiro dos diamantes de sangue, pode perfeitamente comprar cadeiras e até a mobília toda. Agora, hoje, neste momento, não é licenciado. 

Os amigos são para as ocasiões. Angola esteve em guerra, entre o dia 11 de Novembro de 1975 e Fevereiro de 2002. Ao longo dos 27 anos, milhares de jovens e famílias inteiras abandonaram o pais, procurando uma vida melhor e mais pacífica, em Portugal. As autoridades portuguesas, quais buldogues raivosos, trancavam todas as portas, expulsavam os “ilegais”, faziam autênticas caçadas ao homem.

 O melhor que as angolanas conseguiram foi o emprego de mulheres-a-dias. Os homens não passavam de serventes de pedreiros. Naquela ocasião Portugal não era um país amigo dos angolanos. Os seus dirigentes andavam abraçados aos racistas de Pretória. Nunca se esqueçam que Cavaco Silva votou contra a petição que exigia a libertação de Nelson Mandela e Mário Soares mandava o filho te à Jamba via Joanesburgo tratar dos negócios.

Hoje, agora, neste momento, as autoridades portuguesas anunciaram que já emitiram, desde 24 de Fevereiro, 42 000 autorizações de residência em Portugal a 42 000 ucranianos e ucranianas. A comunidade ucraniana é hoje a mais numerosa em Portugal, Ultrapassou até a brasileira. Os amigos são para as ocasiões. Ou melhor: Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és. Entre os libertadores angolanos da África Austral, os que derrotaram o regime racista de Pretória e os nazis de Kiev, os dirigentes portugueses fizeram a sua escolha. CPLP? O quê? Isso acabou. Agora só conta a comunidade de nazis, para nazis e pelo triunfo do nazismo na União Europeia, na OTAN (ou NATO) e no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). 

O Presidente João Lourenço, segundo um texto de William Tonet (nome tipicamente indígena) que circula nas redes sociais, defendeu que não é possível aos Media darem igualdade de tratamento no período eleitoral, incluída a pré-campanha aos partidos e coligações concorrentes. O mesmo texto diz que Ismael Mateus defendeu que é obrigatória a igualdade. Só quem nunca entrou numa Redacção da Imprensa e do Audiovisual (para trabalhar…) pode defender semelhante enormidade. Não é possível andar com um linómetro (regreta) na mão ou a contar os caracteres das peças referentes a cada partido concorrente. Tal como é impossível andar de cronómetro na mão medindo os segundos o material partidário.

Além do problema físico, temos o problema editorial. Um partido promove num dia 20 activicdades. E outro não promove nenhuma. O que fazem os editores? Atiram para o lixo o material do partido que trabalhou porque outro partido não fez nada? Impossível. Isso não é igualdade. É imbecilidade, Incompetência profissional. Demagogia batata.

Os conteúdos também contam e muito. Um partido junta 100 000 eleitores num comício e o seu líder anuncia que se ganhar as eleições vai atribuir uma “Bolsa Família” a quem viver abaixo do limiar da pobreza. Garante habitação social a todas as famílias que vivem em tugúrios. Garante rendimento mensal mínimo a todas e todos os idosos. Atribui 20 por cento do Orçamento Geral do Estado à Cultura. Vai dotar todas as comunas de escolas para o ensino pré-escolar, primário e secundário.

Outro partido faz um comício com 100 pessoas. O líder grita: Viva o Dr. Savimbi! O Nosso Galo Voa! Bruxas à Fogueira! Pauladas na cabeça aos generais que não me obedecem! Obrigado, maninhos! E vai embora para casa, contemplar o diploma de engenheiro, que tanto dinheiro dos diamantes de sangue lhe custou. 

As e os editores o que fazem para tratarem os dois partidos de forma igual? Claro, claro, como o partido que só disse viva o Dr. Savimbi, o máximo que tem é um parágrafo. O outro, que prometeu reformas profundas nas políticas socias e culturais, leva também um parágrafo e o resto vai para o boletim do Tani Narciso. Isto é de loucos. Mas sobretudo é próprio de quem não tem a menor noção do que é Jornalismo. Os aprendizes de feiticeiro são mais perigosos do que os feiticeiros. Porque estes dominam o processo. Os aprendizes podem agir desastradamente e rebentar-lhes a bomba nas mãos.

Só não percebe que a edição de mensagens informativas tem a ver com os conteúdos comunicacionais, quem pensa que jornalismo é bué de bocas ou escrever por encomenda dos donos, à sombra da mulemba. 

Os partidos e coligações candidatos às eleições partem todos do zero, no que diz respeito aos votos. É um facto. São todos iguais. Seguramente. Mas têm uma história diferente, uma prática política diferente, experiências diferentes, programas diferentes e percursos diferentes. Na campanha essas diferenças reflectem-se na produção de actividades e de conteúdos. Os jornalistas são mediadores entre o acontecimento e os consumidores, Não são megafones dos partidos políticos, sejam eles quais forem.

*Jornalista

ANGOLA FOI MAIOR PRODUTOR SUBSAARIANO DE PETRÓLEO

Angola ultrapassou a Nigéria como o maior produtor de petróleo na África subsaariana em Maio, de acordo com os dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), ao bombear 1,1 milhões de barris por dia.

A produção angolana caiu de 1,183 milhões de barris diários bombeados em Abril, para 1,162 milhões em Maio, mas beneficiou de uma queda ainda superior na Nigéria, cuja produção diminuiu de 1,219 milhões de barris em Abril, para 1,024 milhões no mês seguinte, perdendo a liderança dos maiores produtores na África subsaariana.

No relatório mensal da OPEP são apresentados dois tipos de dados relativos à produção: o cálculo da produção para exportação com base em fontes secundárias e dados  disponibilizados pelos próprios países produtores. Nos números enviados pelos dois países, Angola ultrapassou a maior economia africana mas, tendo em conta os dados calculados pela OPEP com base nem fontes secundárias, a Nigéria mantém a liderança entre os maiores produtores na África subsaariana.

Os dados com base em fontes secundárias mostram que a Nigéria, apesar de ter tido uma redução na produção de cerca de 45 mil barris por dia, bombeou 1,306 milhões de barris por dia em Abril, e 1,262 milhões em Maio, acima dos 1,176 milhões de barris produzidos em Angola, que quase manteve a produção entre Abril e Maio.

Nesse mês, os 13 países da OPEP produziram, de acordo com as fontes secundárias da organização, uma média de 28,5 milhões de barris por dia, o que é cerca de 176 mil barris por dia a menos do que em Abril.

A produção angolana, a rondar os 1,1 milhões de barris por dia, está em linha com a estimativa apresentada recentemente pela ministra das Finanças, que reviu a previsão de crescimento económico em alta, para 2,7 por cento do PIB este ano.

"Revimos a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto para este ano para 2,7 por cento, considerando o mesmo ritmo de 1,14 milhões de barris de petróleo por dia e um preço a rondar os 100 dólares”, disse Vera Daves de Sousa numa conferência da Bloomberg, há cerca de um mês, sendo que o valor do barril subiu desde então, estando a rondar os 120 dólares esta semana.

Numa análise à evolução da produção petrolífera em Angola, no final de Maio, a consultora Oxford Economics estimou que o país consiga chegar à média de 1,18 milhões de barris diários.

"Prevemos que a produção de petróleo suba para 1,18 milhões de barris por dia em 2022, mas a balança dos riscos está desequilibrada para o lado negativo devido à possibilidade de mais problemas técnicos e atrasos na implementação de novos projectos”, escrevem os analistas da Oxford Economics Africa.

Jornal de Angola | Imagem: Angola com maior produção de petróleo © Fotografia por: DR

Sindicato dos Jornalistas defende postura ética e deontológica na cobertura eleitoral

O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) defendeu, terça-feira, no Lubango, província da Huíla, isenção e imparcialidade dos profissionais dos órgãos de Comunicação Social públicos e privados na cobertura das eleições gerais de 24 de Agosto.

Teixeira Cândido manifestou esta posição à margem do workshop provincial sobre "Jornalismo online e cobertura eleitoral” dirigido aos profissionais dos órgãos de comunicação social públicos e privados na Huíla.

"Não podemos ser responsabilizados por victória ou derrota deste ou daquele candidato. As simpatias são irrelevantes”, disse, acrescentado que a média não pode ser motivo de debate e cada jornalista deve fazer o seu trabalho de forma exemplar, isenta e imparcial.

Teixeira Cândido informou, também, que o SJA prevê capacitar 90 profissionais em todo país antes da realização das quintas eleições em Angola. 

O workshop que decorre até esta quarta-feira conta com prelectores nacionais e estrangeiros, cujo temas são ministrados via remota e presencial.

Domingos Mucuta | Lubango | Jornal de Angola | Imagem: © Fotografia por: CIPRA | Arquivo

Angola | Autópsia à Sentença que Condena um Inocente – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um dia, o meu saudoso mestre Acácio Barradas marcou-me um encontro na “praça da alimentação” do centro comercia Amoreiras. Compra-se a comida que queremos, baratinho, sentamo-nos e falamos sem ninguém se intrometer. Ele tinha chegado de Luanda e queria dar-me novidades. Estava orgulhoso do seu filho Carlos Manuel de São Vicente, porque os seus negócios corriam bem e por mérito próprio. Depois convidou-me para participar na obra Agostinho Neto uma Vida sem Tréguas. Aceitei inc0ndicionalmente. À noite fomos a um espectáculo de ópera. O Barradas era melómano e adorava o género. Com ele aprendi a gostar. É uma expressão pura da arte popular.

A Universidade de Coimbra é das mais antigas do mundo. A sua Faculdade de Direito também está cotada no mais alto nível mundial. Recordo, entre muitos outros mestres, Orlando de Carvalho, Gomes Canotilho, Figueiredo Dias, Costa Andrade, Faria Costa ou Vieira de Andrade. Com alguns deles aprendi muito. Insignes mestres!

O Professor Catedrático Costa Andrade é um penalista respeitado mundialmente. Foi presidente do Tribunal Constitucional em Portugal. Acaba de me chegar às mãos um parecer assinado pelo mestre, sobre a douta sentença, em primeira instância, do empresário Carlos Manuel de São Vicente, que o condena por Peculato, Fraude Fiscal e Branqueamento de Capitais. Os seus advogados recorreram da decisão na primeira instância. E fizeram bem porque o parecer do professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra é demolidor. Começa por referir que a apropriação de um bem pressupõe que a coisa tem de estar na posse – e na posse lícita do agente, antes do acto de apropriação”. 

O Professor Catedrático Costa Andrade afirma: “O que o Tribunal invoca para tanto são factos ou circunstâncias absolutamente anódinos e irrelevantes do ponto de vista da incriminação do Peculato” O que é anódino e irrelevante? O Professor Catedrático Costa Andrade mostra os factos, retirando-os da douta sentença de primeira instância: “Criar mecanismos ardilosos para centralizar todo o negócio dos seguros e resseguros (…) exercer simultaneamente as funções de director da DGR e PCA das empresas AAA, passando a actuar como ‘árbitro e jogador’ (…) ter sobrefacturado os valores dos prémios e comissões, aumentando cerca de dez vezes o risco reral a ser ressegurado (…) ter aumentado significativamente os prémios e franquias (…) não ter prestado as informações semestrais obrigatórias (…) fazendo menção de que tal valor correspondia ao risco real a ser ressegurado no exterior do país, e assim o dinheiro saía de Angola passando para a esfera patrimonial e de disponibilidade dele (…) depois de ressegurado o risco real, retirava para si o excedente e transferia para as contas bancárias sob seu controlo (…) com a única e clara intenção de delapidar os fundos públicos”.

Tudo isto é conversa para um discurso político, moralista ou de apreciação crítica dos longos anos de gestão de um alto quadro político e gestor. Mas, diz o Professor Costa Andrade, “nada, rigorosamente nada, têm a ver com a factualidade típica de Peculato. Nada tem a ver com apropriação – inversão do título de posse – de coisa alheia que, antes, se encontrasse já na sua posse, por título não translativo da propriedade”.

Em resumo: “O douto acórdão limita-se a sinalizar um complexo amálgama de factos e circunstâncias genéricas que não correspondem, nem de perto nem de longe, aos momentos da factualidade típica da infracção. Não podendo, como tais, sustentar a condenação do réu, a nenhum título, pelo crime de Peculato”. E aí vai um aviso: “Pelo menos enquanto subsistir o propósito de respeitar o conteúdo de garantia do imperativo constitucional de legalidade, nullum crimen sine lege”. E acrescento eu: crime é condenar alguém com base em leis do deposto “rei” do Bailundo.

E o crime de fraude fiscal, alegadamente cometido pelo empresário Carlos São Vicente? O Professor Catedrático Costa Andrade dá uma resposta contundente: “O douto acórdão recorrido assenta numa interpretação e aplicação de um regime jurídico que nada tem a ver com o direito positivo e vigente em Angola”. O que aconteceu? “O douto Tribunal aplicou ao réu Carlos Vicente um direito que não existe no actual ordenamento jurídico angolano”.

A douta sentença define a fraude fiscal como um crime de perigo, precisamente ao contrário do que dispõe a Lei Angolana. Mas noutro ponto da sentença o Tribunal entra em grave contradição, reconhecendo que a fraude fiscal “só tem lugar quando o agente, visando a não liquidação, entrega ou pagamento de prestação tributária, falsifica, vicia documentos ou incorre em simulação de acto ou negócio jurídico e tiver obtido, em virtude da falsificação, viciação ou simulação, uma vantagem patrimonial indevida”. Mas logo a seguir é “colado” na douta sentença um conceito contraditório ao classificar a fraude fiscal como “crime de resultado cortado” o que está certo no direito penal fiscal português mas “errado e impertinente no contexto do direito angolano” como conclui o Professor Catedrático Costa Andrade. O Doutor Tuti Fruti e o Aguinaldo Jaime andam baralhados.

Por isso, “uma coisa sobra líquida e irrefutável: a impossibilidade de referenciar entre os factos dados como provados e imputados ao réu Carlos Vicente os factos correspondentes aos pressupostos objectivos e subjectivos da factualidade típica da incriminação da Fraude fiscal”

Pior, muito pior. Nada tem a ver com o tipo da Fraude discal o facto de o réu não “partilhar as comissões de cedência e de proveito de resseguros, resultantes do negócio com as demais seguradoras, inclusive com a ENSA (empresa pública de seguros) porque o réu retinha a totalidade das comissões, sem partilhar com as demais seguradoras”

Comissões pagas às empresas AAA eram pagas fora do território de Angola mas isso não é crime de fraude fiscal, como entende o douto Tribunal. O Professor Catedrático Costa Andrade explica porquê: “O simples facto de um qualquer operador montar a sua organização empresarial em diferentes países e aí obter rendimentos não constitui só por si fraude fiscal”. O douto Tribunal, tinha que identificar o montante do imposto devido em cada situação concreta, o resultado do prejuízo causado ao Fisco em cada situação concreta. Ou do enriquecimento ilegítimo do agente”.

Carlos São Vicente também não cometeu o crime de Fraude fiscal. Aguardemos pelo resultado do recurso.

E o branqueamento de capitais? Carlos São Vicente não dissimulou nem ocultou a origem criminosa de produtos e valores, particularmente dinheiro. Carlos São Vicente, para ser condenando por branqueamento de capitais, segundo o Professor Catedrático Costa Andrade, “tinha de apagar a marca ou o estigma de produto do crime através do qual o dinheiro foi obtido, introduzindo-o nos circuitos normais, como dinheiro ‘limpo’ e licitamente obtido”. O empresário nunca “lavou dinheiro”. O douto Tribunal deu como provado o que não aconteceu.

O Professor Catedrático Faria Costa sublinha que o branqueamento de capitais emerge de “uma forma particular e específica de receptação”. Carlos São Vicente nunca assim procedeu na sua actividade empresarial. Por isso, o Professor Catedrático Costa Andrade defende que “nunca poderá falar-se de branqueamento – se não for possível referenciar um ilícito criminal anterior e causal em relação às vantagens ou objectos do Branqueamento”.

Em conclusão: “Clarificados os tópicos nucleares da factualidade típica do crime de Branqueamento, tal como a lei positiva angolana o prevê e desenha, sobra manifesto que não é possível referenciar nos factos provados e imputados ao réu Carlos Vicente, factos que, de perto ou de longe, cumpram integralmente as exigências ou pressupostos daquela incriminação (artigo 82º da Lei nº 5/20, de 27 de Janeiro)(...) Logo pela razão, simples mas decisiva, de não ser possível imputar a Carlos Vicente a prática de qualquer ilícito típico incriminado e punível quer a título de Peculato quer de Fraude Fiscal. O que só por si, constitui razão bastante para, de forma definitiva e fechada, afastar a responsabilidade pelo crime de Branqueamento de capitais”.

Por fim, o Professor Catedrático Costa Andrade conclui: “Os dados como provados e imputados ao réu Carlos Manuel de São Vicente,  não permitem a sua condenação, a nenhum título, pelos crimes de Peculato, Fraude Fiscal e Branqueamento de capitais”.

A condenação na primeira instância só foi possível “à custa de frontal e irremível pecado capital contra o princípio de Legalidade (nullum crimen sine lege), uma das marcas irrenunciáveis do Estado de Direito Democrático”.

A opinião pública nacional e internacional precisa de saber que a sentença do douto Tribunal não pode ser peça de um qualquer banquete de mentiras e manipulações, montado por agentes a soldo, no canal público da televisão angolana. 

Esta é a verdade a que todos temos direito. A verdade deles é ficção e má. É calúnia. É atingir a memória de Agostinho Neto através de pessoas que lhe são próximas. Até existir uma sentença transitada em julgado, Carlos São Vicente é tão inocente como as mais altas figuras do Estado Angolano. Que não podem seja a que título for, criar culpados ou fazer de assassinos vítimas ou heróis nacionais. A separação de poderes é um princípio basilar do Estado de Direito e Democrático.

*Jornalista

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