terça-feira, 11 de abril de 2023

Portugal | DEUS DINHEIRO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Muitos católicos ficaram doridos com o Benfica-Porto numa Sexta-Feira Santa. Muitos desses católicos são eleitores de direita, a maioria conservadores e/ou defensores de um sistema capitalista/liberal. Ficam agora perplexos com jogos da bola no Dia da Paixão, apenas recusam-se a aceitar que a única coisa que interessa ao tal sistema que eles próprios defendem é o negócio. O dinheiro. Custa-lhes muito admitir que aquilo a que estão a tentar resistir é ao próprio capitalismo global. Não admitem e, no limite, chamam-lhe coisas como capitalismo monopolista. Às vezes também comunismo, mas isso é só para rir. De facto, o capitalismo, depois de décadas a lutar contra várias ideias e ismos, venceu. Evoluiu e ganhou tudo, limpou. Já é velhinha a piada acre do Warren Buffet: "Há uma guerra de classes, sim. Mas é a minha classe, a dos ricos, que está a fazer a guerra e ganhá-la". Hoje o capitalismo não encontra oposição e, sem pinga de ideologia, limita-se a cumprir o seu próprio código genético, destruindo todos os valores (sociais, éticos, religiosos, culturais, familiares) para tudo reduzir a mercadoria. A bens transacionáveis. Tudo. Tudo e mais alguma coisa. E tudo até à uniformidade total.

A tal direita que se enxofra com o clássico pascal é apenas e tão só uma pequena bolha de resistência a essa debulhadora. Ainda estrebucha quando lhe dizem que a propriedade privada pode acabar (agora até propalado pela Bastonária da Ordem dos Advogados). Ainda barafusta quando lhe mutilam a religião, obras de arte ou os genitais de uma criança que gosta de lilás (se for menino) ou de trepar às árvores (se for menina). Mas estas vozes também serão aniquiladas em breve. Tudo será comercial, nada terá identidade, desejo ou até mesmo história. Os Davids e as Enids Blytons deste mundo que o digam. Aliás, grande parte da dita esquerda já foi apagada do mapa e alinha com a Máquina Devoradora.

A esquerda admite-o tanto ou menos do que a tal direita perdida, mas é evidente. Dúvidas restassem, e durante três anos vimo-la a defender a exclusão social dos não-inoculados covid ou até a sua prisão. Tanto que, sem pejo, na Comissão de Inquérito à TAP, Alexandra Reis revelou que um motorista iria ser despedido por ter recusado essa injecção, sendo coagido para a tomar. Aliás, o exercício dessa intimidação e a supressão dos mais elementares direitos, liberdades e garantias só suscitou risadas alarves na chamada Casa da Democracia. Remorso? Nada disso. A esquerda alinha, gargalha e aplaude, desde cidades de 15 minutos, a menores salários para salvar o planeta (ainda esta semana, num jornal, um professor da Nova declarava, também sem rebuço, que: "Trabalhadores jovens estão dispostos a sacrificarem-se"), até experimentalismos com o nosso corpo, passando pela "censura do bem" (ataques às redes sociais, inclusive). Euro Digital? Venha de lá essa ovação. E isto é a ala esquerda e direita, asas do mesmo pássaro. Cientistas, jornalistas, artistas, há muito que também foram engolidos. Goleadas na Sexta-Feira Santa? Perceba-se que o calvário ainda só agora começou. Portista feliz, ateia e ex-bloquista (será ex-esquerdista?) me confesso.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

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