Paula Melo dos Santos (texto) e Tiago Canhoto (fotos)
Odemira, Beja, 10 jun (Lusa) - Por estes dias, Vila Nova de Milfontes, na costa alentejana, tem mais 181 habitantes, nascidos da mobilização dos habitantes, que, servindo-se dos materiais que tinham mais a jeito, criaram espantalhos para enfeitar as ruas.
Encontram-se médicos, agricultores, surfistas e trovadores, também há piratas ou indigentes, uns estão sérios e outros contentes.
Vê-se espantalhos assim que se chega a esta vila do concelho de Odemira, a acenar aos automobilistas, como que a convidar a entrar.
Depois, percorrendo as ruas, estes bonecos feitos de palha, de trapos, vestidos com roupas de gente ou com materiais reciclados, vão aparecendo às portas de lojas, de cafés, no pátio da escola primária, pendurados de varandas.
Quem não sabe ao que vem, fica surpreendido, como aconteceu a Sílvia Andrés, de Portimão, a passar uns habituais dias de férias em Vila Nova de Milfontes com o marido e a filha, de quatro anos.
"Ficámos surpreendidos, porque não sabíamos, mas está muito giro, é uma forma de atrair turistas", disse à agência Lusa.
O presidente da Junta de Freguesia, José Gabriel, confirmou este espanto dos visitantes, "sobretudo, os estrangeiros", com o fenómeno da terra.
"É vê-los a tirar fotografias com os espantalhos e a quererem saber o porquê", comentou o autarca, para quem "a vila ganhou vida" com esta iniciativa.
A ideia partiu de um empresário da localidade, Paulo Anselmo, que queria "dinamizar e envolver as pessoas".
Conforme confessou à Lusa, "poderia ter sido outro tema", no entanto, os espantalhos têm uma ligação com a história de Vila Nova de Milfontes, pois eram usados nos campos para afugentar os pássaros que atacavam as hortas.
Também contou uma história em que, "no tempo da pirataria", eram utilizadas "figuras, chamadas espanta-corsários, para parecer que havia mais gente na vila", afastando os meliantes.
Hoje, a intenção é outra, servindo os espantalhos para atrair visitantes a esta localidade, por ocasião da Feira de Turismo, que se realiza há seis anos.
Para Hélder Guerreiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Odemira, o sucesso desta iniciativa é "uma grande mais-valia" para o evento, que termina hoje.
Os habitantes, orgulhosos, exibem as suas criações e afirmam que é um acontecimento positivo para a terra.
Maria Maia, 86 anos, ao lado da sua camponesa com mãos de esfregona, disse à Lusa que os espantalhos vieram devolver a Vila Nova de Milfontes a alegria de outrora, em que o povo era mais folião.
À entrada do restaurante junto ao cais fluvial, um empregado de mesa simpático, embora pouco trabalhador, faz Fátima Almeida sorrir com vontade, enquanto dá por bem passado o tempo que gastou a fazer o boneco.
Os 181 espantalhos expostos estiveram a concurso e os vencedores foram escolhidos através de votação na página do Turismo de Odemira no Facebook (onde um dos concorrentes teve mais de 650 votos), no posto de turismo da localidade e de um júri constituído por várias entidades.
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