domingo, 23 de março de 2025

Angola | O Poder ao Nível da Anedota -- Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda ---

O poder domiciliado no Antro da Cidade Alta e no Palácio da Justiça desceu ao nível da anedota o que é perigoso, porque o ridículo mata mais do que a cólera. Hoje tenho várias anedotas para partilhar. Funcionários da Direcção dos Serviços Prisionais submetidos às ordens supremas condenaram o empresário Carlos São Vicente à pena de prisão perpétua, porque não está arrependido de ganhar dinheiro com os seus negócios e a sua sabedoria, desde que Angola entrou no regime de democracia representativa e economia de mercado. Mas também porque não pagou uma indemnização ao Estado.

Ontem mostrei o ridículo desta anedota revelando uma lita (não completa) dos bens que lhe sacaram à má fila e que valem mais de cinco mil milhões de dólares. Descontam a indemnização fixada pelo Tribunal e ainda sobra uma fortuna. Mas a lista é muito maior. Tomem nota de alguns bens mobiliários sacados ao prisioneiro e refém do filho de enfermeiro.

O Duo Metralha (Hélder e Eduarda) apoderou-se de 49 por cento do capital social do Standard Bank Angola. Este património está (se ainda não voou…) com o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE). Cheira a Vera Daves e a orações ao Espírito Santo! São muitos milhões.

Apoderaram-se de muito dinheiro depositado em bancos angolanos, nas contas da AAA Activos Lda. Esta empresa nunca foi acusada, pronunciada nem julgada. Os seus bens móveis e imóveis não podiam ser tocados pelo Duo Metralha e seus sequazes, inclusive a ministra cabeleireira e manequim, devota do Espírito Santo.

Anedota para chorar: Apurei junto das minhas fontes que grandes quantidades de dinheiro têm sido retiradas dessas contas pelo Cofre Geral de Justiça e pelo IGAPE da Dona Vera. Quando o poder desce ao nível da anedota dá em estórias de carteiristas. Os movimentos nas contas da AAA Activos Lda. são ilegais e podem dar prisão perpétua quando mudar o bico ao prego do poder.

Basta? Nem pensar. Fundos depositados em bancos angolanos nas contas de Carlos São Vicente e seus familiares tiveram o mesmo destino. Caíram nas mãos da matilha insaciável de dinheiro. Estes fundos estão “congelados” desde 2020. As vítimas não são informadas de nada. Congelamento perpétuo em cima de prisão o perpétua. A sorte é que os familiares escaparam às ordens de prisão do chefe de posto. Com o verdadeiro Mobutu estavam lixados.

No estrangeiro também foram “congelados” os fundos das empresas AAA, de Carlo São Vicente e dos seus familiares. Mas estes bancos não entregam o dinheiro aos agentes de extorsão. Têm de parecer sérios. Zelam pela sua reputação.

Carlos São Vicente não tem qualquer informação, há cinco anos, sobre estas contas bancárias nem se existem ainda saldos. Os agentes de extorsão não brincam em serviço. Só o banco da Suíça presta contas dos saldos. Os suíços são muito educados, cívica e financeiramente. Nem parecem agentes do capitalismo que mata (Papa Francisco dixit).

O Duo Metralha e seus sequazes sacaram milhares de milhões a Carlos São Vicente e seus familiares mas não entregaram uma única factura. Uma nota de liquidação. Comprovativos do pagamento de indemnizações. O Estado (supostamente…) ficou com tudo mas não emitiu um único documento das expropriações. Espoliado, roubado e refém dos carteiristas!

O poder instalado no Palácio da Justiça desceu ao nível da anedota no julgamento dos Generais Kopelipa e Dino. Mais o cidadão chinês Yiu Haiming. O processo tem anos. O Tribunal queria julgar os arguidos mal eles tomaram conhecimento do despacho de pronúncia. Começaram as audiências e não existia um tradutor de mandarim. Pediram um ao Ministério das Relações Exteriores. Acharam o pedido tão absurdo que nem responderam. Então a Interpol salvou a honra do convento mandando dois. A parte hilariante da anedota é esta: Os tradutores revelaram que não entendem nada da linguagem jurídica! 

Com o devido respeito aos magistrados judiciais Ababela Valente, Raúl Rodrigues e Inácio Paixão, ao agente do Ministério Público Lucas Ramos tenho a dizer: Quando o Poder Judicial desce ao nível da anedota, já estamos em pleno triunfo dos porcos. Não se deixem arrastar pera a kibanga, por favor. Lembrem-se de quanto custou construir o edifício da Justiça.

Só mais esta anedota. Há uns anos fui com um amigo ao Elegante dos Brancos, em Lisboa, beber uns copos. Aquilo estava deserto. Muita menina e poucos clientes. O meu amigo era médico especialista em cirurgia plástica e reconstrutiva, no Porto. Uma vez por semana ia a Lisboa reparar nádega e seios. Na hora do lazer fomos ver umas meninas dançarem agarradas a um tubo. E como a casa estava vazia, quatro beldades vieram fazer-nos companhia.

De repente entraram de rompante polícias. Iam fazer uma rusga às mulheres ilegais. Começaram a identificar as nossas acompanhantes. Uma era terapeuta. Outra promotora imobiliária. Outra psicóloga e outra gestora. Três brasileiras e uma portuguesa. O meu amigo identificou-se com o cartão da Ordem dos Médicos. Um agente mal-encarado para mim: Identificação? Respondi: Está no carro. O que faz? Olhei para ele, sorri e rebentei: Dizem que a sua polícia é das melhores do mundo e você ainda não percebeu que eu sou a puta?

O homem levou a mal e fui detido. Até me tiraram fotografias de frente e de ladex. Não conto mais porque esta anedota dava um romance.

O Miguel Ângelo angolano é polícia. Bufo que chega. Arranjou novos donos e agora chamam-lhe sociólogo e escritor. É como as meninas do Elefante dos Brancos. Convencido de que tem imunidade, deu uma entrevista na Rádio Essencial onde insultou gravemente um alto funcionário do Estado Angolano. Os donos da kitanda tiraram logo o cavalinho da chuva. E os mabecos começaram a uivar: Censura! Atentado à Liberdade de Imprensa!

Estão mesmo convencidos de que uma Carteira Profissional de Jornalista é uma espécie de licença de caça. Podem disparar à vontade. Não sabem que tanto tem direito à honra quem é muito honrado como quem é muito desonrado. Não percebem que os crimes por abuso de liberdade de imprensa são antes de tudo crimes contra os Jornalistas e o Jornalismo. 

Ma esta anedota está boa. Um ximba malacueco de profissão agora é sociólogo! Os brancos não brincam em serviço. Quando contratam a criadagem, arranjam-lhe logo um título pomposo. Até fizeram do Agualusa escritor! É preciso ter coragem.

* Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana