sábado, 14 de julho de 2012

CPLP REJEITA PRESENÇA DO GOVERNO DOS GOLPISTAS GUINEENSES NA CIMEIRA




MNE guineense: a decisão da CPLP é contraproducente e anti-diálogo e não vai no sentido de resolver os problemas da Guiné-Bissau

Guiné-Bissau, com foto

Faustino Imbali: «Não acredito que a CPLP tenha a competência estatutária de indigitar a representação de um estado membro para uma cimeira»

Bissau - A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) indicou o Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o Presidente da República Raimundo Pereira, ambos depostos a 12 de Abril por um golpe militar, para representarem o país na cimeira da organização lusófona, a ter lugar a 20 de Julho, em Moçambique.

Em resposta, o Governo de Transição da Guiné-Bissau considerou, esta quinta-feira, 12 de Julho, «contraproducente» e «anti-diálogo» a posição assumida pela CPLP.

Seguem as declaração de Faustino Fudut Imbali, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Transição guineense, sobre a decisão da CPLP:

“A nossa posição é clara. Nós lamentamos profundamente esta decisão da CPLP que nós consideramos contraproducente e anti-diálogo e não vai no sentido de resolver os problemas da Guiné-Bissau.

Continuo a dizer que se a CPLP continuar nessa posição, esta a constituir-se o maior entrave à resolução do problema da Guiné-Bissau e não parte da solução porque querer voltar à situação de 11 de Abril, o que é, para nós, uma espécie de querer projectar o país para uma guerra civil e este governo não está interessado nesta situação.

A segunda coisa que se pose questionar é a legalidade dessa decisão, porque não acredito que a CPLP tenha a competência estatutária de indigitar a representação de um estado membro para uma cimeira. Portanto esta é uma questão para ver.

Mas, o mais importante de tudo isto é que este governo tem muita responsabilidade, tem muita coisa para fazer. O povo espera muito deste governo, o mais rápido possível é não queremos ser distraídos pelas questões que pensamos com o tempo vão se resolver.

Dizer que só tomam parte da cimeira dirigentes eleitos, isto pode-se questionar. Agora, eu vou repetir mais uma vez: este governo – eu quero que isto fique claro uma vez por todas – este governo não é, mais uma vez, um produto de golpe de estado. Este governo é o produto da comunidade internacional. Agora que não seja toda a comunidade internacional, nós concordamos. Este é o caso que acontece com os outros conflitos. Eu dou sempre o exemplo da Síria onde, neste momento, não há unanimidade da posição da comunidade internacional.

Portanto, eu repito mais uma vez, a CPLP deveria ser a organização que deveria mediar a situação entre a Guiné-Bissau e outras instituições porque a CPLP não é apeans uma organização onde a Guiné-Bissau faça parte, mas sobretudo porque são irmãos e conhecem os problemas da Guiné-Bissau desde a luta de libertação nacional, até agora. Portanto, estariam em melhor posição para arbitrar e para negociar, se for necessário, sobre a questão da Guiné-Bissau.

Sobre a posição da CPLP de evocar a “tolerância zero” para defender o convite a Raimundo Pereira e a Carlos Gomes Júnior:

Nós lamentamos profundamente que neste momento a CPLP esteja a posicionar-se como o maior obstaculo à estabilização total da Guiné-Bissau. Nós não podemos voltar à situação de 11 de Abril. É totalmente impossível e quero que isto fique claro, nesta pátria de Cabral não é possível. Ninguém está disposto de semear conflitos de extensões sociais de guerra civil.

Sobre a Presidência de Moçambique:

Eu enviei uma carta ao meu homólogo que ainda não chegou para lhe felicitar e para lhe manifestar a nossa intenção de que com a República de Moçambique à testa da CPLP, possamos encontrar o caminho de diálogo que sempre nos pautamos para que seja a única via para a resolução dos problemas da Guiné-Bissau. Esperamos que com esta presidência, esta realidade se concretize.

Sobre uma eventual retirada da Guiné-Bissau da CPLP:

A Guiné-Bissau é um membro com plenos direitos dentro da CPLP. Portanto, esta questão não se coloca, porque o problema do convite – eu quero que fique claro, o problema do convite de quem vai, e de quem é legal, este é um problema da CPLP, não é um problema da Guiné-Bissau, enquanto um estado membro. É bom que isto fique claro, se a CPLP tem uma dúvida, tem uma dificuldade, é dela, não nossa.

Este é um governo legal, este é um governo, como eu disse, que controla as fronteiras da Guiné-Bissau, que cobre e paga os impostos. É este o governo que indigita os embaixadores. Este é um governo legal. Portanto, quem tenha problema talvez seja a CPLP.

Sobre balanço que faz da presença da Guiné-Bissau na CPLP:

O balanço até aqui foi sempre positivo. A Guiné-Bissau é um estado membro que sempre participou em todas as comissões e em todas as reuniões. A Guiné-Bissau já acolheu a cimeira aqui onde estiveram presentes todos os chefes de estado. A nossa presença é positiva e queremos que isto continue.

Mas, lamentamos profundamente, porque gostaríamos de ter os nossos irmãos ao nosso lado, neste momento difícil que a Guiné-Bissau enfrenta.

Sobre a importância da CPLP vis-à-vis afirmações de que se tratasse apenas de um fórum cultural:

O que importante é que neste momento estamos a falar a língua portuguesa, a única coisa que nos une e que é extremamente importante. Por exemplo, a Guiné-Bissau e o Timor Leste têm milhas e milhas de distância e a única coisa que nos une é o português. Portanto, é importante no ponto de vista cultural. A CPLP tem dado provas com acções extremamente importantes nesse sentido.

Como eu disse, unir um país como a Guiné-Bissau com o Timor Leste, com Moçambique, é um factor a louvar e isto foi graças à CPLP, isto graças à língua comum que nós falamos que é o português.

Portanto, este facto só em si é importante, sem falar doutros aspectos da cooperação”.


*Título PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana