Paulo Baldaia | TSF | opinião
A forma confrangedora como o ministro João Galamba pareceu procurar no baú das memórias a informação que lhe permitia dizer a verdade sobre o seu envolvimento no episódio do SIS na recuperação do computador é reveladora do buraco onde o governo se meteu ao usar as secretas a seu belo prazer. "Não me... não me recordo, senhor deputado. He... aliás... não...não me recordo".
Dan Ariely, no livro "A
ciência do engano", diz que "aquele que mente precisa de memória e
frieza emocional". Olhando para Galamba, na CPI, percebemos que a frieza
foi trabalhada e a memória ficou selectiva. O ministro que ligou a toda a
gente, primeiro-ministro incluído, PSP e PJ, só não ligou a quem lhe mandaram
ligar, ao SIS. Essa chamada foi feita pela zelosa chefe de gabinete que lê os
pensamentos do seu ministro e lhe antecipa as vontades. De tal forma que o
ministro perdeu o rasto da actuação das secretas e transformou em segredo o que
sobre elas ouviu. Até que nos confessou que foi do gabinete de António Costa
que lhe mandaram ligar ao SIS.
O Presidente Marcelo, na comunicação que fez ao país, lembrou que os serviços
de informação estão ao serviço do Estado e não ao serviço do governo, mas o que
temos visto não é isso.
Sobre a urgência em recuperar o computador, é agora muito evidente que para
João Galamba o que havia de mais importante eram as notas da reunião do dia 16,
as que provam que nos tentou enganar quando nos disse que a reunião de 17
aconteceu a pedido da ex-CEO da TAP. O ministro foi obrigado a falar da
primeira reunião porque o seu ex-adjunto já a tinha tornado publica no dia
anterior.
Aquele que mente precisa de memória e frieza emocional. Quem estará a mentir?
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