José Manuel Durão
Barroso, Herman Van Rompuy e agora um grupo de onze ministros dos Negócios
Estrangeiros: na UE, todos parecem propor uma maior integração como forma de
sair da crise. Mas a Grã-Bretanha continua renitente e o fosso pode em breve
tornar-se intransponível, escreve o editor de política europeia do Guardian.
Não há como saber
onde e como tudo vai parar. Mas é claro, a cada semana que passa sobre a maior
crise da Europa, que a Grã-Bretanha e o resto da UE estão a avançar em direções
completamente diferentes.
Concentrada em
quase três anos de crise do euro, há meses que Berlim vem pedindo a revisão dos
tratados da União Europeia, de modo a facilitar uma maior partilha, ou
capitulação – dependendo do ponto de vista –, das soberanias nacionais, com
vista à viabilização de uma zona euro federalizada. Isso corresponderia a um
governo central europeu abrangendo 17 países, com prerrogativas fiscais e sobre
as despesas nacionais. A Grã-Bretanha está completamente fora desse cenário.
Na semana passada,
a Comissão Europeia alinhou com o plano alemão, que desbloqueou a problemática
legislação europeia de modo a colocar o Banco Central Europeu no controlo do
setor bancário da zona euro. A Grã-Bretanha também não terá parte nisso.
Na terça-feira [18
de setembro], o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros alargou a federalização
da política económica às relações internacionais e à defesa, juntamente com dez
outros ministros da UE, cuidadosamente escolhidos para refletir o pensamento
dominante europeu não-britânico – países pequenos e grandes, membros da moeda
única e fora dela, Estados do núcleo ocidental e novos integrantes provenientes
do leste europeu. Espera-se que o
consenso desses onze países alastre à maioria dos 27 Estados da UE. A
Grã-Bretanha também se mantém isolada neste domínio. Os onze incluem a Alemanha
e a França, os grandes, além da Itália, Espanha e Polónia – os maiores países
da UE depois da Grã-Bretanha.
Em suma, o
isolamento da Grã-Bretanha torna-se mais firme, com o fosso do Canal a
ampliar-se e a tornar-se menos transponível. Com mais pena do que raiva.
Alianças isoladas e
pontuais na Europa
Há um amplo apoio e
simpatia na Europa pelo papel da Grã-Bretanha, pela qualidade dos seus
contributos para as políticas externa, de segurança e de defesa, pelo seu
liberalismo pragmático, pelo seu papel na defesa da liberdade dentro do mercado
único, pelo seu instinto antiprotecionista, pela qualidade relativa do seu cada
vez menor exército de eurocratas.
Mas há também
exasperação com a negatividade, a falta de espírito de equipa, a aparente
determinação em explorar o maior dilema de sempre da Europa para fins nacionais
ou mesmo político-partidários.
Torna-se cada vez
mais difícil para Londres construir mais do que alianças ad hoc, isoladas e
pontuais na Europa. A Polónia, por exemplo, foi uma força motriz das propostas
radicais de política externa e de segurança da passada terça-feira. Até há
alguns anos, era um aliado natural dos britânicos em contexto europeu. Não
devia nada à França, visto Paris ter justamente encarado a expansão da UE para
o leste europeu como um contributo nulo, que apenas diluía a influência
francesa. E a história ditava que Varsóvia devia ser cautelosa em relação a
Berlim. Mas, entretanto, desistiu da Grã-Bretanha, considerando que o interesse
nacional a impele a estabelecer um propósito comum com a Alemanha.
Quanto ao euro e
sobre uma futura federação política aberta da zona euro, ainda subsistem
grandes diferenças entre os principais países da UE e fundamentalmente entre a
Alemanha e a França, quanto à transferência de competências nacionais para as
instituições europeias. Há coisas que nunca mudam. Mas não se trata de uma
deriva total, antes de uma discussão sobre a fixação dos termos da aproximação.
Um processo político em que a Grã-Bretanha assume cada vez mais o papel de
observador externo.
Todos os indícios,
debates e lógica apontam para que os tratados europeus sejam reabertos dentro
de um ano para aperfeiçoamento, de modo a possibilitar a transferência de mais
poderes soberanos nacionais para Bruxelas. O que está em causa é demasiado
importante para contemplar os problemas de David Cameron. Ou ele consegue
renegociar os termos da adesão do Reino Unido – e não lhe devem muitos favores
– ou vai ter de fazer um referendo aos britânicos. Vista de Bruxelas, a questão
não é tanto se vai haver um referendo, mas qual a pergunta a ser impressa no
boletim de voto.
- Traduzido do inglês
por Ana Cardoso Pires
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