La Vanguardia, Barcelona – imagem de Kopelnitsky - Presseurop
Até esta semana, Madrid pensou que teria de esperar pelas eleições gregas para receber ajuda para resolver a crise dos bancos nacionais. Mas, agora, o pânico está a aumentar, sem uma solução fácil à vista.
Nos últimos dias, o clima político que rodeia a crise do euro mudou, de forma quase impercetível. De um certo consenso em torno da ideia de que Espanha, no centro da tempestade, não podia esperar nada antes do dia 17, dia em que se realizam as segundas eleições na Grécia após o fracasso dos resultados das primeiras, passou-se para uma noção de que é preciso fazer alguma coisa antes dessa data. Pânico ou simples cautela?
O sintoma mais evidente deste novo ambiente foi a videoconferência de ontem entre os ministros das Finanças do G-7. Um acontecimento pouco comum e que, até agora, sempre prenunciou qualquer tipo de ação concertada dos grandes bancos centrais. E poderia concretizar-se precisamente hoje, dia em que também se reúne o conselho do Banco Central Europeu (BCE), a "grande esperança branca" daqueles que reclamam ações claras em defesa da moeda única.
De pés e mãos atadas
Sobre a Espanha, convergem duas tendências: por um lado, a desconfiança absoluta e crescente dos mercados sobre a sustentabilidade da sua dívida pública, a do Estado, e privada (a dos bancos) e, por outro, uma certa sensação de que a zona euro, que, para efeitos daquilo que se discute por estes dias significa Alemanha, estaria disposta a atuar para evitar o desastre que a queda a pique de Espanha implicaria. Bolsas e divisas oscilam agora, a diferentes horas do dia, consoante o teor dos rumores que inclinam a balança para um lado ou para o outro.
É preciso ordenar as peças. O ministro da Economia, Luis de Guindos, tenta conseguir que a banca seja capitalizada com dinheiro europeu, mas sem uma intervenção no país. Esta última implicaria a aniquilação política do Governo de Mariano Rajoy e um enorme sacrifício para a população, submetida aos ditames dos credores.
A intervenção significaria, em primeiro lugar, que o país ficaria fora do mercado. Para qualquer novo financiamento ou para cobrir qualquer vencimento, a única fonte seria o fundo europeu de resgate, que ditaria ao Governo, sem possibilidade de réplica, todas as decisões económicas. De pés e mãos atados.
Os principais acionistas desse fundo são os países em cujo território se situam os bancos aos quais os seus colegas espanhóis e o Estado devem somas enormes. Como acontece agora na Grécia, o resgate, um dos grandes eufemismos da crise do euro, equivale ao estrangulamento.
É sabido que Atenas não vê um só euro do dinheiro do suposto resgate, porque a quase totalidade deste vai diretamente para os pagamentos aos credores, neste caso o Fundo Monetário Internacional (FMI), o BCE e a Comissão Europeia.
“Os homens de negro não virão”
Contudo, do ponto de vista do credor, as coisas são diferentes. Autorizar um resgate parcial, apenas dos bancos com problemas, pode ser o primeiro passo para se chegar à negociação bilateral das dívidas dessas entidades com os seus credores, sem se poder garantir a cobrança com a mesma segurança que se tem quando está vinculado o conjunto, ou seja, o país onde foi feita uma intervenção.
Por aquilo que dá a entender o Governo espanhol, e pelo que dizem em público os dirigentes alemães, a Alemanha está a ajudar Espanha. Mas, se dermos ouvidos à imprensa internacional e aos correspondentes comunitários, Angela Merkel e o seu ministro Wolfgang Schäuble são os mais interessados em que Madrid aceite o pacote completo: a intervenção em toda a linha. Obama, Hollande e Barroso fazem parte da lista dos que pedem um gesto de Berlim.
Ontem, o ministro do Orçamento, Cristóbal Montoro, fez, no seu estilo leve, a melhor síntese da situação em que o Governo espanhol se encontra. "Os homens de negro não vêm aí", é uma forma divertida de refutar a intervenção. Mas também foi obrigado a reconhecer que, para sanear a banca, é preciso dinheiro e que "o problema é onde ir buscá-lo".
Esta última frase de Montoro talvez ajude a entender a mudança de clima que referimos no início. A Espanha quase não tem acesso aos mercados e, sem a ajuda do BCE e da zona euro, não poderá aguentar-se por muito mais tempo.
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Visto da Polónia
Europa temerosa
“Madrid range os dentes e defende-se contra o ‘pacote de resgate’”, escreve o semanário polaco Tygodnik Powszechny, enquanto os irlandeses, que já estão a beneficiar de ajuda internacional, acabam de aprovar, em referendo, o pacto orçamental, mas simplesmente porque “temem pelo futuro e têm medo de serem abandonados”.
A Espanha e Irlanda estão unidas pelo medo. De um modo geral, o medo é, por estes dias, o sentimento dominante por toda a Europa. Está algures entre o estômago e o coração e, de vez em quando, impede a respiração. Os gregos sentem-no mas também o sentem os espanhóis, os britânicos e os polacos. Até mesmo os alemães – que carregam o fardo da responsabilidade de terem de salvar toda a Europa da crise – perderam, aparentemente, o seu gene da felicidade e também sentem medo.
O medo fez com que, nos últimos quatro anos, os irlandeses fizessem cortes drásticos e todas as poupanças possíveis e, apesar de estarem fartos de austeridade, “não veem outra maneira de sair da crise”, escreve o semanário católico. Entretanto, o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy, insiste teimosamente que Madrid não precisa de ajuda internacional e luta desesperadamente para manter a credibilidade do seu país. No entanto, as suas garantias parecem, cada vez mais, menos convincentes.
Mesmo que o Governo espanhol consiga salvar o Bankia, o jornal Tygodnik Powszechny pergunta-se onde conseguirá encontrar “os mais de 100 mil milhões de euros” necessários para salvar todo o sistema bancário:
O medo do que aconteceu em Espanha já ultrapassou as suas fronteiras – em última análise, a economia espanhola é duas vezes maior do que o conjunto das economias da Grécia, de Portugal e da Irlanda.
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