quarta-feira, 9 de abril de 2025

Angola | Meu Presidente do Coração – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

“A UNITA não vai participar nos actos comemorativos do quinquagésimo aniversário da independência nacional”. Esta frase singela, inscrita num comunicado da direcção política do partido, é a marca da nova Angola. Mudou tudo na política angolana. Mudou tudo no meu mundo. A partir de agora sou galo velho da capoeira e Adalberto da Costa Júnior é o meu presidente do coração. É preciso ter coragem para recusar as comemorações dos 50 anos da Independência Nacional. Acabaram os fingimentos. Agora está tudo à vista. 

Os sicários da UNITA têm fingido que desconhecem os crimes de guerra do assassino cruel Jonas Savimbi. Nunca pediram desculpa à Humanidade pelas mulheres e crianças que queimaram vivas na Jamba. Nunca mostraram o mínimo arrependimento pelos milhares de elefantes e rinocerontes que dizimaram no Sul de Angola para o tráfico de marfim. Nunca pediram perdão por terem feito da Jamba um paraíso para traficantes de droga e diamantes. Diziam que o acampamento dos karkamanos era a pátria da democracia! Agora chegou a hora da verdade e da sinceridade.

A UNITA só participa nas Comemorações do 50 Anos da Independência Nacional se o Presidente João Lourenço condecorar Diogo Cão, Paulo Dias de Novais, Salazar, Marcelo Caetano (Savimbi escrevia cartas ternurentas a este democrata …), Luz Cunha, Bettencourt Rodrigues, Passos Ramos, São José Lopes ou Silvino Silvério Marques. Todos papás da UNITA e patrões de Jonas Savimbi.

(Vou abrir este parêntesis para esclarecer os aldrabões de turno que a UNITA fez operações no Bié sim. Mas foi ao lado da tropa portuguesa e contra a guerrilha do MPLA, que avançava do Moxico para o Planalto Central com o fim de, à boleia do Caminho-de-Ferro de Benguela, abrir uma frente para o mar). 

A UNITA só participa nas Comemorações dos 50 Anos da Independência Nacional se o Presidente João Lourenço condecorar todos os líderes do Partido Nacional da África do Sul, desde a sua fundação. Têm de ser condecorados os donos da UNITA: PW Botha, John Vorster, Magnus Malan, Pik Rudolf Botha, general Jannie Geldenhuys, major general Neil Van Tonder e o major general Kat Liebenberg. Os chefões do regime racista de Pretória que dirigiram a guerra de agressão contra Angola.

A UNITA é visceralmente contra o 11 de Novembro 1975 porque significa o fim do sonho colonial. O fim do império português. O fim da traição mais abjecta que alguma vez foi cometida por africanos. A UNITA odeia o 27 de Abril 1994 (Dia da Liberdade) na África do Sul, porque marca o fim do odioso regime de apartheid. 

As datas festivas da UNITA são estas: 10 de Junho (Dia de Portugal). O 4 de Julho (Dia dos EUA). O 14 de Julho (Dia de França), Dia 23 de Abril (Dia do Reino Unido). O Dia Maior da UNITA é o 7 de Setembro, quando Savimbi atirou para as fogueiras da Jamba mulheres e crianças acusadas de bruxaria, como na Idade Média

Bela Malaquias escreveu um livro sobre esse acontecimento intitulado "Heroínas da Dignidade I - Memórias de Guerra". A líder do Partido Humanista diz que “decidi escrever o livro no momento em que assisti à queima das bruxas”. E dá pormenores arrepiantes: 

“Nesse dia chamaram as mulheres para a parada. Antes dessa chamada, Savimbi e a sua direcção, os seus colegas, tiveram uma reunião prévia, para ele anunciar o que se ia passar na parada. Como era costume, as mulheres cantavam e dançavam. Quando Savimbi chegou à parada, começou a chamar mulheres para o centro do espaço. As pessoas que iam ser queimadas, recolheram a lenha e atearam o fogo em que elas iam ser queimadas”.

Entre as vítimas estavam Judite Bonga, Vitória Chipati e o seu bebé, Clara Miguel (conseguiu desfazer-se do seu bebé), Maria Piedade e outras Mulheres Angolanas vítimas do assassino e criminoso de guerra.

(Vou abrir mais um parêntesis. O bebé da infeliz Clara Miguel tem que ser condecorado nos 50 Anos da Independência Nacional. É uma forma decente de homenagear todas as vítimas do assassino cruel e criminoso de guerra Jonas Savimbi. Todos os assassinados pelo chefe do Galo Negro). 

A UNITA não vai participar nas cerimónias dos 50 Anos da Independência Nacional. Eis uma decisão corajosa que o Povo Angolano tem de agradecer. Finalmente a sinceridade e a decência. 

Savimbi teve a oportunidade de se limpar do colaboracionismo com o colonialismo. Agravou ainda mais a traição ao colocar-se ao erviço do regime racista de Pretória, depoi do 25 de Abril 1974. Voltou a ter uma oportunidade de ouro no Acordo de Bicessse. Agravou ainda mais a traição ao dirigir uma rebelião armada contra a democracia, quando perdeu as eleições. Teve mais uma oportunidade de se limpar do seu longo trajecto de traidor e assassino, com o Protocolo de Lusaka. Preferiu a traição. Os seus seguidores também.

Devemos esta sinceridade a Adalberto da Costa Júnior, sua direcção partidária e seu grupo parlamentar, onde incluo gostosamente Justino Pinto de Andrade, que nasceu no MPLA e agora é um franganito da capoeira. 

O meu coração bate por Adalberto. Não falta muito para me verem a comer nos contentores de lixo. E a falar sozinho. Viva o Poder Popular! Resistência Popular Generalizada! Angola É Trincheira Firme da Revolução em África” Estou parado no tempo. Ainda bem. Assim não me dou conta que o racista, xenófobo e savimbista Celso Malavoloneke agora trabalha para o MPLA de João Lourenço. 

Já percebi. Em 2027 o cabeça de lista do MPLA às eleições vai ser o Trump, líder da internacional fascista. Por isso é que puseram a circular calúnias contra o General Higino Carneiro. Tirem-me daqui!

* Jornalista

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