Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Vítor Gaspar estará
hoje no Conselho de Estado. O seu chefe, o primeiro-ministro, também. Este
estranho episódio tem merecido pouca atenção. Na versão bondosa, parte-se do
princípio que lá estará para explicar aos conselheiros o inexplicável. Na
versão maldosa, acha-se que lá estará para servir de saco de boxe dos
conselheiros. Na verdade, para as duas nobres funções bastaria Passos Coelho. A
ida do subordinado, ao lado do seu superior hierárquico, ao Conselho de Estado merece-me
outra leitura: o Presidente da República quer, para além de desautorizar
publicamente o primeiro-ministro, passar a ideia de que é ele, com os sábios da
Nação e dirigindo o ministro das Finanças, que encontrará a saída para o
imbróglio do governo. O primeiro-ministro assiste da bancada e aprende como se
faz política.
Prevejo que não é
desta que o governo cai. Prevejo que a solução encontrada para a TSU será uma
aldrabice pegada, que transforma o assalto à mão armada em assalto por esticão.
Mas fazer previsões, nesta altura, é demasiado arriscado. Uma coisa é certa: se
o governo sobreviver a esta crise será um governo duplamente enfraquecido.
Enfraquecido pelas manifestações, pelas sondagens e pelos confrontos internos
no governo e no PSD. Mas também enfraquecido pela tutela do Presidente, que
assim recupera o papel que a sua inédita impopularidade lhe tinha tirado.
Se Cavaco Silva
conseguir o que quer, abre um precedente. Passos Coelho passará a governar
condicionado pela sua proteção ou castigo, com os seus ministros a responder
perante ele e o Presidente. A jogada parece de mestre. Mas é arriscada. Ao
envolver-se de forma tão descarada nos assuntos do governo Cavaco passa a ser
de alguma forma solidário com as suas decisões. É o que quer?
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