Congresso será
"à medida de Armando Guebuza" - analista
21 de Setembro de
2012, 09:29
Maputo, 21 set
(Lusa) - O jornalista e analista Lázaro Mabunda considera que o X Congresso da
Frelimo, partido no poder em Moçambique, será "à medida" do seu
Presidente, Armando Guebuza, e servirá de plataforma para ele se manter no
poder.
A Frelimo (Frente
de Libertação de Moçambique), no poder há mais de 37 anos, realiza o X
Congresso de 23 a 28 de setembro em Pemba, norte do país, e nele serão eleitos
o presidente do partido, o Comité Central e a Comissão Política.
Para Lázaro
Mabunda, editor do diário O País e analista político, com base nas declarações
dos dirigentes do partido, principalmente do secretário-geral, Filipe Paúnde, a
reeleição de Armando Guebuza na presidência da Frelimo "será um problema
menor ou mesmo um não problema para o Congresso", por já estar garantida.
"A continuação
de Armando Guebuza na presidência do partido está na lógica da solução de
estabilidade governativa até ao fim do seu segundo mandato em 2014. Como ele é
Presidente da República até 2014, não vai querer um presidente do partido que
não seja ele", observa Lázaro Mabunda.
Ao dar indicações
de que Armando Guebuza deve manter-se na presidência do partido até 2014, a
direção da Frelimo quer influenciar o Congresso de Pemba a manter a tradição de
o chefe de Estado oriundo desta formação política ser igualmente presidente do
partido, para se evitar "um chefe de Estado cosmético, que recebe ordens
do presidente" do partido.
"Joaquim
Chissano teve de renunciar à presidência do partido em 2005, quando Armando
Guebuza ascendeu à Presidência da República, para se evitar uma situação de
dois centros de poder", recorda o jornalista.
Contudo, assinala
Lázaro Mabunda, o principal receio é que Armando Guebuza se mantenha na
presidência do partido para além de 2014, "ofuscando" um Presidente
da República da Frelimo, caso o partido vença as eleições presidenciais desse
ano, como é provável.
"Guebuza pode
querer continuar na Presidência por via da presidência do partido, porque os
estatutos da Frelimo dão poder ao presidente do partido sobre o Presidente da
República, que seja do partido, e sobre o Governo", enfatiza o jornalista.
Mabunda considera
que a alegada pretensão do atual chefe de Estado de querer alterar a
Constituição para conseguir um terceiro mandato, projeto entretanto gorado, aumenta
o receio de que Armando Guebuza pode não abdicar da direção do partido, para
manter a influência sobre a governação.
"Há muitos
interesses em jogo para que ele queira continuar no poder. O controlo dos
recursos naturais que estão a ser descobertos faz-se através do controlo
político e ele tem interesses empresariais", considera Lázaro Mabunda.
Para o editor do
diário O País e analista, a influência que Armando Guebuza tem sobre as bases
do partido e sobre a preparação do Congresso criou condições para que este seja
realizado à sua medida.
"Acho que vai
ser um Congresso favorável a Guebuza. A máquina partidária ao nível das bases é
leal ao Presidente. Será contestado ao nível dos quadros do topo, mas terá o
apoio das bases, que são a maioria", antevê.
E os apoios no
Congresso de Pemba vão determinar qual das principais tendências internas
consegue colocar os seus apoiantes no Comité Central e na Comissão Política e
construir uma composição que lhe será favorável na indicação do seu candidato à
Presidência da República, explica.
"Ao nível do
aparelho partidário, Armando Guebuza parte em vantagem. Dependerá mais do seu
bom senso, se respeita ou não a tradição de a Frelimo ter um Presidente da
República que é também presidente do partido e assim evitar conflitos entre
esses dois centros de poder", frisa Lázaro Mabunda.
PMA
"Força do
partido" impede a personalização -- politóloga portuguesa
21 de Setembro de
2012, 09:29
Pemba, 21 set
(Lusa) - A "força das estruturas" da Frelimo impede a personalização
do partido e uma situação idêntica à da Rússia, com "alternância combinada
de poder", defendeu, em entrevista à Lusa, Elisabete Azevedo, professora
nas universidades católicas portuguesa e moçambicana.
O cenário de um
duplo poder, com o futuro Presidente da República submetido ao comité central
da Frelimo, controlado pelo atual chefe de Estado, Armando Guebuza, domina a
discussão política no país, na véspera do X Congresso do partido no poder em
Moçambique.
"Até agora, o
Presidente da República, independentemente de quem ocupou o cargo, pelo desenho
constitucional "não deve obediência" a nenhuma instituição politica a
não ser ao eleitorado no final do mandato, em caso de uma recandidatura",
começou por dizer a politóloga portuguesa.
"A Frelimo já
teve várias lideranças, o que tem reforçado as estruturas do partido e evitado
a "personalização" do partido, acrescentou Elisabete Azevedo, que
rejeitou qualquer comparação com o atual modelo russo de "alternância
combinada" de poder.
"A situação
talvez mais parecida terá sido a de Thabo Mbeki, em 2007, que, também na
impossibilidade de se recandidatar à Presidência sul-africana, candidatou-se,
em 2007, à liderança do ANC. No entanto, esta comparação parece não ser válida
no seu resultado, uma vez que Mbeki foi derrotado no congresso enquanto tudo
indica que tal não acontecerá no congresso da Frelimo", defendeu a
académica.
Armando Guebuza,
impedido constitucionalmente de se recandidatar à Presidência da República, em
2014, é o candidato à sua sucessão na liderança da Frelimo, no X Congresso do
partido que arranca no domingo em Pemba, no norte do país.
Pelos estatutos
partidários, é o comité central que orienta o governo do país, dirigido pelo
Presidente da República, no caso de este ser oriundo do partido, o cenário mais
provável para o desfecho das eleições de 2014.
Essa possibilidade
tem levantado questões por parte de setores da sociedade moçambicana que
consideram que Guebuza, mesmo abandonando a Ponta Vermelha (residência dos
presidentes moçambicanos) controlará o seu sucessor, reforçando o seu poder,
cenário que a politóloga portuguesa rejeitou.
"Recordo que
já em 1986, durante o sistema monopartidário, quando o partido poderia ter tido
a tal "personalização", com a forte liderança de Samora Machel, a
assembleia monopartidária na altura, Assembleia Popular, decidiu que Samora não
podia continuar a ser Presidente da República e presidente da Assembleia
Popular", justificou Elisabete Azevedo.
LAS
*O título nos
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