sexta-feira, 13 de julho de 2012

Moçambique: O PAÍS QUE ESTÁ A CONQUISTAR O MUNDO



Isabel Tavares – i online, publicado em 26 Mar 2012

A avalancha de estrangeiros está a levar as autoridades a apertar o cerco. Maputo é hoje 30% mais cara que Portugal

O ambiente de negócios em Moçambique deverá garantir ao país um crescimento médio anual de 7,7% até 2015 – um dos mais altos do mundo. As exportações portuguesas para este mercado duplicaram nos últimos dez anos e em 2011 as vendas aumentaram 44,4% face a 2010.

Mas Moçambique é um colosso também para outras nações. No ano passado, Portugal perdeu a posição de primeiro investidor e foi ultrapassado pela China e pela África do Sul. Agora, a ofensiva vem do Brasil e todos os meses a presidente Dilma Rousseff tem um dos seus ministros em missão oficial no país para mostrar que “o negócio é sério”.

Estima-se que 20 mil portugueses vivam actualmente em Maputo. O custo de vida disparou, sobretudo nos últimos dois anos, e quem lá está diz que se está a assistir à “luandização” da capital moçambicana, consequência da avalancha de estrangeiros registada nos últimos tempos.

Em dois anos, os preços aumentaram 50%, 100% em alguns casos. Em 2005, o custo de vida em Maputo era cerca de 70% inferior ao custo de vida em Portugal. Hoje, com a valorização do metical face ao euro e ao dólar americano, viver na capital da Pérola do Índico é 30% mais caro do que viver em Lisboa ou no Porto.

A taxa de imigração levou as autoridades moçambicanas a serem mais rigorosas na atribuição de vistos de turismo. Para confirmar a viagem em lazer, os turistas terão agora de apresentar um comprovativo de estada, ou seja, da morada onde vão ficar alojados, particular ou hotel. A lei sempre existiu, mas será agora aplicada com mais zelo. Fonte oficial afirmou que houve uma “alteração de circunstâncias” que levou à necessidade de “controlar fronteiras e fluxos migratórios”.

Um indicador que espelha o cenário que se vive em Maputo é o tráfego automóvel. Hoje, todos têm carro, dos mais pobres – 95% da população –, aos mais ricos. Um automóvel pode ser adquirido por menos de 800 euros, mesmo que isso signifique um depósito com um euro de gasolina ou não ter dinheiro para o seguro e para a inspecção, ambos obrigatórios. Um bom carro pode custar entre 3500 e 7500 euros.

Os engarrafamentos são de tal forma que o governo quer alternar os horários de funcionamento dos diversos sectores de actividade para descongestionar o trânsito nas maiores cidades do país. O anúncio foi feito na última quarta-feira pelo Ministério dos Transportes e Comunicações, durante a sessão da Comissão Consultiva do Trabalho, que congrega patronato, sindicatos e governo. A vice--ministra dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Manuela Rebelo, disse que vai articular com o Ministério do Trabalho a introdução de horários diferenciados: “Já começámos a trabalhar com alguns bancos para ouvir as suas sensibilidades. Concluída esta fase, vamos fundamentar a nossa proposta, que remeteremos ao Ministério do Trabalho.”

As oportunidades começaram por ser criadas à volta de megaprojectos como o da Vale do Rio Doce ou da Riversdale, na área dos recursos naturais, mas muitos outros se seguiram. As empresas portuguesas também estão presentes. A Galp, com um dos maiores achados dos últimos tempos, a reserva de gás natural de Rovuma, ou a Portucel, que finalmente recebeu luz verde para o direito de utilização de 500 mil hectares de terra em Manica e Zambézia. Mas há muitos mais.

Talvez por isso o Fundo Monetário Internacional (FMI) tenha vindo defender que Moçambique deve ser mais eficiente na tributação do capital das multinacionais envolvidas na exploração dos seus recursos naturais, para gerar benefícios económicos e sociais para o país.

A actividade mineira é actualmente o catalisador da economia nacional, através da criação de empregos e da geração de receitas. A procura internacional de carvão, areias pesadas e hidrocarbonetos, entre outros minerais de valor comercial, associada à existência de um mapeamento geológico e a um ambiente macroeconómico favorável, têm sido determinantes.

O projecto de carvão de Moatize marca o início da exploração mineira de carvão em grande escala. Foram investidos 1,26 mil milhões de dólares e criaram-se 6130 postos de trabalho, de acordo com informação do executivo de Aires Ali, prestadas ao parlamento moçambicano na semana passada. A expectativa do governo é de produzir 26 milhões de toneladas a partir de 2014. O projecto de Benga, província de Tete, com um investimento de 849 milhões de dólares, deverá iniciar a produção ainda este mês e já empregou 3 mil trabalhadores.
Os investimentos nos sectores agrícola, mineiro e metalúrgico permitiram um crescimento do PIB de quase 8% e contribuíram para a criação de 1,12 milhões de novos empregos.
Hoje, e de acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, liderado por Paulo Portas, são cerca de 1520 as empresas portuguesas que apostam em Moçambique como mercado para as suas exportações.

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