quinta-feira, 13 de março de 2025

PORTUGAL DAS ELEIÇÕES DAS MARGARIDAS, DOS CRAVOS E DAS CEREJAS

Susana Charrua, Odemira

Portugal tem sido vítima de imensas tempestades, quase dia sim – dia sim. As intempéries não nos têm poupado, de norte a sul. Também na política tem sido assim. O Curto do Expresso lembra a primavera que está quase a chegar. Nessa parte é semelhante a um Curto poemado. Bonito. Só lá falta a esperança de dias melhores para o país, no tempo, na política, em tudo.

A autora de hoje do Curto é Christiana Martins, jornalista do burgo do senhor decano Balsemão Impresa. Leiam e recorram às respetivas ligações (links).

Eis o Curto a seguir. Sem comentários nossos porque ficámos embevecidos pelas Margaridas e do tempo primaveril de que estamos à espera e que tarda. As alterações climáticas gravosas são as causas tenebrosas. Tempo mau que irá dar lugar ao bom. Queremos também poder devorar cerejas e bramir cravos. Era maravilhoso que tal se cumpra. Estamos fartos dos invernos rigorosos e macambúzios climáticos, da política. Obra de políticos nefastos que tramam o bem estar justiceiro que os lusitanos merecem – como qualquer outro povo. Sejamos positivos e deixem de engonhar. Estamos todos à espera de honestidade política e de justiças. Despachem-se.

Bom dia. Melhor país, melhor vida. Bom resto de semana. Saúde, habitação, educação… Tudo do melhor que merecemos. Justiça, de facto.

Sigam para o Curto do Expresso. Já.

Susana Charrua | Redação PG

Maio, maduro Maio

Christiana Martins, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

Na segunda quinzena de maio, se tudo correr bem, em plena Primavera, temporada das flores, vão começar a aparecer também as cerejas. Ainda não estarão no auge, mas já se poderá adivinhar o sabor que terão. A partir do meio de maio, os portugueses vão provar o gosto de mais uma ida às urnas, na quarta eleição legislativa em cinco anos e meio. E que todos os problemas dos cidadãos se resumam à frequência com que exercem o seu direito/dever de votar, condição da vida democrática. Dito isto, que maio venha maduro e que o fruto que for colhido não tenha passado do ponto, apodrecido por dentro.

Até lá, muita lucidez e bom senso serão o sal que os políticos portugueses terão de comer para honrarem a missão que assumiram. Porque nós, eleitores, deveremos fazer uso do mesmo remédio para os escolher, depois de tanto e ensurdecedor ruído. E esta semana foi fértil em barulho.

Ontem, depois de na véspera termos presenciado uma sessão conturbada que entrou para os anais da Assembleia da República e em que apesar da disciplina de voto houve dissonâncias como a de Fernando Medina, o Presidente que pecou por omissão, abriu as portas do Palácio de Belém para acolher o desfile dos desavindos. Hoje, Marcelo Rebelo de Sousa preside à reunião do Conselho de Estado para tratar da dissolução do Governo e das próximas eleições legislativas e espera-se que fale ao país para anunciar a sua decisão.

Até lá, primeiro vimos a repetitiva e pouco esclarecedora cena da visita dos líderes ao Presidente, com cada um enfeudado nas suas ambições partidárias e pessoais. A um sorridente Luis Montenegro, frente a frente com o chefe de Estado que o disse rural, seguiu-se um Pedro Nuno Santos com ar mais pesado. Liliana Valente explica como foi a parada dos concorrentes, no que diferem e comungam, sobretudo, no apelo a eleições tão rápidas quanto possível.

“Não há razões para alarme”, garantiu Montenegro, enquanto Pedro Nuno Santos disse ser preciso "prudência, cautela e respeito pelas outras instituições". Entretanto, no ar já pairava o anúncio de que a Procuradoria Geral da República tinha decidido abrir uma averiguação preventiva sobre a empresa criada pelo ainda primeiro-ministro.

O dia de ontem acabou com uma verdadeira ação de campanha, com a demonstração de vida do PSD na reunião do Conselho Nacional. Paula Caeiro Varela conta como as principais figuras do Governo e do partido tomaram da palavra cerrando fileiras à volta de Luís Montenegro, com muitos aplausos ao líder intervenções de apoio quase unânimes e como a plateia reagiu mal à única voz que desalinhou. Fica a acusação de José Aguiar Branco: “Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos.”

Em meio à incerteza, ainda não se sabe se no 51º aniversário do 25 de Abril haverá sessão solene no Parlamento, cujo presidente não perdeu tempo e acelerou, com o fim da suspensão dos trabalhos da comissão de inquérito ao caso das gémeas, de forma a que o relatório elaborado pela deputada do Chega Cristina Rodrigues possa ser discutido em comissão, como explica a Liliana Coelho.

Mas, espera-se, que nas ruas por todo Portugal, mesmo sem sessão formal no Parlamento, os cravos ocupem o espaço que há cinco décadas lhes é reservado. No Alentejo, como nos recorda a fotografia da Ana Baião que abre esta newsletter, as margaridas já ordenam. E que assim seja, porque, como em “Maio, maduro Maio”, que tão bem cantou Zeca Afonso, “quem te quebrou o encanto, nunca te amou”. Pois então, que venha o maio desejado e que cá estejamos para o merecer.

Outras notícias

Avia-se em terra O almirante na reserva Henrique Gouveia e Melo foi apanhado pela crise política e teve de adiar o lançamento da candidatura presidencial para depois das eleições legislativas. Mas um grupo de pessoas de sua confiança já registou há 15 dias o movimento de apoio ao ex-militar no seu lançamento na política. Sempre à frente nas sondagens, Gouveia e Melo faz lembrar o escritor brasileiro Ivan Lessa, que dizia que “tudo na vida é passageiro, menos o general, o almirante e o brigadeiro”.

No pouco está o ganho O ainda governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, atirou-se às instituições que tutela, em defesa dos depositantes, criticando a política de juros baixos nos depósitos. “Que a banca reflita sobre o rendimento que dá às poupanças dos portugueses”, disse em tom de repreensão.

Árvores morrem deitadas Discretamente, o Governo fez a sua maior autorização de abate de sobreiros, permitindo o corte de 1070 exemplares, para viabilizar uma nova central solar em Condeixa-a-Nova. O promotor do empreendimento, contudo, compromete-se a plantar mais de sete mil árvores em Marvão.

Sol no horizonte As perspetivas animadoras para o sector do turismo, antecipando novos recordes este ano, refletiram-se na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que abriu ontem na FIL “completamente esgotada”. A ensombrar o crescimento apenas as limitações do aeroporto de Lisboa.

Gelo a derreter Na Gronelândia, o partido que representa o independentismo moderado venceu as eleições. A ver vamos como ficará a relação com a Dinamarca e que papel estará reservado aos Estados Unidos no futuro daquele território com 57 mil habitantes.

Mais rápido do que a sombra Na terça-feira, na Arábia Saudita, a Ucrânia aceitou um cessar-fogo imediato de 30 dias. Agora cabe a Putin provar que quer a paz e desarmará a sua máquina de matar. Entretanto, a Rússia atacou Kiev, Odesa e Kryvyi Rih, cidade de Volodymyr Zelensky. E Putin fez-se ver em uniforme militar na região de Kursk. Trump disse que enviou negociadores para Moscovo e ameaçou adotar sanções financeiras caso a Rússia rejeite o cessar-fogo na Ucrânia.

Em tempo de guerra, as armas ficam sujas Bruxelas avançou ontem para a retaliação às tarifas norte-americanas sobre o aço e o alumínio. A resposta europeia tenta atingir Donald Trump “onde mais lhe dói”, numa batalha em que todos vão sair feridos.

Mão amiga Donald Trump comprou um Tesla e chamou os jornalistas para que o acto ficasse documentado, mas um fotógrafo conseguiu apanhar as notas que o Presidente norte-americano tinha e ficou evidente que um vendedor da Tesla não faria melhor publicidade.

A ocasião faz o ladrão A floresta amazónica está a ser derrubada para avançar com a construção de uma estrada para cúpula do clima, a COP30 na cidade brasileira de Belém, que deverá receber mais de 50 mil pessoas em novembro.

Gato escondido O misterioso acidente que envolveu um cargueiro com bandeira portuguesa e um petroleiro norte-americano no mar do Norte tem mais um detalhe a investigar: o comandante do navio registado na Madeira é russo e foi detido, juntamente com outros quatro oficiais.

Parar o tempo Este fim de semana é a última oportunidade, até 2026, para visitar o Museu Gulbenkian e, por isso, a programação é especial. Antes das obras de renovação deste espaço com quase 55 anos, é possível, no horário alargado até às 21h, ver de ourivesaria francesa a livros proibidos no século das Luzes. Sem esquecer um concerto com solistas da orquestra da casa.

Frases

“O momento é para respeitar o que fizemos e o que somos”, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, numa conferência organizada pelo Jornal Económico, sem nunca referir diretamente a crise política

"Votar? Não voto. Não fico e não voto. Estou com o pé na porta da rua”, fragmento do pensamento de um jovem português citado na última crónica de Clara Ferreira Alves na próxima revista do Expresso

Podcasts a ouvir

Na “Liga dos Inovadores”, João Navalho, da Necton, uma empresa de biotecnologia de algas integra o Laboratório Colaborativo GreenCoLab, explica que estas "não substituem um cozido à portuguesa, mas são melhores nutricionalmente do que salsichas que não sabemos o que têm”.

Em “O Futuro do Futuro”, Rui Cardoso, diretor de engenharia da Bosch em Portugal, que está a liderar as equipas que trabalham na área da condução autónoma em Braga, diz que quando os carros autónomos estiverem em maioria, as cartas de condução vão ser documentos do passado.

No “A História Repete-se”, Henrique Monteiro e Lourenço Pereira Coutinho conversam sobre o contexto da moção de confiança apresentada pelo I governo constitucional, o Executivo minoritário liderado por Mário Soares, a 7 de dezembro de 1977, e que acabou rejeitada por PPD, CDS, PCP e UDP.

O que ando a ler

No mesmo dia em que no Vaticano se celebra o 12º aniversário da eleição de Jorge Mario Bergoglio como o agora debilitado Papa Francisco, está previsto que esta quinta-feira, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, se reúna com Donald Trump. Na Alemanha, conservadores e sociais-democratas iniciam as negociações para formação do governo e na Grécia toma posse o novo Presidente, Constantinos Tassoulas.

Neste mundo marcado por tanta incerteza, ver de fora para olhar para dentro é um caminho a ter em conta porque, como dizia José Saramago, “se puderes olhar, vê e se puderes ver, repara”. Partilho por isso algumas leituras que me fizeram pensar.

Primeiro, uma seleção de textos sobre a crise política nacional, contada por jornais internacionais. Como este texto da BBC, em que o conflito é detalhadamente explicado como se de uma novela se tratasse e em que nada parece faltar, nem a profissão da mulher do atual primeiro-ministro, nem a juventude dos filhos, nem os últimos escândalos que atingiram o Chega.

“Le Monde” fala no “ambiente muito tenso, marcado por acusações cruzadas de perseguição política e possível tráfico de interesses", mas também em "suspensões de debates e tentativas de negociações de última hora” que marcaram o debate da moção de confiança. O texto aborda os vários anúncios feitos pelo Governo - “novos aumentos salariais, vagas em creches, simplificação tributária, um plano ferroviário e uma parceria público-privada para a gestão de cinco hospitais…” - para concluir que “esta já é uma forma de se preparar para as eleições”.

Contundente foi o artigo do “Financial Times”, que não se inibiu de titular o texto com uma interpretação: “Portugal enfrenta novas eleições após colapso do governo devido a escândalo ético.” E termina recordando que “o ex-primeiro-ministro de Portugal, António Costa, agora presidente do Conselho Europeu, renunciou em 2023 por causa de um escândalo do lobby que ainda está a ser investigado por promotores, embora não tenha sido acusado por má conduta” e que “José Sócrates, primeiro-ministro de 2005 a 2011, aguarda julgamento por acusações de lavagem de dinheiro e falsificação de documentos”.

Também nós devemos olhar de fora para os outros países e dois textos do “New York Times” são especialmente relevantes quanto ao momento vivido pelos Estados Unidos, país que a todos afeta.

Em “Poder, dinheiro, território: como Trump abalou o mundo em 50 dias”, David E. Sanger, jornalista que acompanhou seis presidências americanas, reflete sobre como em apenas 50 dias, Donald Trump “fez mais do que qualquer um de seus antecessores modernos para minar as fundações de um sistema internacional que os Estados Unidos construíram meticulosamente nos 80 anos desde que saíram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial”.

E, no muitíssimo bem escrito “Uma grande revelação está em andamento”, Thomas Friedman, diz que “se Trump quer levar a América a uma reviravolta de 180 graus, ele deve ao país um plano coerente, baseado em economia sólida e uma equipe que represente os melhores e mais brilhantes, não os mais bajuladores e de direita woke”. E alerta que, “acima de tudo — acima de tudo —, ele deve a todo americano, independentemente do partido, alguma decência humana básica”

Recorda o discurso de posse de John F. Kennedy, a 20 de janeiro de 1961: “Que todas as nações saibam, quer nos desejem bem ou mal, que pagaremos qualquer preço, suportaremos qualquer fardo, enfrentaremos qualquer dificuldade, apoiaremos qualquer amigo, nos oporemos a qualquer inimigo para garantir a sobrevivência e o sucesso da liberdade.”

Mas parar por aqui seria básico e Friedman recua ao discurso de Abraham Lincoln em janeiro de 1838, no Liceu de Springfield: “A partir de que momento é que se pode esperar a aproximação do perigo? Respondo que, se alguma vez [este perigo] nos atingir, tem de surgir entre nós. Não pode vir do exterior. Se a destruição for o nosso destino, temos de ser nós próprios o seu autor e executor. Como uma nação de homens livres, temos de viver para sempre ou morrer por suicídio.”

Que o vento não leve as palavras porque, quanto mais conturbados são os tempos, mais atentos e informados nós devemos estar. Amanhã há Expresso nas bancas e estamos sempre aqui. Não se distraiam.

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