A BANDEIRA DA SONANGOL NO EDIFÍCIO DA J. P. MORGAN EM NOVA YORK!
Martinho Júnior, Luanda
A integração de interesses financeiros da “holding” que dá pelo nome de SONANGOL no “China International Fund” está a potenciar enlaces financeiros ao nível do patamar da aristocracia financeira mundial, buscando com isso as novas elites angolanas um espaço nunca antes alcançado, tirando partido basicamente das riquezas naturais do país (sobretudo no que diz respeito a petróleo e diamantes) e de sua ambivalente capitalização, fundamentalmente em dois sentidos: Estados Unidos e China.
Com efeito a maior parte das exportações de petróleo angolanas vão em direcção dos Estados Unidos e da China (China absorve quase 40% das exportações de petróleo de Angola – http://hojemacau.com.mo/?p=29676) e isso possibilita que as articulações financeiras e de outros interesses angolanos acompanhem a tendência e tirem partido dum conjunto importante de praças ligadas ao sector energético nos Estados Unidos (Nova York e Houston), na Europa (Londres) e na Ásia (Singapura e sobretudo Hong Kong), tendo a China como principal destinatário dos fluxos de petróleo.
Tendo em conta por outro lado as características comerciais dos diamantes, Angola procura que o seu comércio não esteja muito longe das articulações que tem vindo a formular no campo energético, tirando partido dos fundamentos duma estratégia que remontam aos primeiros dias da independência, quando se mantiveram os interesses das multinacionais ocidentais, particularmente das norte americanas, britânicas e francesas, no petróleo angolano.
Para além das praças de Nova York, de Londres, de Antuérpia e de Tel Aviv, os angolanos em matéria de produção e comércio de diamantes procuram atingir praças como as de Bombaim e de Hong Kong, recorrendo a experiências de toda a ordem mas sobretudo as que se prendem ao “cartel” sustentados pelas fortes casas financeiras dos Rothschield, dos Morgan e dos Rockefeller (daí a “assessoria disponível” de Maurice Tempelsman).
A praça de Hong Kong é de todas aparentemente a mais cosmopolita e promissora, pois ali confluem os interesses anglo-saxónicos e asiáticos, particularmente da China, entre eles os interesses ligados ao J. P. Morgan.
A compra do número 23 da Wall Street em Nova York, o prédio que foi sede do J. P. Morgan, pelo “China SONANGOL” no final do século passado, não é de estranhar: é o símbolo-corolário das articulações conseguidas a partir do petróleo e dos diamantes, ao mesmo tempo a parte física que une a reciprocidade de interesses que interligam os Estados Unidos e a própria República Popular da China, tirando vantagem da parte mais suculenta de África como garante de petróleo e matérias primas.
A bandeira do “China SONANGOL” flutua ao nível dos lugares concebidos pela aristocracia financeira mundial; nessa bandeira não se enganaram os chineses (http://www.caixin.com/), tal como acertaram na localização da bandeira de Angola em relação ao território do mapa (veja-se a Rapidinha no 71), mas não é Angola que desse modo tem “a lança” (ou o “lobby”) nos Estados Unidos, ou na China: é sobretudo a interconexão de colossais interesses privados e públicos norte americanos e chineses que se estabeleceram na praça de Hong Kong que têm “a lança” (e o “lobby”) em África, com os olhos postos no sorvedouro de suas imensas riquezas com contrapartidas que para já são apostadas na reconstrução neste caso de Angola, a preços que ainda não é possível contabilizar totalmente!
Colocar uma bandeira dessas num edifício situado numa zona cara, para estar vazio de há três anos a esta parte, é um luxo das arábias que me parece incomportável a todos os títulos, seja para quem for e muito em especial para Angola!
Resta avaliar se os benefícios, que prodigalizam as novas elites angolanas, serão efectivamente extensos a todo o povo angolano e a outros povos envolvidos nos contenciosos regionais e sul-sul, pois só dessa maneira será possível lutar contra o subdesenvolvimento crónico, promovendo desenvolvimento sustentável e emergência.
Para lá da febre da construção civil em Angola e do esboço inicial de investimentos mais sérios na agricultura, na pecuária, nos transportes e em alguns sectores industriais, o povo angolano está ainda muito longe de beneficiar da distribuição justa da riqueza: os expedientes humanos não acompanham o ritmo dos expedientes que se prendem à economia e finanças, o que contrasta com a gestação das novas elites angolanas segundo a formatação que interessa à aristocracia financeira mundial.
Até este momento, em termos de benefícios para todo o povo angolano, aparentemente está-se muito longe de alcançar um patamar estável com justiça social, cidadania consequente e consciente e participação: corre-se o risco de relegar Angola e África cada vez mais para um neo colonialismo compatível com os parâmetros da própria globalização, conforme ao modelo das democracias representativas e esse facto é o fundamento para os mais variados “jogos africanos” capazes de ingerência e manipulações de toda a ordem por parte dos grandes poderes, quer eles sejam exercidos de forma uni polar, como de forma multi polar, corroendo as intenções de “harmonia”!
Isso comporta um conjunto de riscos para as disputas que se prendem à questão do poder em Angola e os angolanos, sem deixar de expressar as suas opiniões e defender os seus interesses, não podem perder de vista a cultura em busca de equilíbrio, estabilidade e identidade nacional, particularmente quando as portas escancaradas de Angola tendem para relegar para um plano remoto esses interesses!
Alojar interesses elitistas estranhos, que possam minimizar, desprezar, ou prejudicar os interesses da esmagadora maioria dos angolanos, em especial quando isso implica a oportunidade dos que chegam de fora, parece-me um política pouco avisada, com consequências que vão desembocar em tensões e conflitos, mais cedo, ou mais tarde.
É crucial que sejam estabelecidas em Angola estratégias muito mais consistentes de desenvolvimento sustentável, com critérios muito mais justos em relação ao trabalho, à produção, à educação, à saúde e à distribuição da riqueza, de forma a integrar de forma saudável as novas gerações, encaminhando-as para a sua futura afirmação!
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