Artur Queiroz*, Luanda
O Chefe de Estado, João Lourenço,
recebeu ontem o embaixador dos Estados Unidos da América em Angola, Tulinabo
Mushingi, no Palácio Presidencial
Antes do encontro entre o embaixador substituído há quase um ano e o Presidente que apenas tem meio mandato para cumprir, a agência noticiosa Reuters, às ordens da Casa dos Brancos, informou que Joe Biden, afastado da candidatura à Presidência dos EUA por incapacidade física e mental, vai visitar Angola transformada num imenso Beiral, no momento da visita. Tulinabo Mushingi foi à TPA, sua xitaca favorita, dizer que isso de visitas oficiais, é com a agenda da Casa dos Brancos, ele não sabe de nada.
No dia seguinte a diplomacia
voltou a funcionar
A Presidência da República de Angola fica em silêncio quando devia falar e muito. Os assalariados da Casa dos Brancos nos Media estão a transformar um Estado Soberano (e quanto sangue custou a soberania!) no campo de golfe da múmia putrefacta que ainda preside aos EUA. Ou o seu sítio de lazer. Este é um sinal exuberante da decadência a que chegámos. Já ninguém respeita o Estado Angolano. Os assuntos diplomáticos são tratados em jornais falidos e “sítios” às ordens dos restos do regime de apartheid!
A Internacional Fascista está
instalada em Angola às costas da UNITA e seus “próximos”, Bloco Democrático e
PRA JA-SERVIR ANGOLA. Mais o batalhão de bajuladores aos pés de João Lourenço.
Para preparar terreno, estão a ressuscitar as aldrabices de sempre, a propósito
da “descolonização”. Anda a circular um vídeo no qual um qualquer vigarista
entrevistou o Almirante Rosa Coutinho. O falsificador diz que ele em 1975
entregou o poder ao MPLA. Tanto pode ter sido ele como Jesus Cristo. No ano de
1975, Rosa Coutinho já não estava em Angola nem nos visitou
Jonas Savimbi, em Maio de 1974,
foi entrevistado por Francisco Simons para a Emissora Oficial de Angola (RNA).
Defendeu o Federalismo porque “os angolanos não estão preparados para a
independência”. Foi muito aplaudido pelos independentistas brancos, aliados do
regime racista de Pretória. O MPLA estava dividido mas neste tema apenas Daniel
Chipenda ficou
O Presidente Spínola enviou para Angola, em Maio de 1974, o General Silvino Silvério Marques, um fascista e colonialista de marca. Era ele que, “com as forças vivas”, ia dar o impulso decisivo aos independentistas brancos e seus aliados racistas de Pretória.
Este acontecimento provocou a unidade no seio do MPLA à volta de Agostinho Neto, após a refundação do movimento em Luanda, liderada por Manuel Pedro Pacavira, Hermínio Escórcio e Aristides Van-Dúnem. Uma incomensurável explosão popular esmagou o “federalismo”. Esquadrões da morte dos independentistas brancos desencadearam massacres nos musseques. Jovens angolanos que cumpriam serviço militar obrigatória na tropa portuguesa, apoiaram de armas na mão a revolta popular. Estávamos em Junho de 1974.
Silvino Silvério Marques nem aqueceu o lugar foi devolvido a Lisboa. Para o seu lugar veio o Almirante Rosa Coutinho que de facto iniciou e concluiu o processo de descolonização, entre Julho de 1974 e o final do ano. Fruto do seu trabalho, os três movimentos de libertação – MPLA, FNLA e UNITA – negociaram com Portugal a Independência Nacional. Foi o Acordo de Alvor, um documento precioso onde tudo estava previsto. Só podia dar certo, se os movimentos FNLA e UNITA não estivessem comprometidos com a decisão da Casa dos Brancos: MPLA tem de ser afastado do processo porque os seus dirigentes são comunistas!
FNLA e UNITA em Junho de 1975 abandonaram o Governo de Transição. Estava combinado com o embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlkucci, e o influente Mário Soares, que Portugal ia suspender o Acordo de Alvor e também saía do Governo de Transição. Os portugueses partiam. Deixavam a ordem pública e a defesa das fronteiras nas mãos de Mobutu e da África do Sul racista. A queda do MPLA era uma questão de dias.
Surpresa! O Conselho da Revolução, ainda com uma maioria de esquerda, decidiu que Portugal continuava no Governo de Transição, a defender as fronteiras e a ordem pública, apesar da suspensão do Acordo de Alvor. Em 11 de Novembro de 1975 o Alto-Comissário partia, partiam os seus ministros e todas as forças militares e policiais. Assim aconteceu. A Independência Nacional foi no dia 11 de Novembro de 1975. E 14 dias depois um golpe militar de direita em Lisboa acabou com o 25 de Abril, com o Conselho da Revolução e com o pouco que restava do MFA. Têm dúvidas? Portugal não reconheceu a República Popular de Angola! Isso só aconteceu em 22 de Fevereiro de 1976, depois de 85 países terem reconhecido.
Rosa Coutinho na entrevista
manipulada diz que defendia aquilo que o Conselho da Revolução defendeu: Na
data prevista no Acordo de Alvor Portugal entregava o poder a quem estivesse no
governo
Também circula um vídeo onde aparece Savimbi a dizer que “preparou” o Acordo de Mombaça. Uma aldrabice infame. Até um mês antes do acontecimento, Holden Roberto ainda não tinha aceitado reconhecer a UNITA como movimento de libertação. Só depois de muitas pressões da parte portuguesa e do próprio MPLA foi possível levar a UNITA a Mombaça. Mas sabem em que condições? De manhã os três movimentos negociavam um documento único na “State House”. À tarde, na cave de um hotel luxuoso na Ilha de Mombaça, as delegações da FNLA e da UNITA combinavam o que iam impor no dia seguinte ao MPLA. Que ia aceitando tudo, para não atrasar o processo. Oiçam as minhas reportagens desse acontecimento!
A UNITA agora é diferente, dizem-me alguns com os olhos baços. Ai é? Leiam o que escreve Abílio Camalata Numa: “O movimento que subverteu os Acordos de Alvor, o ter feito manietado aos interesses e ideologias estrangeiras e sem nenhuma sensibilidade aos interesses das diversas nações de Angola. Hoje, não é preciso ser génio para se perceber quem são os construtores desta realidade penosa que Angola atravessa”.
Para este criminoso de guerra Angola não é uma Nação tem “diversas nações”. O único movimento que respeitou o Acordo der Alvor até ao fim “subverteu” o acordado. O MPLA é o mal. UNITA é o bem. Leiam: “Anos depois, ficou provado do bem ser (FPU - UNITA, BD, PRA-JA SERVIR ANGOLA e Sociedade Civil) e o mal (o MPLA); o momento alto da política de Angola ser o Estado Democrático de Direito de Angola e o baixo a República Popular de Angola e a Assembleia do Povo não eleita”.
Meu caro Marcolino Moco acreditas mesmo que agora a UNITA é diferente do tempo em que lutou ao lado dos colonialistas contra a Independência Nacional? Combateu ao lado dos racistas de Pretória contra a Soberania Nacional e a Integridade Territorial? Defendeu de armas na mão o regime de apartheid reconhecido como um hediondo crime contra a Humanidade? Eu acredito que hoje são mil vezes piores.
* Jornalista
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