sábado, 21 de setembro de 2024

Biden - Angola: A Visita do Candidato Falhado

Artur Queiroz*, Luanda

O Chefe de Estado, João Lourenço, recebeu ontem o embaixador dos Estados Unidos da América em Angola, Tulinabo Mushingi, no Palácio Presidencial em Luanda. O Jornal de Angola dá a notícia em primeira página e garante que no encontro foi abordado o estado das relações entre os dois países. E termina assim: “ Importa realçar que Angola vai acolher, em 2025, a Cimeira de Negócios EUA-África”. 

Antes do encontro entre o embaixador substituído há quase um ano e o Presidente que apenas tem meio mandato para cumprir, a agência noticiosa Reuters, às ordens da Casa dos Brancos, informou que Joe Biden, afastado da candidatura à Presidência dos EUA por incapacidade física e mental, vai visitar Angola transformada num imenso Beiral, no momento da visita. Tulinabo Mushingi foi à TPA, sua xitaca favorita, dizer que isso de visitas oficiais, é com a agenda da Casa dos Brancos, ele não sabe de nada. 

No dia seguinte a diplomacia voltou a funcionar em grande. Foi posta a circular nas redes sociais, a notícia da vista de Biden a João Lourenço, um encontro de amigos com incapacidades diversas, já que o Presidente dos Estados Unidos da América foi dado como incapaz pelo seu próprio partido. As fontes são altamente credíveis e de grande peso: Jornal Económico e Jornal de Negócios. Amplificados pelo Club K, uma coisa que obedece à Irmandade Africâner, UNITA, MIala e até ao Doutor Tuti Fruti!

A Presidência da República de Angola fica em silêncio quando devia falar e muito. Os assalariados da Casa dos Brancos nos Media estão a transformar um Estado Soberano (e quanto sangue custou a soberania!) no campo de golfe da múmia putrefacta que ainda preside aos EUA. Ou o seu sítio de lazer. Este é um sinal exuberante da decadência a que chegámos. Já ninguém respeita o Estado Angolano. Os assuntos diplomáticos são tratados em jornais falidos e “sítios” às ordens dos restos do regime de apartheid!

A Internacional Fascista está instalada em Angola às costas da UNITA e seus “próximos”, Bloco Democrático e PRA JA-SERVIR ANGOLA. Mais o batalhão de bajuladores aos pés de João Lourenço. Para preparar terreno, estão a ressuscitar as aldrabices de sempre, a propósito da “descolonização”. Anda a circular um vídeo no qual um qualquer vigarista entrevistou o Almirante Rosa Coutinho. O falsificador diz que ele em 1975 entregou o poder ao MPLA. Tanto pode ter sido ele como Jesus Cristo. No ano de 1975, Rosa Coutinho já não estava em Angola nem nos visitou em férias. Jesus Cristo também não consta que tenha vindo nesse ano. Tudo o resto são mentiras a partir dessa mentira.

Rosa Coutinho diz na entrevista: “Fui eu que lancei o processo de descolonização. Em seis meses de mandato cumpri a minha missão em Angola”. É verdade. Após o 25 de Abril de 1974, o Presidente Spínola anunciou o federalismo como solução para as colónias portuguesas. A FNLA lançou um ataque a Norte e os paraquedistas portugueses arrasaram os combatentes. Prenderam mais de 100 jovens armados mas nem sabiam usar as armas. O movimento mostrou a sua debilidade política e militar.

Jonas Savimbi, em Maio de 1974, foi entrevistado por Francisco Simons para a Emissora Oficial de Angola (RNA). Defendeu o Federalismo porque “os angolanos não estão preparados para a independência”. Foi muito aplaudido pelos independentistas brancos, aliados do regime racista de Pretória. O MPLA estava dividido mas neste tema apenas Daniel Chipenda ficou em silêncio. Agostinho Neto e vários membros da Revolta Activa imediatamente exigiram “a independência total e completa”. Afortunadamente o Movimento das Forças Armadas (MFA) defendia o mesmo.

O Presidente Spínola enviou para Angola, em Maio de 1974, o General Silvino Silvério Marques, um fascista e colonialista de marca. Era ele que, “com as forças vivas”, ia dar o impulso decisivo aos independentistas brancos e seus aliados racistas de Pretória. 

Este acontecimento provocou a unidade no seio do MPLA à volta de Agostinho Neto, após a refundação do movimento em Luanda, liderada por Manuel Pedro Pacavira, Hermínio Escórcio e Aristides Van-Dúnem. Uma incomensurável explosão popular esmagou o “federalismo”. Esquadrões da morte dos independentistas brancos desencadearam massacres nos musseques. Jovens angolanos que cumpriam serviço militar obrigatória na tropa portuguesa, apoiaram de armas na mão a revolta popular. Estávamos em Junho de 1974. 

Silvino Silvério Marques nem aqueceu o lugar foi devolvido a Lisboa. Para o seu lugar veio o Almirante Rosa Coutinho que de facto iniciou e concluiu o processo de descolonização, entre Julho de 1974 e o final do ano. Fruto do seu trabalho, os três movimentos de libertação – MPLA, FNLA e UNITA – negociaram com Portugal a Independência Nacional. Foi o Acordo de Alvor, um documento precioso onde tudo estava previsto. Só podia dar certo, se os movimentos FNLA e UNITA não estivessem comprometidos com a decisão da Casa dos Brancos: MPLA tem de ser afastado do processo porque os seus dirigentes são comunistas!

FNLA e UNITA em Junho de 1975 abandonaram o Governo de Transição. Estava combinado com o embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlkucci, e o influente Mário Soares, que Portugal ia suspender o Acordo de Alvor e também saía do Governo de Transição. Os portugueses partiam. Deixavam a ordem pública e a defesa das fronteiras nas mãos de Mobutu e da África do Sul racista. A queda do MPLA era uma questão de dias.

Surpresa! O Conselho da Revolução, ainda com uma maioria de esquerda, decidiu que Portugal continuava no Governo de Transição, a defender as fronteiras e a ordem pública, apesar da suspensão do Acordo de Alvor. Em 11 de Novembro de 1975 o Alto-Comissário partia, partiam os seus ministros e todas as forças militares e policiais. Assim aconteceu. A Independência Nacional foi no dia 11 de Novembro de 1975. E 14 dias depois um golpe militar de direita em Lisboa acabou com o 25 de Abril, com o Conselho da Revolução e com o pouco que restava do MFA. Têm dúvidas? Portugal não reconheceu a República Popular de Angola! Isso só aconteceu em 22 de Fevereiro de 1976, depois de 85 países terem reconhecido.

Rosa Coutinho na entrevista manipulada diz que defendia aquilo que o Conselho da Revolução defendeu: Na data prevista no Acordo de Alvor Portugal entregava o poder a quem estivesse no governo em Luanda. Estava o MPLA. A FNLA servia de capa às invasões das tropas do Zaire de Mobutu, das matilhas de mercenários, do Exército de Libertação de Portugal (ELP) e dos oficiais da CIA. A UNITA já comia na mão dos racistas de Pretória. Coisa nunca vista em África. Nem os presidentes africanos mais desavergonhados tinham relações com Pretória. Só mesmo Jonas Savimbi era capaz de tal infâmia. Semelhante traição! 

Também circula um vídeo onde aparece Savimbi a dizer que “preparou” o Acordo de Mombaça. Uma aldrabice infame. Até um mês antes do acontecimento, Holden Roberto ainda não tinha aceitado reconhecer a UNITA como movimento de libertação. Só depois de muitas pressões da parte portuguesa e do próprio MPLA foi possível levar a UNITA a Mombaça. Mas sabem em que condições? De manhã os três movimentos negociavam um documento único na “State House”. À tarde, na cave de um hotel luxuoso na Ilha de Mombaça, as delegações da FNLA e da UNITA combinavam o que iam impor no dia seguinte ao MPLA. Que ia aceitando tudo, para não atrasar o processo. Oiçam as minhas reportagens desse acontecimento!

A UNITA agora é diferente, dizem-me alguns com os olhos baços. Ai é? Leiam o que escreve Abílio Camalata Numa: “O movimento que subverteu os Acordos de Alvor, o ter feito manietado aos interesses e ideologias estrangeiras e sem nenhuma sensibilidade aos interesses das diversas nações de Angola. Hoje, não é preciso ser génio para se perceber quem são os construtores desta realidade penosa que Angola atravessa”.

Para este criminoso de guerra Angola não é uma Nação tem “diversas nações”. O único movimento que respeitou o Acordo der Alvor até ao fim “subverteu” o acordado. O MPLA é o mal. UNITA é o bem. Leiam: “Anos depois, ficou provado do bem ser (FPU - UNITA, BD, PRA-JA SERVIR ANGOLA e Sociedade Civil) e o mal (o MPLA); o momento alto da política de Angola ser o Estado Democrático de Direito de Angola e o baixo a República Popular de Angola e a Assembleia do Povo não eleita”. 

Meu caro Marcolino Moco acreditas mesmo que agora a UNITA é diferente do tempo em que lutou ao lado dos colonialistas contra a Independência Nacional? Combateu ao lado dos racistas de Pretória contra a Soberania Nacional e a Integridade Territorial? Defendeu de armas na mão o regime de apartheid reconhecido como um hediondo crime contra a Humanidade? Eu acredito que hoje são mil vezes piores. 

* Jornalista

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