< Artur Queiroz*, Luanda >
No dia 23 de Março 1988 terminou
a Batalha do Cuito Cuanavale que começou em Novembro de 1987. Acabou a Guerra
pela Soberania Nacional e Integridade Territorial com a vitória estrondosa de
Angola e o esmagamento do regime racista de Pretória. A capitulação dos
racistas aconteceu com a assinatura do Acordo de Nova Iorque entre Angola, Cuba
e África do Sul, em 28 de Novembro de
Pretória e a Casa do Brancos
esconderam Jonas Savimbi no Gabão e outros países africanos, até ver em que
paravam as modas. Os militares da UNITA, que serviam de capa à guerra dos
racistas de Pretória contra Angola, foram acantonados na Jamba. A diplomacia
dos EUA entrou em acção e convenceu o Presidente José Eduardo dos Santos a
estender a mão ao criminoso de guerra Jonas Savimbi. O argumento da Casa do
Branco era fortíssimo: “Nós a partir de agora não apoiamos a UNITA. Pretória
também não. Há o risco de ficar uma força armada, pária, à solta na África
Austral. A paz fica
No dia 31 de Maio 1991, três anos depois do fim da Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial, foi assinado o Acordo de Bicesse entre o Governo de Angola e a UNITA. O regime angolano mudou. Da democracia popular e do socialismo passámos para a democracia representativa e a economia de mercado (capitalismo). As primeiras eleições multipartidárias ocorreram em 29 e 30 de Setembro 1992, quatro anos e meio depois da Batalha do Cuito Cuanavale. Angola estava destruída mas vivia em paz.
No ano e meio que passou entre a assinatura do Acordo de Bicesse e as eleições multipartidárias em 29 e 30 de Setembro 1992, os Media do ocidente alargado, particularmente portugueses, mais toda a imprensa privada angolana que entretanto surgiu, repetiam diariamente, até à náusea, que o MPLA ia perder as eleições. A maior parte proclamava a UNITA e Savimbi como vencedores. Outra parte apostava no PRD, partido dos golpistas do 27 de Maio 1977, aliado a uns restos da Revolta Activa. O candidato presidencial era Luís dos Passos e a estrela da companhia Joaquim Pinto de Andrade.
Contados os votos, José Eduardo dos Santos teve 49,56 por cento dos votos. Jonas Savimbi 40,07. Daniel Chipenda 0,53. Anália Vitória Pereira 0,29 e Rui Vitória Pereira 0,23. Os dois irmãos conseguiram 20.700 votos! O partido de Anália (PLD) elegeu deputados e por isso integrou o governo do primeiro-ministro Marcolino Moco. Ficou a porta aberta para Alexandra Simeão, filha de Anália e Carlos Simeão (Manolo) integrar o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Quem só comia carapau passou a comer lagosta e caviar!
Em 1992, o MPLA ganhou com maioria absoluta, 53,74 por cento dos votos. Os vencedores antecipados, UNITA, obtiveram 34,10 por cento. Derrotados estrondosamente. Logo a seguir à assinatura do Acordo de Bicesse, (quatro dias depois) a inteligência militar sul-africana e a Casa dos Brancos criaram bases secretas no Cuando Cubango onde esconderam milhares de militares, que serviram os racistas de Pretória e as suas melhores armas. Se a UNITA perdesse as eleições, como perdeu, invocavam a fraude e partiam para a tomada do poder pela força, como fizeram. A rebelião armada só terminou em 22 de Fevereiro 2002, no Lucusse.
Em plena rebelião armada, o Presidente José Eduardo convocou novas eleições em 2008. MPLA e José Eduardo dos Santos, 81,64 por cento. UNITA 10,39. FNLA 1,11 por cento. O MPLA elegeu 191 dos 220 deputados. O partido de Alexandra Simeão foi extinto por falta de votos. O mesmo com o partido dos golpistas do 27 de Maio 1977.
Estas eleições foram exigidas pelos partidos integrantes do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), que tomou posse em 11 de Abril 1997. Aconteceram em plena rebelião armada de Jonas Savimbi. Era constituído por todos os partidos com deputados na Assembleia Nacional, inclusive a UNITA, que em 1992 recusou integrar o Governo Moco.
Nestas eleições foram extintos por falta de votos o PLD (Anália e Alexandra Simeão), PRD (golpistas), FpD (Bloco Democrático), PAJOCA, Partido de Apoio Democrático e Progresso de Angola (PADEPA), Aliança Democrática Coligação (AD) e Plataforma Política Eleitoral (PPE).
As eleições seguintes aconteceram em 2012, já na vigência da Constituição da República de 2010. MPLA registou 71,84 por cento, maioria qualificada. O segundo partido mais votado foi a UNITA, com 18,66 por cento. Nestas eleições surgiu a Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE) que ficou em terceiro lugar com 6,0 por cento e elegeu oito deputados.
Hoje Alexandra Simeão publica no Novo jornal um texto de opinião intitulado “As Eleições da Ditadura”. Mentir, falsificar e manipular nada têm a ver com liberdade de expressão. São crimes. Mentira não é opinião. E a autora daquele nojo mente desalmadamente. Falsifica. Manipula. Omite criminosamente. Escreve que nas eleições de 1992 Angola “ainda cheirava a guerra”. Aldrabice infame. A guerra tinha acabado em 23 de Março 1988, mais de quatro anos e meio antes das eleições. O Acordo de Bicesse foi assinado um ano e meio ante das eleições. Em plena rebelião armada Alexandra Simeão aceitou o cargo de vice-ministra da Educação do GURN. Não lhe cheirava a guerra, só a dinheiro e mordomias. Quiçá a cocaína.
A falsária escreve que só o MPLA pôde fazer campanha em todo o país, os outros partidos, coitadinhos, só mesmo nos seus becos e nos quintalões das farras. Ma o PLD elegeu um deputado pelo Cuando Cubango. Só o MPLA controlou as mesas e assembleias de voto. Os outros ficaram a comer caviar e beber champanhe. Torrando em proveito dos seus dirigentes, os milhões que receberam do Estado para as eleições.
As aldrabices infames de Alexandra Simeão tinham que ser prontamente desmentidas pelo MPLA porque falsificam a História Contemporânea de Angola e do próprio partido. Silêncio. Desmentidas pelo Executivo. Silêncio. Desmentidas pela Comissão Nacional de Eleições. Silêncio. Cumplicidade evidente. Até da direcção do Novo Jornal. Porque se num jornal angolano ninguém sabe nada do que aconteceu nas eleições de 1992 e seguintes, estamos perante uma situação mesmo muito perigosa. Aquilo não pode servir apenas para facturar.
Informação. Nos países de regime da democracia representativa, mesmo circense, o eleitor identifica-se na hora de votar com o Bilhete de Identidade. É mais seguro, mais limpo e transparente. O cartão de eleitor já não existe! Um dia destes, os alucinados da política exigem o regresso à democracia popular e ao socialismo. Grandes farsantes!
* Jornalista
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